Como saber se você é dependente de jogos eletrônicos

9 de novembro de 2021
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Dependência não tem nada a ver com a quantidade de tempo que se gasta jogando, mas com o prejuízo que aquelas horas podem trazer à pessoa que fica na frente do celular ou do computador

Uma ótima notícia para os médicos que se especializaram em saúde mental é a entrada, em 2022, da dependência em jogos eletrônicos no CID, um catálogo internacional que lista doenças e transtornos de saúde. Jogos eletrônicos, aqui, não são só os games, mas também todos aqueles encontrados online, como pôquer e outros jogos de azar.

A notícia é boa porque o vício em jogos é algo mais comum do que se possa imaginar. No caso de adultos que apostam dinheiro, o perigo da adição está no fato de que ela pode levá-los à falência total – a deles e de suas famílias. O jogo é algo que sempre existiu – a loteria e o jogo do bicho estão aí para nos mostrar isso -, mas com o crescimento do uso de celulares e com a pandemia, as suas mais variadas formas se expandiram fortemente no ambiente digital.

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Com a entrada da desordem decorrente dos jogos no CID, fica fortalecida a possibilidade desse transtorno ser identificado por meio das diretrizes e sintomas descritos no catálogo. A possibilidade de o vício ser tratado e sobretudo prevenido, com a identificação daqueles que são mais suscetíveis a tornarem-se dependentes, fundamento de qualquer política pública, é algo que precisa ser comemorado.

Como saber se alguém está dependente do jogo? A resposta pode até parecer banal, mas é simples mesmo: se o jogo está prejudicando você ou as pessoas que vivem com você de alguma forma, então há um problema mais sério.

Dependência não tem nada a ver com a quantidade de tempo que se gasta jogando, como muita gente imagina, mas com o prejuízo que aquelas horas jogando podem trazer à pessoa que fica na frente do celular ou do computador. Um exemplo: negligenciar coisas importantes da vida, como estar com a família, se alimentar e trabalhar, em favor do jogo. No caso de adolescentes dependentes de games, o jogo ganha mais importância do que os amigos, o namoro, o sexo, a escola.

Outro indicativo é quando aquela pessoa diz a si mesma que não vai jogar, mas a compulsão o domina e ela não consegue se afastar do computador. Ou, ainda, quando ela perde o controle e, mesmo perdendo quase o salário todo (muitas vezes, até mais do que o salário), ela crê que a sorte está ao seu lado, que vai recuperar tudo e ainda sair no lucro. Obviamente, isso não acontece.

Jogar não é um mal hábito, mas torna-se um hábito pernicioso quando impede você de aproveitar e cuidar da sua vida, da sua saúde e dos seus relacionamentos.

Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.

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