A Loggi está aumentando sua área de políticas públicas para garantir a criação de regulamentações que apoiem os planos de expansão nacional da empresa.
A startup de US$ 1 bilhão, cuja operação atende à demanda logística do crescente e-commerce brasileiro, recentemente contratou Vítor Magnani para liderar a área. Contratações adicionais para apoiar os planos de expansão já estão em andamento.
Anteriormente responsável pela área de políticas públicas do iFood, Magnani é presidente da Associação Brasileira Online to Offline, que reúne diversas plataformas de intermediação como 99, Mercado Pago e Tembici.
Segundo Grégoire Balasko, chief financial officer (CFO) da Loggi, a contratação é reflexo das intenções da startup de intensificar sua participação nos principais debates públicos, armada de dados e pesquisas sobre seu impacto na sociedade.
“A área de políticas públicas reforça nosso interesse em integrar todos os atores que compõem nosso ecossistema,” afirma.
Promover a formulação de políticas públicas que acompanhem a disrupção causada pelo modelo de negócio da startup de logística é uma prioridade, mas, segundo Magnani, existem desafios estruturais a enfrentar.
“O e-commerce no Brasil tem crescido, mas ainda estamos longe dos números dos Estados Unidos e China: cada chinês pede em média 50 pacotes por ano, e o americano, 30. A média entre os brasileiros é 0,5”, afirma. “Um dos fatores que explicam essa diferença é a complexidade tributária de cada Estado.”
A ênfase em políticas públicas em startups como a Loggi reitera uma tendência que vem se consolidando nos últimos anos em outros mercados desenvolvidos, nos quais governos também têm buscado casar seus mandatos de longo prazo com o dinamismo imediatista trazido por startups de base tecnológica.
“Em mercados como os Estados Unidos e Europa, áreas de políticas públicas são uma peça essencial do diálogo entre autoridades e a sociedade civil sobre novas regulamentações que levem em consideração os impactos sociais e econômicos que as novas tecnologias promovem,” diz Magnani.
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Notando a crescente demanda por profissionais para influenciar o poder público e a sociedade em suas respostas à permanente disrupção, Magnani também virou coordenador do Instituto Startups e se aliou à Fundação Instituto de Administração (FIA), vinculada à USP, para cocriar um curso de relações institucionais e governamentais voltado ao ecossistema de inovação brasileiro.
O programa, que deve começar em novembro, será o primeiro de uma série de cursos livres que também tratará de temas como lobbying com uma base acadêmica e prática, com envolvimento de outros expoentes do mercado de inovação.
Segundo Diego Coelho, professor e consultor da FIA, os programas de educação refletem a necessidade por parte de startups de atuar no chamado “vazio institucional”, acelerando a criação de regras, até então inexistentes ou incipientes, que possibilitem sua operação.
“Startups usam intensamente suas áreas de relações institucionais e governamentais para provocar o debate público, mobilizando o governo e a sociedade para pensar em soluções e propostas que permitam a viabilidade de seus negócios”, explica.
“Essas áreas têm conseguido mobilizar uma agenda pública, mostrando que os mercados em que atuam apresentam problemas públicos relevantes que precisam ser discutidos”, acrescenta. “Por outro lado, vejo maior sensibilidade por parte de governos e da sociedade, dado o aumento de comissões e manifestações do poder público sobre estes temas.”
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Essa versão 4.0 da função de políticas públicas traz uma lacuna de capacitação que os cursos da FIA buscam resolver, já que o novo profissional demanda um mix de competências que Coelho diz ir além do perfil tradicionalmente jurídico que até então dominava esta função.
“As startups começaram a atrair profissionais que estão desenvolvendo competências adicionais como ciências políticas, economia e comunicação, que são necessárias para trabalhar e interagir com o governo e a sociedade”, conta.
A procura por esta expertise também é evidência do amadurecimento do ecossistema de inovação brasileiro, segundo Coelho, onde startups que conseguiram causar impacto com seus modelos começam a considerar aspectos que vão além da estratégia comercial e escalabilidade.
“Estamos vendo a emergência das chamadas funções estratégicas de não-mercado, com empresas percebendo que não conseguem ou não devem interagir apenas com o seu público-alvo e que os demais stakeholders na sociedade, com destaque para os governamentais, são tão fundamentais quanto.”
Angelica Mari é jornalista especializada em inovação há 18 anos, com uma década de experiência em redações no Reino Unido e Estados Unidos. Colabora em inglês e português para publicações incluindo a FORBES (Estados Unidos e Brasil), BBC, The Guardian e outros.
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