Simples de falar, difícil de assimilar. Porque nos ensinam desde sempre que errar é humano na teoria, porém muito ruim na prática. Abala a autoestima, pode arranhar a reputação, desfaz laços. Então é melhor evitar. E como se evita? Não se evita.
Ninguém acerta brilhantemente fazendo o básico, o padrão, a fórmula testada e aprovada. Na melhor das hipóteses, replica o acerto. Mas empreender é mais sobre construir a partir do que já existe (ou do que não existe) do que se limitar a réplicas.
Lembro quando fiz a minha. Claro que esse é o tipo de lição na qual evoluímos durante a vida inteira, por camadas. Não é um processo que acontece um dia e muda completamente a maneira de enxergar, pensar, agir. Nem fica resolvido. Mas como provavelmente toda mudança de paradigma, tem uma virada de chave. Um momento eureca. E me recordo do meu.
Eu tinha 24 anos, havia começado a praticar yoga intensa e diariamente alguns meses antes, e lidava com todos os impactos que uma maior clareza sobre a vida e suas escolhas traz. Mais disciplina, mais liberdade e mais responsabilidade. De repente, ficou evidente: se eu quiser avançar além da curva média, vou ter que arriscar. Para achar um jeito autêntico de fazer meu trabalho, que me realize e atenda a demandas do mundo, preciso ter a coragem de questionar verdades estabelecidas, modos padrões que, olhando bem e analisando criticamente, talvez não façam mais sentido. Mas é raro acertar de primeira. E mexer em verdades estabelecidas incomoda – o ambiente e a gente mesmo. Bom, minha virada de chave incluiu não fugir de algumas brigas, enfrentar muitos medos, como o de perder empregos e o de deixar se dissolverem amizades com prazo de validade.
Logo entendi que nem sempre se tratava de errar. Mas de dar errado mesmo quando eu fazia o que acreditava ser o certo levando em conta tudo o que podia enxergar. Sair da curva é, antes da possibilidade de brilhar, se sentir desencaixado, na contramão, ou ao menos em uma via menos movimentada. Quer empreender? Acostume-se a esse cenário.
Fui aprendendo mais e mais como lidar com o erro de maneira leve, acolhedora mas não complacente, a partir da experiência de outras pessoas também, à medida que conhecia empreendedoras e empreendedores tão inspiradores, enquanto era repórter de revista e, mais recentemente, ao organizar o livro “Fora da Curva 3 – unicórnios e start-ups de sucesso”, a convite dos outros organizadores, Florian Bartunek e Pierre Moreau.
Durante a produção do livro, a relação bem resolvida com o que dá errado foi uma das lições que mais me marcou. De formas diferentes, está presente na história das 12 pessoas retratadas.
Uma das que mais me impactou aconteceu com Geraldo Thomaz. Ao lado de Mariano Gomide, ele fundou a plataforma de e-commerce VTEX, inicialmente como um marketplace para o setor têxtil. Não deu certo e mudaram a rota. Em 2007, eles comemoravam a conquista de um projeto grande – a produção do site brasileiro de uma varejista global. Mas havia um desconforto: esse cliente concentrava 90% da receita da empresa, um cenário que fazia os empreendedores se sentirem mais como funcionários.
O testemunho de Geraldo é emocionante: “Pela primeira vez em toda aquela jornada, passei um dia inteiro na cama, deprimido. Meu sentimento era que todo o momentum que estava sendo criado se perdeu. Fiquei dentro do quarto do hotel em que estava hospedado, sem atender ligações, completamente desanimado. Minha expectativa de fechar mais um cliente importante havia sido frustrada. Resultado: eu tinha uma empresa com muito mais gente do que precisaríamos nos meses seguintes — um custo enorme que havíamos assumido, agora sem dinheiro para cobrir. Nada fazia sentido.”
No dia seguinte, ele acordou disposto a seguir em frente, como havia feito com seu sócio e equipe tantas vezes nos anos anteriores.
O rápido e intenso mergulho no fundo do poço, seguido do recomeço é, para mim, um fiel retrato do significado de empreender. A única certeza é que muita coisa vai dar errado, mesmo quando dá certo.
Siga FORBES Brasil nas redes sociais:
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.