Precisamos falar sobre neurodiversidade

11 de janeiro de 2021
Huntstock/Getty Images

Empresas que contratam pensando na neurodiversidade conseguem a tão desejada complementaridade produtiva em sua força de trabalho

Hoje eu gostaria de compartilhar alguns pensamentos sobre neurodiversidade. Você sabe o que quer dizer esse conceito e como ela se manifesta no seu entorno?

A neurodiversidade parte do princípio que indivíduos enquadrados como autistas, portadores de TDAH ou dislexia, por exemplo, não sofrem de doenças ou distúrbios, mas sim apresentam variações biológicas esperadas. Segundo a socióloga Judy Singer, que cunhou o termo no fim dos anos 90, eles não precisariam ser tratados ou até curados, mas sim compreendidos em suas diferenças, justamente porque representam formas de diversidade humana.

Ao observar características específicas dessas pessoas, falamos sobre como o cérebro trabalha, suas variações de atenção, socialização e aprendizagem. E mais: segundo a neurodiversidade, elas podem ser interpretadas como vantagens competitivas e inclusive potencializadas, e não suprimidas.

Em entrevista recente para a imprensa norte-americana, Jill Miller, Ph.D e consultora sênior em inclusão e diversidade do Chartered Institute of Personnel and Development (CIPD), aponta a vasta oportunidade que esse olhar traz para o ambiente corporativo. Isso porque, ao contratar e apoiar pessoas que literalmente – grifos próprios da especialista – pensam diferente, as companhias conseguem chegar a soluções para problemas de uma maneira não tradicional e não óbvia. Ou seja, conseguem a tão desejada complementaridade produtiva em sua força de trabalho.

Ainda de acordo com a especialista, observando justamente essas oportunidades é que empresas como Google, SAP, Ford, Amazon e JP Morgan já implementaram ou estão desenvolvendo iniciativas de neurodiversidade no ambiente de trabalho, focadas principalmente em equipes de alta performance e inovação.

Para chegar lá, são várias as etapas que as empresas precisam seguir, entre elas aprenderem como recrutar, gerenciar e apoiar as equipes neurodivergentes para garantir oportunidades equânimes para todos os profissionais.

Em uma contribuição valiosa para o site do Fórum Econômico Mundial, Nahia Orduña, gerente sênior em Analytics e Integração Digital da Vodafone, explica que pessoas neurodiversas possuem habilidades essenciais na era digital. Um exemplo são pessoas com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), que comumente pontuam mais alto em testes de criatividade do que pessoas sem o transtorno e que podem hiper concentrar-se. Ou seja, embora apresentem déficit de atenção para algumas atividades, tais indivíduos conseguem compensar esse aspecto com uma capacidade focal superior aos demais em sua área de interesse.

Já pessoas disléxicas demonstraram capacidade acima da média de pensar fora da caixa, de forma inovadora, compreender padrões e raciocinar de maneira lógica. Enquanto a maioria de nós se distrai facilmente, cérebros neurodiversos são melhores em manter o foco em uma tarefa, o que prova que contratar pessoas diferentes não é apenas o mais correto a se fazer, é também um diferencial competitivo.

Nahia comenta ainda que pessoas enquadradas dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA) são altamente criativas, dotadas de excepcional capacidade de concentração, raciocínio lógico e imaginação. Elas também tendem a ser sistemáticas, meticulosas e extremamente detalhistas, capazes de fornecer percepções e perspectivas únicas para a solução de problemas.

Seguindo a mentalidade do aprendizado constante, a verdade é que ainda há muito para entender sobre a neurodiversidade e incorporar seus conceitos para o ambiente de trabalho. E, em linha com o que afirma a Ph.D Jill Miller, aquelas empresas que conseguirem gradualmente inserir programas do tipo certamente conseguirão aproveitar um pool de talentos que há bastante tempo era sub-aproveitado.

Finalizo com uma frase dita por Steve Silberman, autor do livro “NeuroTribes – The Legacy of Autism and the Future of Neurodiversity” (sem tradução em português), para a Forbes, na qual ele condensa de forma brilhante tudo o que dissemos até aqui: “Great minds don’t always think alike” ou “Grandes mentes nem sempre pensam do mesmo jeito. Vale a reflexão.

Camila Farani é um dos “tubarões” do “Shark Tank Brasil”. É Top Voice no LinekdIn Brasil e a única mulher bicampeã premiada como Melhor Investidora-Anjo no Startup Awards 2016 e 2018. Sócia-fundadora da G2 Capital, uma butique de investimentos em empresas de tecnologia, as startups.

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