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O Ferra marca a primeira investida de Sahyoun na gastronomia, ainda que ele mantenha os pés na moda: com a sócia, Luciana Arcangeli, mantém desde 2014 a Mini U.S., marca de roupa infantil que hoje tem oito lojas. Em meio às obras, o empresário sentou-se com a Forbes para falar do novo negócio e dar conselhos a quem, como ele, não conseguiria viver sem empreender.
Tico Sahyoun: A importância de fazer algo que traga prazer. Restaurante é algo novo para mim, mas tenho esse background de relacionamento, que no fim das contas é algo em comum com a moda. Vejo gente reclamando de começar a semana. Quem ama o que faz, não odeia segundas-feiras. Eu trabalho todos os dias com um tesão violento. Também é importante não se assustar com os impostos altos do país em que a gente vive, não desanimar com os nãos que surgirem no caminho – eles aparecem, e são muitos. Tenha em mente também que muita gente acertou seu projeto somente depois dos 40 anos, e que pode ser assim para você também.
F: Diante de muitos “nãos”, que postura se deve ter?
TS: É importante avaliar a razão daquela negativa. Talvez haja algo errado, sim, com seu projeto. Mas que pode ser resolvido com alterações. Agora, se for algo bem pensado, claramente definido e estudado, vale batalhar até aquele “não” virar um “sim”. O que é outro tesão que tenho.
TS: Sim, mas não o único. Porque eu recomeço toda hora. Participei da criação de três marcas de moda que depois foram vendidas para grandes grupos. Em 2014, com a Luciana Arcangeli, abri uma marca infantil, a Mini U.S., que atualmente tem oito lojas. Também tenho sociedade com o [ex-jogador de futebol] Caio Ribeiro num evento que proporciona aprendizados para pais e filhos por meio do futebol, o Caioba Soccer Camp.
F: Como funciona?
TS: Num fim de semana, levamos mais de mil pessoas para atividades ligadas ao futebol no Club Med Lake Paradise, em Mogi das Cruzes. Ali, os participantes batem bola com Zico, Kaká e outros ídolos. Não necessariamente para virarem jogadores, mas para assimilar valores do esporte.
TS: Sou de família libanesa que empreende há muito tempo. Quando eu tinha 15 anos, meu pai desfez uma sociedade e me convocou. Trabalhei como estoquista, caixa, vendedor e gerente. Ele me demitiu cinco vezes ao longo dos anos em que trabalhamos juntos.
F: Por quê?
TS: Quando a gente é moleque, não vê que tem que aprender com quem está por perto.
TS: Na moda, precisava, o tempo todo, me mexer para fazer as coisas acontecerem, encontrar alternativas. Isso acho que vale também para a atividade num restaurante. Além disso, a moda me trouxe amplitude. Em cada viagem de pesquisa que fazia para meu trabalho na Bob Store, conhecia museus, lojas, shoppings… Entrava em tudo, olhava. Isso vira um repertório que segue comigo.
F: Expandir os horizontes pessoais também é uma forma de empreender, então?
TS: Com certeza. Sou um cara muito curioso, e com o tempo entendi que estava cercado de gente que sabe mais que eu. Pratico o princípio de que temos dois ouvidos e apenas uma boca porque devemos falar menos: a convivência com quem tem expertise numa área tem que ser vista como oportunidade. Andava com caras gigantes do mercado, me metia em cursos, ligava para amigos que já estavam no ramo. Uso muito café, almoço e jantar para negócios. Até me sentir mais pronto para discutir de igual para igual. Ao montar o restaurante, por exemplo, acompanhei atentamente o trabalho do sommelier e agora sei muito mais a respeito de vinhos do que quando iniciei essa empreitada.
TS: Precisa descobrir uma maneira de criar suas próprias oportunidades, de cavar seu caminho. Criei com dois amigos [o empresário Bruno Van Enck, da Barbearia Corleone, e Davi Correia, repórter do UFC] um grupo chamado Phodase. A cada mês, chamamos um empresário peso-pesado, que dá palestra e tira dúvidas de uma plateia de trinta empreendedores como nós. Recebemos o Paulo Kakinoff, da Gol, e o Caíto Maia, da Chilli Beans.
F: Você acredita na máxima de que o que engorda o boi é o olho do dono?
F: O que isso quer dizer?
TS: Em vez de meu tempo de estrada me fazer trabalhar menos, acontece justamente o contrário. Com vinte e cinco anos de experiência, a carga horária não diminuiu.
F: Não tem medo de ter um piripaque em pleno trabalho?
F: Abrir um negócio dificilmente significa retorno imediato do investimento. Como se preparar?
TS: Demora muito a vir a grana mesmo. O mercado não responde depressa, você trabalha muito e num ambiente em que toda a cadeia produtiva é muito difícil. É China, é dólar, é fornecedor brasileiro… Não é simples. É necessário ter um bom planejamento financeiro ou mostrar a investidores que seu produto tem potencial. Se alguém acredita e entra com você, pode te dar uma calma nos primeiros 24 meses.
F: Como escolheram o nome Ferra para o restaurante?
F: Que tipo de comida vão servir?
TS: Nossa ideia é aproveitar o melhor momento de determinados ingredientes, vendidos por fornecedores do país inteiro. Se a época de pescado de Santa Catarina ou de camarão vindo do Pará for excepcional, por exemplo. Teremos um menu mar, um menu pasto e um menu terra. Vamos combinar a culinária brasileira com a vivência que nosso chef e sócio, João Alcântara, teve nos melhores restaurantes de países como Portugal e Espanha.
F: Pretendem abrir para almoço e jantar?
F: Em quê?
TS: Vamos ter DJ tocando, montamos um bar externo com pegada forte de coquetelaria e contratamos a bartender classificada como melhor de 2018 pela Diageo, a Adriana Pino. Ela que montou a carta. Nossa adega também é um diferencial, com mais de mil rótulos.
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