Especialistas em segurança aérea dizem que pode ser difícil determinar causa do acidente que matou Kobe Bryant

27 de janeiro de 2020
Getty Images / David-McNew-Correspondente

Investigadores trabalhando no local do acidente de helicóptero que matou o ex-astro da NBA Kobe Bryant, em 26 de janeiro de 2020 em Calabasas, Califórnia

O astro do basquete Kobe Bryant morreu na manhã de ontem (26), com os outros oito a bordo de um helicóptero Sikorsky S-76B, que caiu em um terreno montanhoso ao norte de Los Angeles.

O helicóptero, uma aeronave de luxo para 12 passageiros que é há muito tempo favorita para o transporte de executivos e VIPs, parece ter atingido o chão com muita força e pode ser difícil determinar a causa do trágico acidente, dizem especialistas em segurança aérea.

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O helicóptero bimotor, que decolou do aeroporto John Wayne de Orange County por volta das 9h, horário local, voou para o norte sobre Los Angeles, de acordo com dados de rastreamento de vôo do Flightradar24, e seguiu para oeste sobre a Ventura Freeway antes de virar para o sul, em direção a Santa Monica Mountains, onde, a 1.700 pés de altura, passou a descer extremamente rápido, a 4.200 pés por minuto, quando os dados foram cortados.

A velocidade de declínio “sugere que a aeronave estava ou fora de controle, caindo, ou que o piloto estava extremamente ansioso para pousá-la”, diz Alan Diehl, ex-investigador de acidentes da U.S. National Transportation Safety Board e da Administração Federal de Aviação dos EUA, que alertou ser muito cedo para tirar conclusões sobre a causa da queda.

Os destroços ficaram espalhados por uma encosta em Calabasas, e o mastro ao qual os rotores se ligam se rompeu da transmissão, uma ocorrência relativamente rara que indica um impacto extremamente pesado, diz John Goglia, ex-investigador de acidentes e membro do conselho da NTSB.

Os investigadores da Administração Federal de Aviação estiveram no local, segundo autoridades do condado de Los Angeles, com representantes do NTSB a caminho.

Segundo Paul Kennard, ex-piloto de helicóptero da Royal Air Force do Reino Unido e consultor de defesa que estava em Anaheim, nas proximidades, para uma convenção de helicóptero, o piloto podia estar lidando com condições desafiadoras. Havia nuvens baixas e nevoeiro naquela manhã, condições mais difíceis para o piloto que sobrevoava as montanhas de Santa Monica.

“Voar nas montanhas é uma habilidade especializada – mesmo em um dia bom, você ter falsos horizontes e ilusões visuais”, diz Kennard. “Isso piora com neblina e com o fato de não ter o topo das colinas limpo.”

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O Departamento de Polícia de Los Angeles havia impedido seus helicópteros de voar na manhã de ontem por conta de pouca visibilidade, um porta-voz falou ao “Los Angeles Times”.

A desorientação pode ter desempenhado um papel importante no acidente, diz Kennard, mas a alta taxa de descida pode indicar que o helicóptero sofreu uma falha mecânica.

Pode ser uma investigação difícil, diz Diehl. Os helicópteros tendem a se fragmentar mais do que as aeronaves de asa fixa, e o magnésio altamente inflamável nos destroços ajudou a alimentar um incêndio que cobria um quarto de hectare ao redor do local do acidente, o que pode ter danificado as evidências. “Testemunhas oculares podem ser críticas para entender o que aconteceu”, diz Diehl.

O helicóptero foi fabricado em 1991 e é improvável que tenha sido adaptado com um gravador de dados, diz Goglia.

Bryant voava de helicóptero com frequência, e as fotografias do que caiu mostravam uma pintura personalizada com o logotipo “Mamba”. O S-76B era de propriedade da Island Express Holding Corp., que registrou o helicóptero em 2015, um mês depois de ter sido vendido pelo estado de Illinois, onde pode ter sido usado para transportar o governador, de acordo com o banco de dados de helicópteros helis.com. No momento da venda, ele tinha 3.950 horas de voo, segundo o helis.com, com média de 188 horas por ano, uma carga de trabalho leve para um helicóptero VIP.

Estruturas de helicópteros não sofrem tanto estresse quanto as aeronaves pressurizadas e a idade de 29 anos do helicóptero não suscita preocupações de segurança, diz Kennard, desde que tenha passado por manutenção adequada.

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Introduzido pela primeira vez em 1976, o S-76 tem um sólido histórico de segurança, dizem Diehl e Kennard, e durante décadas foi o helicóptero o preferido para o transporte executivo e VIP. Dez países o usam para transportar seus chefes de estado, de acordo com a Sikorsky. O helicóptero também foi usado para transporte médico e shuttle para plataformas de petróleo offshore.

Embora viajar em avião de grande porte seja a maneira mais segura de voar (houve apenas uma morte em um voo comercial programado nos EUA em 2018), os helicópteros têm um registro de segurança melhor do que as aeronaves menores de asa fixa usadas na aviação geral, e helicópteros bimotores como o S-76 estão entre os mais confiáveis.

A taxa de acidentes fatais para helicópteros nos EUA foi de 0,82 por 100.000 horas de voo em 2019, de acordo com a Equipe de Segurança de Helicópteros dos EUA, com 24 acidentes e 55 vítimas fatais. Isso se compara a uma taxa de 1.029 acidentes por 100.000 horas de voo em 2018 na aviação geral, o ano mais recente para o qual os números estão disponíveis no NTSB.

No entanto, o voos pessoais representaram uma parcela desproporcional de acidentes fatais de helicóptero nos EUA de 2009 a 2019, de acordo com um estudo da equipe de segurança de helicópteros dos EUA. O uso privado representou 3% de todas as horas de voo nesse período, mas 22% dos acidentes fatais.

Foram produzidos mais de 875 S-76s, de acordo com a Sikorsky. Não incluindo o acidente de domingo, desde 2009, modelos do helicóptero sofreram sete acidentes fatais, matando 33 pessoas, segundo um banco de dados mantido pela Aviation Safety Network.

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