O acentuado crescimento das spacs (empresa de aquisição de propósito específico) em 2020 é a história do ano de Wall Street. É também uma oportunidade única para empresas de tecnologia em estágios iniciais arrecadarem fundos mais rapidamente. Alguns abriram capital muito antes de se ter uma visão clara sobre geração de lucros, mas o investidor bilionário em tecnologia Peter Thiel está animado com uma transformação mais profunda.
“Parece existir muita informação desencontrada e ainda vão levar alguns anos para que essas empresas cresçam nas avaliações”, afirma Thiel. “Por outro lado, deveríamos pensar na Covid-19 e na crise de 2020 como um divisor de águas. Esse é o ano em que a nova economia está finalmente substituindo a antiga.”
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Thiel apoia uma das maiores fusões spac e investe na startup de tecnologia lidar Luminar Technologies, que começou na Nasdaq neste mês sob o registro “LAZR”. A empresa de Palo Alto (Califórnia), fundada por Austin Russell (presente na lista da Forbes 30 Under 30), arrecadou US$ 600 milhões em ganhos brutos em uma fusão com a Gores Metropoulos. Essa ação tornou seu CEO de 25 anos o bilionário empreendedor mais jovem do mundo, segundo estimativas de capitalização de mercado da Luminar.
Fabricantes de veículos sustentáveis e empresas como a Luminar, que desenvolvem tecnologias para apoiar o transporte autônomo foram os primeiros a se beneficiarem do dinheiro vindo das spacs. Essas companhias atraem investidores que esperam replicar os ganhos como os de acionistas da Tesla neste ano, ao passo que Elon Musk continua a produzir carros elétricos e lançá-los no mercado. Assim como a Tesla, que abriu capital na Nasdaq em um IPO tradicional em 2010, espera-se que várias outras empresas não sejam lucrativas por anos.
Um registro via spac pode acontecer mais rápido se comparado a um IPO convencional. Uma startup faz uma fusão com uma spac que funciona como uma empresa do tipo cheque em branco, para a qual os patrocinadores já pagaram todos os custos legais de uma oferta pública inicial.
A desenvolvedora de caminhões Nikola Inc, que está a apenas alguns anos de finalizar uma grande plataforma que funciona à base de hidrogênio, é uma lição para empresas de veículos limpos. As ações subiram depois da abertura de capital via spac, em junho. Alguns meses depois, foi anunciada uma tentativa de parceria com a General Motors. Mas, o negócio fez água quando um analista acusou Trevor Milton, fundador e ex-diretor executivo da Nikola, de fazer declarações fraudulentas sobre sua tecnologia. Embora a GM tenha recuado sobre a parceria, a empresa continuou a usar a tecnologia da Nikola de células de hidrogênio e baterias de caminhões. Mesmo assim, a Nikola retém US$ 7 bilhões em mercado de capital e afirma que planeja desenvolver caminhões elétricos no próximo ano.
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Uma spac também apoiou Henrik Fisker, dono de uma empresa de veículos elétricos que faliu em 2013. Em seu novo empreendimento, a Fisker Inc, ele planeja começar a vender SUVs elétricas em 2022 e já preparou uma parceria de produção com a Magna para garantir o sucesso do projeto. Outros beneficiários do crescimento das spacs incluem a fabricante britânica de carros elétricos Arrival, que vem apresentando rápido crescimento, e as startups Hyliion, Canoo, Lordstown Motors e Lion Electric. A produtora de baterias Romeo Power, baseada em Los Angeles, está produzindo baterias de íon de lítio para veículos pesados da Nikola e também tem um acordo spac.
A Velodyne, líder em automóveis com tecnologia lidar, e a Aeva, startup de lidar criada por dois ex-engenheiros da Apple, estão seguindo os passos da Luminar e também acionaram spacs para financiar suas produções e o desenvolvimento de tecnologias de ponta para sensores.
Como membro da “Máfia PayPal”, que inclui Musk, Reid Hoffman e Max Levchin, Thiel teve uma carreira lucrativa como investidor de risco, em empresas como Facebook e a recém-formada startup Palantir, que oferece serviços de big data à CIA. Como parceiro da Founders Fund e head da Thiel Capital, ele afirma que a transformação das indústrias da “antiga economia” em versões de tecnologia de ponta foi adiada por duas décadas. “De certa forma, isso foi deixado de lado em 2000 quando a bolha tech estourou.”
Segundo Alec Gores, fundador e CEO da The Gore Group, não há indícios de que a procura e o interesse de empresas por spacs vá diminuir. Somente neste ano, a empresa de investimentos de Beverly Hills que ajudou a tornar a Luminar conhecida arrecadou US$ 5 bilhões através de fusões do tipo e espera alcançar o triplo desse valor em 2021.
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“Recebemos cerca de 100 ligações de empresas de veículos elétricos e autônomos que demonstravam interesse nessa parceria. No final, acabamos ficando com a empresa de Russell”, afirma Gores. “É um bom recurso para todos, principalmente para aqueles que precisam de capital para começar projetos. E, como tudo, haverá bons e maus exemplos. Nosso trabalho é evitar que existam acidentes nas fases finais.”
De acordo com Thiel, existem riscos para algumas das empresas apoiadas por spacs, principalmente para o meio de veículos espaciais, caso não correspondam ao que é esperado.
“Mas, eu acredito que dessa vez, o filme terá um final alternativo, em que a tecnologia vai realmente funcionar”, completa Thiel. “Algumas vão falhar, mas no geral, as transformações do século 21 vão acontecer.”
Colaborou Alexandra Sternlicht.
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