O bilionário no comando da marca Victoria’s Secret, Les Wexner, formou-se na Universidade Estadual de Ohio em 1959. Ele não estudou em Harvard, mas, em 1989, começou a doar anualmente para a universidade mais bem classificada do país uma quantia entre US$ 1,5 milhão e US$ 2,1 milhões, de 2003 a 2012.
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Em 2013, a fundação de caridade de Wexner realizou uma doação ainda maior, de US$ 8,5 milhões, que havia sido planejada há muito tempo. No mesmo ano, o filho mais velho do executivo começou a estudar em Harvard.
As doações continuaram. Sua fundação concedeu US$ 26 milhões para a entidade em 2014, US$ 7 milhões em 2015 e US$ 14,5 milhões em 2016. Os outros três filhos de Wexner se matricularam na universidade nos anos de 2014, 2015 e 2017. Seus filhos não são preguiçosos – um é esportista e participa da liga universitária Ivy League, outro está cursando pós-graduação em Educação (em Harvard) e o terceiro está na Kennedy School of Government, escola de Administração e Políticas Públicas, também em Harvard.
Mas, no ambiente ultra-competitivo da Ivy League, por exemplo, onde mesmo os alunos mais qualificados podem ser rejeitados, ter o sobrenome Wexner pode cair muito bem.
As transferências em dinheiro de Wexner exemplificam um comportamento comum dos bilionários. Há gerações, os norte-americanos mais abastados ajudam seus filhos a entrar nas melhores universidades, utilizando seu legado e seu dinheiro e sem infringir a lei – diferentemente do recente escândalo de admissões em universidades.
Talvez um dos maiores exemplos deste cenário é o que envolve um membro da família do presidente norte-americano Donald Trump. Em 1998, o magnata imobiliário Charles Kushner, formado pela Universidade de Nova York, prometeu US$ 2,5 milhões para Harvard antes de seu filho Jared Kushner, que agora é conselheiro sênior de Trump, ser admitido na universidade. O episódio de Kushner foi relatado pela primeira vez pelo jornalista Daniel Golden, que escreveu o livro “Price of Admission” (sem tradução para o português), que fala sobre como os ricos “compram” a entrada de seus filhos nas instituições acadêmicas mais elitistas dos Estados Unidos. A família Kushner nega a alegação.
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“Os sistemas de admissão de faculdades, que favorecem doadores, são a versão legal e mais polida do que foi exposto no escândalo das admissões”, diz Richard Kahlenberg, pesquisador sênior da Century Foundation, que estuda a desigualdade no Ensino Superior.
É difícil saber até que ponto a riqueza dos bilionários ajudou seus filhos ou netos a serem aceitos, mas certamente é algo a ser considerado. Há muitos exemplos de filhos que frequentam as mesmas escolas de elite que seus pais e até avós. A família de Stephen Mandel, investidor e gestor de fundos hedge, tem laços quase centenários com o Dartmouth College. Seu avô estudou na instituição na década de 1920, seu pai na década de 1950. Já Stephen se formou em Dartmouth em 1978, presidiu o Conselho de Administração e foi co-presidente da “Campanha pela Experiência em Dartmouth”, que arrecadou US$ 1,3 bilhão em fundos para renovar as instalações da universidade. Diz a lenda que ele ainda chegou a nomear sua empresa de investimentos, a Lone Pine Capital (“lone pine” significa “pinheiro solitário” em português), em homenagem a um pinheiro que, em 1887, sobreviveu a um raio no campus da faculdade. Portanto, não é surpresa que dois de seus três filhos tenham estudado na instituição.
Outro exemplo é John Arrillaga, magnata imobiliário do Vale do Silício, que se formou na Universidade de Stanford em 1960. Sua filha também estudou na instituição e se formou em 1992, e, posteriormente, o executivo realizou uma doação de US$ 100 milhões, em 2006, e US$ 151 milhões, em 2013.
O desenvolvedor imobiliário Rick Caruso também tem laços de décadas com a Universidade do Sul da Califórnia, muito antes de seus filhos participarem. Quando o escândalo estourou no último dia 12, foi noticiado que Olivia Jade, cuja mãe e pai foram acusados de suborno no esquema de admissões, estava no iate de Caruso com sua filha, Gianna, também caloura da USC.
Hank Caruso, pai de Rick e fundador da empresa de aluguel de carros Dollar Rent-A-Car, estudou na USC, mas desistiu para servir na marinha durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1980, Rick se formou em Administração. Todos os seus quatro filhos estudaram ou estão estudando na universidade, e seu sobrenome é homenageado por dois prédios do campus.
