“Só há espaço para um Khan no ramo de luta livre”, zombou o fundador e CEO da AEW, de 38 anos, no vídeo. “Sou eu, Tony Khan, e não um vigarista qualquer de Connecticut.”
Khan criou a AEW com um grande investimento do pai, o bilionário Shahid Khan, dono do Jacksonville Jaguars; o valor teria chegado a US$ 100 milhões. Os primeiros três meses na “TNT” foram bem-sucedidos a ponto de garantirem um contrato de quatro anos e US$ 175 milhões com a WarnerMedia para transmitir, nas noites de quarta-feira, o “Dynamite”, título que ele escolheu há um quarto de século, quando esboçou episódios em seu caderno do ensino fundamental. O programa de duas horas abalou a estrutura de poder da luta livre profissional ao enfrentar – e derrotar – a WWE de McMahon, e a AEW lançará, em agosto, um novo programa semanal às sextas-feiras.
“Não quero ser a próxima companhia de luta livre ‘espaço em branco’ do passado – preencha o espaço em branco”, diz Khan sobre antigas companhias que McMahon subjugou ao longo dos anos. “Nós adoramos a luta do passado, a luta do presente e a luta do futuro… É isso que nos dá uma grande chance de manter e aumentar o índice de audiência.”
Khan, um nerd magrelo que mais sorri do que faz cara feia, mostrou pouca intenção de esmagar McMahon com uma cadeira de aço metafórica, mas sua paixão pela luta livre é profunda. Quando adolescente, em Champaign, Illinois, ele moderava fóruns de discussão sobre luta livre na Internet e era conhecido por usar fantasias do “Macho Man” Randy Savage no Halloween – até a idade adulta. Durante todo esse tempo, ele esperou a oportunidade de reformular o entretenimento que adorava, com toda a sua lycra.
No entanto, McMahon, cuja empresa sediada em Stamford, Connecticut, controlava o Nordeste, rompeu esse acordo de cavalheiros, decidido a se tornar uma atração nacional e, por fim, mundial. Ele colocou a WWF na “USA Network” e roubou de maneira implacável talentos como Jesse Ventura, Roddy Piper e, mais notoriamente, Hulk Hogan, de outros territórios. Na década de 1990, a última concorrente séria foi a World Championship Wrestling, do bilionário Ted Turner, a qual deu surras de audiência na WWF durante anos nas “Guerras da Segunda à Noite”. Porém, na virada do milênio, a vantagem da WCW havia caído e, quando a AOL adquiriu a Time Warner, em 2000, descartou o negócio de luta livre de baixo desempenho. McMahon devorou-a por meros US$ 4,3 milhões em 2001 e tornou-se, enfim, o campeão indiscutível, detendo efetivamente o monopólio da luta livre desde então.
Em 2000, cerca de 20 milhões de telespectadores sintonizavam a programação da WWF a cada semana. Embora a WWE – que mudou de nome em 2002 após ser processada pelo World Wildlife Fund – ganhe mais dinheiro hoje graças aos valores exorbitantes dos direitos de TV e ao conteúdo sob demanda, sua audiência semanal média na TV foi inferior a 5 milhões no ano passado, de acordo com o site “Showbuzz Daily”.
“Fico contente que a WCW tenha fracassado, porque abriu uma vaga para nós entrarmos e termos sucesso”, diz Khan, “mas isso levou a um período um tanto lúgubre para o negócio de luta livre”.
Khan observava e aprendia com cada companhia de luta livre que McMahon vencia, e o pai incentivava essa paixão, embora não a entendesse muito bem. O primeiro investimento de Shahid Khan na obsessão de Tony foi uma viagem de pai e filho a uma arena decrépita da Filadélfia em agosto de 1996 para uma noite de Extreme Championship Wrestling, uma companhia da pesada que a WWE absorveria sete anos depois. Foi o prêmio que Khan, na época com 13 anos, ganhou por concordar em fazer o exame de admissão e se matricular no Colégio Laboratório da Universidade de Illinois.
“Meu pai não acreditava no que estava vendo”, conta Khan. “Ele disse: ‘Isto é uma mistura de show de rock underground com culto’.”
Khan continuou assistindo à WWE enquanto frequentava a Universidade de Illinois e depois, quando trabalhava em uma empresa de biocombustíveis, esperando uma oportunidade enquanto o pai perseguia seu próprio sonho de ser dono de um time da NFL, a liga esportiva profissional de futebol americano. Quando Shahid Khan comprou o Jaguars, em 2012, incumbiu Tony de criar o departamento de análise da franquia e deu a ele uma função semelhante em seu clube inglês de futebol, o Fulham, em 2015.
“Não achei que fosse uma boa ideia, de maneira nenhuma”, conta o Khan pai. “Mas eu disse ao Tony: ‘Veja, quando eu morrer e não estiver mais aqui, vou deixar muito dinheiro para você e sua irmã. Por que você não gasta um pouco enquanto estou vivo?’”
