Fiz isso com a ideia de que, fosse lá o que fosse, entraria em ação só na segunda-feira. No entanto, à medida que ouvia as palavras enérgicas do meu cliente no áudio, falando de assuntos tão urgentes, entendi que os planos haviam mudado. Peguei o computador, me ajeitei na banqueta da cozinha e comecei a digitar freneticamente.
“Na segunda você vê, então, como pode me ajudar com isso”, concluía a mensagem. Não. Não temos esse tempo, pensei, já completamente mergulhada no assunto. “Estou trabalhando nisso agora, me dê alguns minutos”, respondi. Se tem uma coisa que jornalistas sabem é identificar uma pauta que não pode esperar até amanhã cedo.
Quando você trabalha em redação, descobre que, embora toda vez pareça que dessa vez não vai dar, a revista sempre fecha.
Se a pauta for para o site, então, aí é que não tem prazo impossível. Aconteceu agora, e minutos depois os repórteres já estão ligando para as fontes para apurar mais detalhes, uma história ainda inédita correlacionada à informação principal e, antes que dê tempo de revisar a gramática, o texto está no ar.
Uma vida intensa, para quem gosta de adrenalina.
Ao longo dos últimos cinco anos, foi interessante e, de certa forma, libertador aprender a desacelerar. A dosar a velocidade. Mas, do lado de cá do balcão, não mudei a marcha. Gosto de agir. De resolver na hora. De começar o dia com um problema e terminar com a solução. Mantive minha rotina quase como uma gincana – reuniões, telefonemas, cafezinhos, produção de textos, edições finais, uma coisa atrás da outra, sempre bebendo até a última gota das horas do dia. Para que ficar parada se posso andar rápido?
O irônico é que foi justamente quando tudo parecia parado, silencioso e confuso que veio o chamado para o “momento é agora, já”.
Minha inclinação pelo fazer, e rápido, soava encaixada como nunca.
Na última segunda-feira daquele março de 2020, o projeto do meu cliente estava de pé. O tema era nobre e podia ajudar muita gente desamparada aqui na Terra. Além da oportunidade de fazer parte dos bastidores de algo inspirador, eu ganhara a clareza sobre aquela vantagem competitiva: a capacidade de agir rápido quando é isso que a situação pede.
Ao longo do ano que se passou, tem sido divertido ajustar o ritmo, acelerando com mais frequência do que antes. E também reconhecendo quando o mar está calmo e o contexto pede reflexão e pausas. Porque senso de urgência pode facilmente virar pressa que vira atropelo, se aplicado na hora errada.
O segredo é estar presente, com lucidez, os pés fincados no chão, os olhos bem abertos e o corpo firme para sentir a intensidade e a direção do vento.
Ariane Abdallah é jornalista, autora do livro “De um gole só – a história da Ambev e a criação da maior cervejaria do mundo”, co-organizadora do “Fora da Curva 3 – unicórnios e start-ups de sucesso” e fundadora do Atelier de Conteúdo, empresa especializada na produção de livros, artigos e estudos de cultura organizacional. Praticante de ashtanga vinyasa yoga, considera o autoconhecimento a base do empreendedorismo.
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