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De acordo com documentos públicos, Caruso começou a doar para a USC em 1992, quando US$ 2,5 mil foram destinados à universidade. Em 2006, ele doou US$ 1 milhão para a Comunidade Católica da USC e, em 2015, prometeu mais US$ 25 milhões. Em 2018, mesmo ano em que se tornou presidente do Conselho de Administração da Universidade do Sul da Califórnia, Caruso doou aproximadamente US$ 2 milhões, e sua filha mais nova, Gianna, começou a estudar na universidade. No total, a fundação de Caruso doou US$ 15,8 milhões para a instituição acadêmica e prometeu US$ 26 milhões adicionais.
Já a família Perelman está profundamente ligada à Universidade da Pensilvânia. O investidor Ray Perelman doou, pelo menos, US$ 250 milhões para a instituição, incluindo US$ 225 milhões para a sua Escola de Medicina em 2011. Muitos dos filhos e netos de Ray passaram a frequentá-la, incluindo seu filho Ron Perelman, que atualmente tem uma fortuna estimada em US$ 9,1 bilhões e foi prestigiado pelo recém-inaugurado prédio de Ciência Política e Economia.
Outro ex-bilionário ligado à Universidade da Pensilvânia é o falecido Jon Huntsman, um dos maiores benfeitores da Wharton School of Business, de Administração. O edifício Huntsman Hall, da Wharton, é um dos maiores edifícios do campus da Pensilvânia, e o currículo de estudos acadêmicos da International Studies & Business também tem uma homenagem a ele, que doou mais de US$ 10 milhões em 1997 para seu lançamento. Seus filhos Jon Jr. (atual embaixador dos Estados Unidos na Rússia) e David se formaram na Faculdade de Artes e Ciências da Pensilvânia em 1987 e 1992, respectivamente. Seu outro filho, Paul, concluiu o programa de pós-graduação da Wharton em 2000, quando o pai ainda estava no Conselho de Supervisores da escola. Além de três de seus nove filhos, os sogros e três netos frequentaram a Penn.
Universidades como Harvard, que tem ex-alunos bilionários como o ex-CEO da Microsoft, Steve Ballmer, e o cofundador do Airbnb, Nathan Blecharczyk, admitem que existe uma certa vantagem diante do resto da população. Em declaração oficial, Harvard divulgou que 29% dos alunos admitidos são atletas recrutados, filhos de graduados, candidatos das listas do reitor ou do diretor (que podem incluir candidatos cujos pais são doadores) e filhos do corpo docente e de funcionários.
Mas até que ponto as doações – ou o potencial para doações – aumentam a probabilidade de um aluno ser admitido? De acordo com Mandee Heller Adler, fundadora da consultoria International College Counselors, que já trabalhou com executivos bilionários e milionários sobre como seus filhos poderiam ingressar na faculdade, a riqueza é um dos muitos fatores.
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“É um grande componente. Uma inscrição menos competitiva pode se tornar uma admissão se vier de um determinado público-alvo de doadores”, diz.
No entanto, nem todas diretrizes são jogadas pela janela quando a inscrição do filho de um bilionário é enviada. A consultora diz que trabalhou com famílias ricas cujos filhos foram rejeitados por causa de resultados desfavoráveis nas provas. Ela contesta a afirmação de que famílias ricas podem comprar a admissão de seus filhos em escolas de elite.
“As escolas precisam do dinheiro, mas podem não precisar do seu dinheiro”, afirma. “Eles não estão vendendo pontos para quem der o maior lance.”
Em outubro de 2018, Harvard defendeu-se em um tribunal federal contra acusações de que discrimina candidatos asiáticos, argumentando que a instituição usa cotas raciais para criar uma classe diversa. O processo, que foi apresentado pela organização sem fins lucrativos Students for Fair Admissions em 2014, abre a discussão sobre os segredos muitas vezes indescritíveis de como Harvard decide quem entra e quem não entra. (A decisão do julgamento está marcada para o próximo verão no Hemisfério Norte.)
Um dos aspectos mais reveladores do caso surgiu com a troca de e-mails entre David Ellwood, que era chefe da Kennedy School of Government de Harvard, e o decano de admissões William Fitzsimmons.
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Em um e-mail de 2013, com o assunto “Meu Herói”, Ellwood escreveu para Fitzsimmons dizendo que havia “feito maravilhas” ao admitir um aluno cujos pais “haviam se comprometido com um prédio”. Outros dois estudantes admitidos em Harvard haviam se “comprometido com grandes quantias para bolsas antes da decisão do reitor”.
Os e-mails mostram claramente a relação entre Harvard e os legados de candidatos e mega-doadores.
“O suborno que vimos emergir das acusações recentes é uma versão mais grosseira do que acontece diariamente em faculdades elitistas”, diz Richard Kahlenberg, da Century Foundation, que também serviu como testemunha durante o julgamento de 2018. “As universidades usam o fato de terem determinado diferencial, algo de valor que as pessoas querem, para que os doadores deem dinheiro para acessá-lo.”
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