Imagine entrar no aeroporto, compartilhar seus sinais vitais, passar pela segurança e embarcar em um avião, tudo sem tocar em nenhuma tela, bilhete ou pessoa. Segundo as autoridades, é para onde estamos a caminho. Ao considerar o claro e presente perigo de infecção, a questão é com que rapidez podemos (e devemos) chegar lá?
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E, em Abu Dhabi, a Etihad Airways anunciou o teste beta de quiosques de autoatendimento desenvolvidos pela Elenium Automation. Os quiosques podem monitorar temperatura, frequência cardíaca e respiratória de um passageiro e sinalizar aqueles que precisam de atenção médica. Embora essa tecnologia não tenha sido projetada para diagnosticar qualquer condição, ela pode processar grandes quantidades de dados biométricos.
“Estamos testando essa tecnologia porque acreditamos que ela não apenas ajudará no atual surto de Covid-19, mas também no futuro, ao avaliar a adequação de um passageiro para viajar e, assim, minimizar interrupções”, disse Jorg Oppermann, vice-presidente de operações e meio de campo na Etihad Airways.
Comparativamente, os EUA têm demorado para fazer parte do movimento. Desde 2015, a Transportation Security Administration (TSA) –a agência com autoridade sobre a segurança dos viajantes norte-americanos– usa testes biométricos para verificação de identidade, não para exames de saúde. Atualmente, a organização não executa nenhum programa voltado especificamente para combater o coronavírus. Na ausência de uma grande revisão operacional, fazer voos domésticos ainda significa se submeter a tapinhas, aglomeração em terminais lotados e tocar em telas compartilhadas para etiquetar a bagagem.
Quanta informação é suficiente?
Para reabrir sem provocar novos surtos do vírus, os aeroportos devem se preparar para explorar uma ampla variedade de estatísticas de saúde. Segundo as autoridades médicas, apenas medir a temperatura não é suficiente para rastrear um vírus com um período de incubação assintomático. O “Journal of the American Medical Association” acaba de publicar um estudo que mostra que menos de um terço dos 5.700 pacientes hospitalizados com Covid-19 nas instalações da Northwell Health tiveram febre após a triagem –embora o sintoma seja visto como um indicador-chave da doença.
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Isso significa que os viajantes devem se preparar para uma grande transição da mera avaliação de imagem para o rastreamento biométrico. Ainda não se sabe se essa mudança será permanente e como os dados eletrônicos de saúde serão compartilhados. Mas está em curso.
Vivemos em um mundo em que a tecnologia possibilita monitorar todos o tempo todo. Por que não estamos preparados para impedir a propagação de doenças? Tudo se resume ao controle. Nem todos os países se submeteram à vigilância em massa, devido a problemas complexos de privacidade e segurança cibernética. O consentimento do compartilhamento de dados ainda é considerado uma liberdade civil em grande parte do mundo moderno.
Por esses motivos, um aeroporto verdadeiramente “sem contato” ainda pode estar longe no futuro.
Grandes obstáculos
A privacidade é um problema simples, sem uma solução simples. Ninguém deseja que os governos rastreiem seus dados de saúde por qualquer outro motivo, exceto usá-los com o objetivo imediato de trânsito seguro em viagens. Suas informações médicas não devem ficar em um banco de dados aberto para serem vendidas a anunciantes, empregadores ou comitês de ação política, por exemplo.
Se “bem administrado” e “confiável” parecerem sonhos distantes, junte-se ao clube. No entanto, Jeni vê um futuro no qual as companhias aéreas e os aeroportos compartilharão estatísticas médicas com segurança e exclusivamente com autoridades de saúde pública, como a Organização Mundial de Saúde e o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido. Essas estatísticas podem ajudar a ilustrar os fluxos de passageiros em todo o mundo, em vez de monetizar perfis pessoais. Se todos os dados médicos coletados nos aeroportos fossem anonimizados, viagens seguras se seriam possíveis possíveis.
A cooperação é a segunda maior questão. Os países precisam cooperar para permitir que os viajantes cruzem as fronteiras. Um acordo global sobre como pré-selecionar passageiros ajudaria. Se apenas forem permitidos viajantes cuidadosamente selecionados, você estaria mais disposto a aceitá-los em seu país. Por enquanto, no entanto, parece que o isolamento nacionalista está conquistando a solidariedade global, à medida que o mundo sofre contrações econômicas e sociais.
Rumo ao contato zero
A Organização Internacional da Aviação Civil da ONU (Oaci), com sede em Montreal, está tentando mudar isso. Em 29 de abril, a instituição anunciou o estabelecimento de uma nova Força-Tarefa de Recuperação da Aviação Covid-19, criada por representantes de 36 países em seu conselho de governamental. O objetivo é aproveitar “todos os dados disponíveis do governo e do setor” para criar soluções em todo o segmento.
As soluções prováveis dessa força-tarefa serão influenciadas pelos parceiros da Oaci, incluindo o World Council International Airport (ACI) de Montreal, apelidado de “a voz dos aeroportos do mundo” e a já mencionada Sita, uma empresa multinacional de TI que presta serviços a mais de mil aeroportos e a maioria das companhias aéreas do mundo. Ambas as organizações acreditam que uma experiência sem contato ou com pouco contato é o melhor caminho a seguir.
“Tecnologias como biometria, portas eletrônicas automatizadas, robótica e inteligência artificial devem desempenhar um papel importante, agora e no futuro”, disse Nina Brooks, diretora de segurança, facilitação e TI da ACI.
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Os funcionários da Sita também dizem que a IA pode combinar biometricamente os passageiros com suas malas. “A IA será capaz de reconhecer marcas únicas de arranhões, vincos e características do material para distinguir entre malas aparentemente idênticas e combiná-las com o passageiro correto”. Isso permitiria que os clientes fizessem despacho automatizado de bagagem usando seus próprios dispositivos móveis, sem a necessidade de tocar em telas sujas dentro de um aeroporto.
“A automação é de suma importância. As tecnologias de autoatendimento e sem contato facilitarão o fluxo de passageiros, reduzindo filas e, ao mesmo tempo, assegurando uma experiência social favorável ao distanciamento, por meio do uso da biometria segura e dos dispositivos móveis dos próprios passageiros”, afirma Barbara, CEO da Sita.
A questão, mais uma vez, volta ao controle. O blockchain é um livro de informações, que tem sido mais aceito nos setores financeiro e de saúde e permanece com cautela na aviação, porque exige que os governos aceitem os registros, sem a capacidade de controlá-los. O ponto principal do blockchain é que ele não pode ser controlado pelos governos.
Abordagem unificada
Se algo positivo vem dessa pandemia, é que as próprias viagens provaram ser o motor econômico do mundo. Pontes, não fronteiras, são a única maneira de a aviação global garantir viagens seguras. Precisamos de uma abordagem unificada para implementar as tecnologias que possibilitam o futuro sem contato –e rápido.
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