O dólar voltou a disparar hoje (7), cravando novos recordes perto de R$ 5,90 e com a moeda brasileira mais uma vez liderando as quedas globais, diante de um intenso desconforto no mercado local de câmbio ditado pela combinação entre juros cada vez mais baixos, economia em colapso e persistentes incertezas do lado político.
Para analistas, é questão de tempo a cotação cruzar a linha de mais uma marca psicológica, desta vez de R$ 6.
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O dólar à vista fechou em forte alta de 2,39%, a R$ 5,8399 na venda. Com isso, deixou confortavelmente para trás o recorde anterior, de ontem (6), de R$ 5,7035.
A moeda subiu mais de R$ 0,13 entre uma sessão e outra. Na máxima do pregão, foi a R$ 5,8780 na venda, novo pico intradiário.
Na B3, o dólar futuro tinha um salto de 2,22%, a R$ 5,8560 na venda às 17h21, após alcançar R$ 5,8845.
A cotação abriu com ganho de 1,4% e acelerou os ganhos no decorrer da sessão em vez de reduzi-los. Isso indica uma pressão estrutural sobre a moeda, que deve levá-la à casa dos R$ 6 no curto prazo, segundo analistas.
“O real vai continuar se depreciando em função de crises políticas que vamos testemunhar mais à frente e em tempos de crise de saúde e econômica”, disse Roberto Indech, estrategista-chefe da Clear Corretora.
“Acho que a grande questão é: qual o objetivo de um dólar a R$ 6? Qual o posicionamento da equipe econômica em relação ao pacote de ajuda a Estados e municípios? Esses fatores respondidos em conjunto pela equipe econômica poderiam dar alguma clareza e amenizar essa pressão no mercado de câmbio”, acrescentou.
O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira que vai vetar parte do projeto de auxílio aos Estados aprovado pelo Congresso que excluiu algumas categorias de servidores de regra de congelamento salarial, atendendo a recomendação do ministro da Economia, Paulo Guedes. Isso ajudou a tirar o dólar das máximas a partir do começo da tarde, mas o alívio não persistiu.
Antes dos mais recentes ruídos políticos, o câmbio já vinha se depreciando, sob pressão da queda constante dos diferenciais de juros entre o Brasil e o mundo.
Na Bolsa de Chicago, contratos futuros de real negociados chegaram a despencar 4,5% na noite de quarta-feira, apontando dólar acima de R$ 5,96, depois de o Banco Central surpreender ao promover um corte mais intenso – de 0,75% – na Selic.
O Copom não apenas cortou a Selic além da magnitude de 0,5% esperada por ampla parte do mercado como indicou possibilidade de outra flexibilização monetária do mesmo porte na próxima reunião do colegiado, nos dias 16 e 17 de junho. O juro básico caiu para 3%, nova mínima histórica.
Juros ainda mais baixos reduzem o diferencial de taxas entre o Brasil e o mundo, o que prejudica a competitividade do país em termos de atração de capital ávido por retornos, num momento em que mercados emergentes de forma geral sofrem fortes saídas de recursos por causa da crise do Covid-19.
A depreciação do real se acentuou a partir de meados do ano passado, quando o Banco Central retomou os cortes de juros.
O desestímulo ao ingresso de recursos é endossado pelas perspectivas cada vez mais sombrias para a economia.
“Estamos caminhando para uma contração de 7% a 8% do PIB [em 2020]”, disse Evandro Buccini, diretor de renda fixa e multimercado da Rio Bravo, para quem a extrema incerteza do cenário desanima qualquer posição em real.
Para ele, o dólar vai “em breve” alcançar os R$ 6, num contexto em que o Banco Central escolheu fazer intervenções apenas pontuais no câmbio. “Não dá para vender muito mais reservas do que já vendeu. Estamos chegando perto do nível prudencial, que seria 1,5 vez o nível ótimo de reservas”, afirmou.
Apesar de o dólar ter se aproximado de R$ 5,90 nesta sessão, o Banco Central vendeu nesta quinta, em termos líquidos, US$ 1 bilhão em contratos de swap cambial tradicional, valor até abaixo do ofertado em alguns dias no mês de abril.
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Dados do BC divulgados na véspera mostraram que, com as atuações no mercado cambial neste ano, a posição cambial líquida da autoridade monetária caiu em abril ao menor patamar em mais de dois anos.
Felipe Pellegrini, gerente de tesouraria do Travelex Bank, chamou atenção, em mais um ponto negativo ao real, para a evolução da crise de saúde no Brasil por causa da Covid-19. “A curva de infectados está subindo forte no Brasil. E isso atrapalha os planos de retomada da atividade e dificulta saber quanto o governo voltará a acenar com reformas”, afirmou, destacando que o mercado quer ver melhor comunicação entre Executivo e Legislativo.
“Mesmo com o dólar aparentemente esticado, por todo o contexto, a tendência para a moeda é de mais alta. No curto prazo tudo indica que o dólar vai buscar os R$ 6.”
Em 2020, o dólar sobe impressionantes 45,53%. E apenas nas quatro primeiras sessões de maio acumula ganho de 7,4%. (Com Reuters)
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