Rhodes, que passou nove anos na WWE, até 2016, conheceu Tony Khan em um jogo do Jaguars no outono de 2018. Filho do falecido Dusty Rhodes, membro do Hall da Fama da WWE, ele estava acostumado a ouvir sonhos ingênuos sobre novas companhias de luta livre, mas essa foi a primeira vez que recebeu uma proposta na suíte do proprietário de um estádio da NFL. Khan mandou então um colaborador ao Japão, onde Rhodes estava trabalhando com a New Japan Pro Wrestling na época, para finalizar seu contrato e prometeu que, se ele assinasse, um cheque seria enviado pelo correio no dia seguinte. E foi.
“É algo especial ver como ele é dominante sem ser exigente”, diz Rhodes, que é um dos vice-presidentes executivos da AEW. “Os lutadores falam muito. Ele faz.”
Com talentos de renome em número suficiente – inclusive Jim Ross, ex-locutor e executivo de talentos da WWE –, Khan tinha um produto para vender e, quatro meses após o lançamento da AEW, no dia de ano novo de 2019, fechou um acordo experimental com a WarnerMedia para exibir o programa na “TNT”. O “Dynamite” estreou em 2 de outubro de 2019, e os dois lados acordaram quanto a uma extensão de US$ 175 milhões em janeiro de 2020, levando o programa até o fim de 2023 e incluindo planos de uma terceira hora de conteúdo semanal. Essa hora adicional foi adiada pela pandemia, mas, em 19 de maio, a AEW anunciou que o programa “Rampage” estreará em 13 de agosto e irá ao ar todas as sextas-feiras às 22h, imediatamente após a exibição do “Smackdown” da WWE na “Fox”. Tanto o Dynamite quanto o Rampage passarão para a “TBS” em janeiro de 2022, e quatro especiais adicionais serão exibidos anualmente na “TNT”.
“Ficou muito claro que nós nos colocamos nas mãos certas”, comenta Brett Weitz, gerente geral da “TNT”, “TBS” e “truTV”. “É preciso muita audácia para dizer que vai enfrentar a maior liga de luta livre do mundo e ver se consegue ser uma marca desafiante. E ele conseguiu.”
Os US$ 43,75 milhões que a AEW recebeu da “TNT” no ano passado representaram a maior parte de sua receita, mas são um valor ínfimo em comparação com o recorde de US$ 974 milhões que a WWE, de capital aberto, atingiu em 2020. Mesmo assim, as cifras do pay-per-view e as vendas de ingressos da AEW vêm crescendo; além disso, o novo programa trará mais dinheiro. Khan prevê que sua divisão de luta livre dará lucro este ano, mas um investimento de oito dígitos no desenvolvimento de videogames manterá a empresa no vermelho, por enquanto.
O primeiro contra-ataque da WWE foi um fracasso retumbante. Ela mudou a popular franquia “NXT” da “WWE Network”, um canal premium, para a “USA Network” no outono de 2019, mas, após perder a batalha da audiência de quarta-feira, o “NXT” recuou para as terças-feiras em abril de 2021. De lá para cá, o Dynamite vem registrando uma média de quase 1 milhão de telespectadores – cerca da metade do que a WWE atinge com o “Raw”, seu programa principal, que é transmitido nas noites de segunda-feira.
“Ele não é escrito, como se fosse uma novela”, Cody Rhodes, vice-presidente executivo da AEWEnquanto a WWE gira em torno de “Mr. McMahon” – personagem caricatural que McMahon representa no ringue –, Khan fica longe das câmeras, a não ser em eventuais promoções nas redes sociais. Rhodes diz que a AEW não tem uma sala de escritores como a WWE e afirma que suas promoções dentro do ringue não são roteirizadas, abordagem que vem agradando aos novos fãs. Passados dois anos da estreia do programa, 54% de seus telespectadores têm menos de 50 anos, uma parcela maior da audiência do que no caso dos programas “Raw”, “NXT” e “Smackdown” da WWE.
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Contudo, apesar de a WWE ter perdido a batalha das noites de quarta-feira, ela ainda está vencendo a guerra. Em 2020, McMahon assinou um contrato para transferir sua biblioteca de conteúdo da WWE Network para o serviço de streaming Peacock da “NBC”, e a WWE tem pelo menos um pay-per-view por mês, em comparação com os eventos trimestrais da AEW. Seu carro-chefe, o “WrestleMania”, enche um estádio de futebol a cada primavera.
Ainda assim, a WWE está saindo muito mais enxuta da pandemia. A companhia dispensou mais de 20 de seus cerca de 200 lutadores nesta primavera – alguns dos quais foram contratados pela AEW –, e os cortes no orçamento geraram especulações de que McMahon, de 75 anos, está preparando a empresa para ser vendida.
A AEW, por sua vez, opera à sombra do TIAA Bank Field do Jaguars, no Daily’s Place, anfiteatro de 5,5 mil lugares anexo ao estádio onde realizou o “Dynamite” durante a pandemia. Ela voltará a colocar o programa na estrada em julho, levando-o a Miami, Dallas e Austin, no Texas.
“Não há nenhum motivo para haver apenas uma companhia de luta livre”, diz Khan, contradizendo a encenação que fez na promoção da AEW. “O negócio da luta livre está mais em alta agora do que esteve em muito tempo.”
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