Sua pele mudou nesse período de isolamento social? O estresse, como já sabemos, não é apenas um problema emocional. Na verdade, nem sempre ele é um problema, já que é um mecanismo fisiológico, uma defesa natural do organismo que nos ajuda a sobreviver. Ele provoca a liberação de mediadores químicos, como a adrenalina, que nos faz reagir com mais eficiência em situações de perigo, por exemplo.
Quando o estímulo estressante se torna crônico, no entanto, ele pode causar muitos danos à saúde. De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), o estresse e a ansiedade vivenciados nesse período de medo, afastamento de entes queridos e incertezas sobre o futuro, são gatilhos para o surgimento ou piora das doenças psicodermatológicas, área da dermatologia que foca na interação entre as doenças de pele e a saúde mental dos pacientes. Entre as principais queixas, estão o aumento da oleosidade, acne, queda de cabelo, alergias, até o agravamento de doenças como psoríase e vitiligo.
O principal problema é que, quando estamos cronicamente estressados, o nosso organismo libera, em excesso, um hormônio chamado cortisol. Em condições normais, ele gera muitos benefícios ao corpo, como a redução das inflamações, contribuindo assim para o bom funcionamento do sistema imunológico, entre outros efeitos. Porém, com o estresse crônico, os níveis de cortisol ficam elevados, o que é prejudicial à saúde.
No caso da pele, ele está relacionado ao aumento da oleosidade, agravando o quadro de acne e espinhas. Atua também diminuindo a fase de crescimento dos fios, o que causa a queda acentuada dos cabelos. Em níveis muito altos, altera a glicação do colágeno, reação provocada pelo aumento da glicemia que compromete a estrutura da pele, resultando em rugas, linhas finas, perda de elasticidade, rigidez e envelhecimento acelerado.
"Entre as principais queixas, estão o aumento da oleosidade, acne, queda de cabelo, alergias, até o agravamento de doenças como psoríase e vitiligo."
Artigos publicados no Journal of the American Academy of Dermatology apontam a relação entre o estresse e o aumento de algumas doenças de pele existentes, como psoríase, dermatite atópica e vitiligo. Isso acontece porque o estresse altera a barreira protetora da pele ao reduzir a produção de ceramidas (substâncias que revestem a nossa derme, ajudando a protegê-la de todas as agressões), deixando-a mais suscetível a infecções.
Cabelos e unhas também sofrem nesse período de pandemia. Um estudo recente publicado na revista científica Nature comprovou que o estresse acelera o surgimento dos cabelos brancos, uma vez que ele causa danos permanentes às células-tronco responsáveis por produzir a melanina, pigmento responsável pela cor da pele e do cabelo. E, novamente falando sobre o cortisol, ele provoca a queda dos fios, já que encurta a fase de crescimento capilar, e pode impedir o crescimento das unhas.
Diante do cenário, a Sociedade Brasileira de Dermatologia orienta que a população, nesse período de quarentena, invista em bons hábitos que vão ajudar a reduzir o estresse e a prevenir alterações em sua pele, como a prática de atividades físicas, ter um bom sono, se alimentar bem e ocupar a cabeça com atividades que causem prazer (desenhar ou realizar jardinagem, por exemplo). Além disso, é importante ter uma rotina diária de cuidados com a pele.
Quanto ao profissional dermatologista, cabe a ele abordar tanto a pele quanto o psiquismo de quem o procura. Deve entender a queixa de cada um, tentar identificar a causa da alteração com uma boa conversa, valorizando uma abordagem multidisciplinar onde mente, corpo e pele estejam em sintonia.
Dra. Letícia Nanci é Médica do Hospital Sírio-Libanês, médica-responsável pela Clínica Dermatológica Letícia Nanci; membro efetivo da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD); da American Academy of Dermatology (AAD) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD)
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