Dois analistas políticos modernos analisando a performance do Brasil na Assembleia Geral da ONU:
– Que gafe!
– Vergonhoso.
– Como um presidente usa um terno com esse corte em 2019?
– Hein? Não… Falei de outra gafe.
– Qual?
– A do tapete vermelho. Aquela troca de afagos com o Trump…
– Um horror! Se ainda fosse o Obama…
– Outra gafe.
– Minha?
– Não, deles. Não reeleger o Obama pra sempre é uma gafe.
– Bom, mas aí é a democracia.
– Não, é o fascismo.
– Democracia fascista.
– Algo assim.
– Gente, e o que foi aquilo de citar o Moro?
– Cafonice.
– O Jean Wyllys resumiu tudo: aquela voz fina do Moro é uma cafonice.
– Não, falei que cafonice é citar o Moro em discurso na ONU.
– Não pode ser os dois?
– O Moro e o Jean Wyllys?
– Não, a voz e a citação.
– Ah, tá. Pode. É tudo estética.
– Estética é tudo.
– Isso me lembra um discurso do Bergman no Oscar…
– Vamos ficar só na ONU, o Oscar é outra coisa.
– Lembrei do Bergman por causa da Greta, que também é sueca.
– Maravilhosa… A Dama das Camélias, inesquecível.
– Essa é a Greta Garbo. Falei da Greta Thunberg.
– Ah, a menina ecologista. Bom, camélia tem a ver com ecologia, de certa forma.
– Sem dúvida, é tudo natureza.
– É tudo estética.
– Estética é tudo.
– Pobre Brasil. Um país que já teve uma mulher discursando nessa tribuna…
– Dilma era pura estética.
– A Greta Garbo do petismo.
– E jamais daria aquela moral pro Trump.
– Nunca! Chamava logo de fascista.
– E o melhor é que ele não ia entender.
– Exatamente. Esse era o diferencial da Dilma: ninguém entendia o que ela falava.
– Uma revolucionária contra o óbvio, contra a compreensão linear das coisas.
– Puro hermetismo. Me lembra Jean-Luc Godard.
– Godard era mais fácil de entender.
– Concordo. Mais elementar.
– Há quem diga que a Dilma não tá presa até hoje porque a Lava Jato tem medo de interrogá-la.
– Claro, a Dilma é um labirinto. Um interrogatório desses você sabe onde começa mas não sabe onde termina.
– Grande Dilma. Derrotou a Lava Jato por W.O.
– O Lula não teve esse senso estratégico.
– Todo homem bom é presa fácil.
– Foi muito aplaudido aí nessa tribuna. E a ONU até hoje defende ele.
– Defende de graça, porque nunca levou um tostão dos bilhões roubados pelo PT.
– Agora me emocionei. Onde foi parar esse mundo de amizades verdadeiras?
– Sei lá. É tudo muito triste e obscuro.
– Resumindo: a participação do Brasil na Assembleia Geral da ONU 2019 foi um golpe na estética e na bondade.
– Depois de muitos anos vamos ficar sem o prêmio de efeitos especiais, quebrando uma longa tradição brasileira.
– Vexame.
– Vergonha.
Guilherme Fiuza é jornalista e escritor com mais de 200 mil livros vendidos, autor dos best-sellers “Meu nome não é Johnny” (maior bilheteria do cinema nacional em 2008), “3.000 dias no bunker” (história do Plano Real, também adaptado para o cinema), “Bussunda – A vida do casseta”, entre outros. Escreveu o romance “O Império do Oprimido” e é coautor da minissérie “O Brado Retumbante” (TV Globo), indicada ao Emmy Internacional. Twitter: @GFiuza_Oficial
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