Como você vê a inovação tecnológica?

30 de dezembro de 2020
Artpartner Images/Getty Images

Empresas que investem em novas lideranças em inovação para além do óbvio tem colhido bons frutos, diz Maitê Lourenço

“Para quem não sabe, um jardim é uma floresta”- Provérbio Africano

2020 foi um ano desafiador e desanimador, especialmente quando se pensa em quantas famílias se despedem deste ano com entes queridos fazendo parte de uma triste estatística de mais de 1,7 milhão de mortes, mais de 192 mil delas só no Brasil. Foi um ano que mobilizou o mundo todo na percepção do quanto viver é estar em vulnerabilidade.

Vimos a importância do digital para a manutenção de direitos básicos como receber auxílio emergencial, realizar atividades de educação online, trabalhar e, principalmente, a urgência em realizar a transformação digital de negócios tradicionais. Por outro lado, tivemos exemplos explícitos de que o monopólio das tecnologias vulnerabilizam empresas e pessoas pelo mundo todo.

2020 mostrou também o quanto as mobilizações sociais, especificamente as da população negra, são capazes de mudar o rumo das coisas. Vimos as eleições nos Estados Unidos, o movimento Black Lives Matter, as redes sociais aqui no Brasil cumprindo seu papel de demonstrar a insatisfação sobre falas, ações e não-ações por parte de pessoas e grandes instituições.

Foi um ano que evidenciou o quanto ainda há pessoas enxergando um jardim como floresta: uma floresta obscura, cheia de mitos, sendo colocada com um lugar de desvalor. No que diz respeito ao avanço digital almejado por corporações de todos os setores, posso dizer que aqueles que ousam sair da ignorância e desbravar, valorizando esses jardins, podem receber recompensas que até então pareciam inimagináveis.

Você vê a inovação tecnológica como um jardim, ou como uma floresta?

Para ilustrar meu ponto, vou contar uma breve história, de uma das empresas do portfólio BlackRocks, lideradas por Cairê Moreira, um dos contemplados pela edição de 2020 da lista Forbes Under 30, que foi publicada nesta semana. Estamos muito felizes por este feito.

Conheci Cairê em 2017, quando ele tinha 23 anos, um menino-prodígio que estava tentando entrar em uma pós-graduação e, ao mesmo tempo, concretizando um projeto. Este projeto hoje é a Genyz, um ateliê de tecnologia 3D, que realiza a simulação de vestuários através de realidade virtual.

Cairê sempre quis algo ousado: acabar com os tamanhos P-M-G tradicionais, possibilitando customizações e escala através do conceito de indústria 4.0. Em 2020, ele se tornou Especialista em Design de Vestuário 3D na Renner, que adquiriu sua metodologia de implementação da cadeia de produção no digital e o avatar que logo fará parte da forma com que compramos roupas no dia a dia.

Uma empresa entendeu que a mente criativa de um jovem de 26 anos, sua habilidade para executar – se tornando agora Under 30 por sua relevância na tecnologia – seria capaz de transformar o que é urgente, em algo possível e financeiramente viável.

Com este caso específico em mente, pergunto: quantas outras empresas possuem desafios parecidos, e temem desbravar jardins, e os desvalorizam, chamando-os de florestas? De onde eu e o Cairê viemos, existem muitos outros casos: nossa herança ancestral legítima nosso lugar na tecnologia: África, fonte de tudo, de todos, é ainda vista como floresta.

O trabalho com Cairê faz parte de um conjunto de ações persistentes para promover um ambiente favorável à inovação, que o BlackRocks vem executando. O smart money promovido pela iniciativa impulsionou o Cairê para estas oportunidades e outras, que esperamos que virão futuramente. Os desafios e obstáculos – como o racismo – não impediram que este jardim fosse visto apenas como uma floresta.

2020 foi um ano em que pudemos mostrar que existem jardins para além do que investidores, empresas, aceleradoras e outros atores do ecossistema conseguem enxergar. Este trabalho, cujo objetivo é posicionar a população negra no centro das discussões sobre inovação, fez com que o BlackRocks se tornasse referência.

Durante a pandemia, realizamos um dos maiores festivais de inovação do país, com mais de 3 mil participantes. Entregamos conteúdo sobre inovação, tecnologia e negócios digitais, com 90 palestrantes de todo o país e participações internacionais. Vale ressaltar que quase 90% dos palestrantes se declaram como negros e 45% mulheres. Isso prova que não somos proporcionalmente iguais à população negra no país no ecossistema de startups, mas que existem muitas pessoas negras ensinando sobre estes assuntos e ocupando espaços de inovação e tecnologia.

Temos em nosso portfólio atual 10 startups, que estão participando do nosso programa de aceleração, o Grow Startups desenvolvido com metodologia própria para selecionar e apoiar times de fundadores com pelo menos uma pessoa negra. O programa fornece, além do apoio aos negócios, a promoção de conexões entre as startups e o ecossistema e apoio para que as startups que estão sendo aceleradas no momento certo possam receber investimentos.

Estas ações de fomento do empreendedorismo tecnológico permitiram que o BlackRocks fizesse parte da maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo. Somos uma das instituições participantes do Pacto Global da ONU tendo como objetivo a criação de estratégias e operações para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030.

Em meio às diversas mudanças e desafios apresentados pela pandemia, 2020 foi um ano muito produtivo para nós no que diz respeito a fazer com que jardins até então desconhecidos, fossem evidenciados. Costumo dizer a amigos próximos que o plantio deste ano é promissor, assim como a colheita já tem trazido bons frutos.

Construir um hub que promove a conexão inteligente entre criadores, negócios e grandes instituições nos torna jardineiros prontos para auxiliar na criação de oportunidades, para muito além do que é atualmente conhecido.

Maitê Lourenço é fundadora e CEO da BlackRocks Startups, que incentiva os negros a acessarem ecossistemas inovadores e de tecnologia.

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