IPOs impulsionam flippers: conheça estratégias e riscos da prática
Mariangela Castro
2 de julho de 2021
Amanda Perobelli / Reuters
Prática que divide especialistas é baseada na compra de ações durante a fase de reserva e venda na estreia do IPO.
O número de ofertas de ações realizadas na B3 nos primeiros seis meses deste ano já ultrapassou a marca das aberturas de capital de 2020. Com o maior volume, surge também a busca por novas modalidades de ganhos e, para isso, alguns investidores decidem “flippar”.
Paulo Paiva, CEO da BeCapital, explica que o flipper é uma modalidade do mercado financeiro em que o investidor compra ações na fase de reserva do IPO da empresa – e as vende logo no pregão inicial. Ou seja, investidores flippers compram os papéis antes mesmo de serem negociados nos pregões, pois acreditam que haverá alta nos preços já na estreia. A operação de curto prazo, no entanto, pode ser bastante arriscada.
Evandro Lima, analista da XP Investimentos e professor na Xpeed School, explica que as decisões sobre o que comprar ou vender na bolsa devem ser tomadas a partir de estudos e análises de mercado. Para ele, isto não é possível no flipper, pois não há dados na B3 para analisar o histórico de movimento dos papéis. “O investidor está no escuro, tem apenas os dados da empresa para se basear. É como se fosse um day trade no escuro”, diz.
O alto risco é também advertido por Rafael Panonko, analista chefe da Toro Investimentos. “O flipper é uma especulação. O investidor está especulando, pois acredita que a demanda pelas ações daquela empresa será maior que o previsto durante a reserva”, avalia.
Por conta da falta de certezas ou mesmo análises mais concretas, os especialistas afirmam que a operação de flipper é mais buscada por investidores pessoa física do que por profissionais do mercado financeiro.
“Dificilmente um profissional fará este tipo de operação, o volume de capital com que ele trabalha costuma ser muito maior que o de pessoas físicas. Se ele vender as ações no primeiro dia de pregão, os papéis podem ser desvalorizados”, explica Panonko. O analista também defende que profissionais de mercado buscam lucro no médio e longo prazo, e não em poucos dias.
“O prospecto preliminar tem centenas de páginas, dificilmente estes investidores leem tudo”, comenta o analista da Toro. Para decidir, muitas vezes se depende da sorte, aumentando a agressividade da operação.
Nestes casos, Lima aconselha que investidores que não conhecem bem o mercado devem optar pelas empresas que mais fazem parte de suas rotinas e, se possível, conhecer as sedes físicas das companhias.
Para as empresas que estreiam na bolsa, o flipper também pode trazer prejuízos. Quando a venda de ações é expressiva já no primeiro dia de pregão, os papéis costumam ser desvalorizados. Para se proteger da modalidade, os especialistas apontam o crescimento da prática de lock-up realizada pelas empresas.
Isso significa que parte das ações reservadas antes do IPO deve permanecer na carteira do investidor por um período estabelecido pela empresa que quer abrir capital. Este tempo costuma variar entre 30 e 40 dias. Durante o período, o investidor não pode se desfazer dos papéis bloqueados.
Ao reservar ações, a decisão de comprar papéis com ou sem lock-up parte do próprio investidor. Porém, aqueles que optarem pelo bloqueio possuem prioridade. “Pode acontecer de um investidor entrar com pedido de reserva sem lock-up, com a intenção de flippar, e não ser atendido por conta da alta demanda”, esclarece Panonko. “Essa medida é utilizada para evitar a flippagem e a volatilidade extrema dos papéis”.