Hollywood na vitrine: estúdios de cinema estão prontos para aquisições multimilionárias

17 de agosto de 2021
Reprodução/Forbes

Corrida desenfreada por conteúdo em Hollywood, desencadeada pelo streaming, fez de produtoras de sucessos como “La La Land” potenciais alvos de compras

Trabalhando em um prédio comercial ao norte do centro de Atlanta, nos Estados Unidos, o consultor de fortunas John Cary está se preparando para uma nova temporada em Hollywood. Cary, diretor da Tyler Perry Studios e presidente da Cross Creek Pictures, está analisando uma lista de interesses com cerca de 30 nomes – todos produtores independentes que viraram alvos de aquisição.

“Estamos no início das discussões com algumas pessoas”, diz Cary, também diretor-gerente do banco de investimento NextGen Capital. “Vamos sentar à mesa e perguntar: ‘Quanto você acha que vale? Qual valor seria atraente?’”

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A resposta? Provavelmente muito, já que a corrida por conteúdo desencadeada pelo sucesso do streaming não mostra sinais de desaceleração. A indústria vai gastar US$ 225 bilhões por uma nova programação em todo o mundo este ano, de acordo com o pesquisador Ampere Analysis – US$ 60 bilhões a mais do que cinco anos atrás. Na esteira da compra da MGM Studios pela Amazon por US$ 8,45 bilhões, a atriz Reese Witherspoon vendeu sua participação majoritária na Hello Sunshine para uma nova empresa de mídia apoiada pelo Blackstone Group por US$ 900 milhões, o que um negociador diz ser o dobro do fluxo de caixa que tais empresas estavam recebendo apenas 18 meses atrás.

Isso colocou um novo preço em tudo, desde a Endeavor Content de Ari Emmanuel e a SpringHill Company de Lebron James, até o querido estúdio de filmes independentes A24, enquanto conversas surgiam sobre o potencial de conseguir empresas em alta como a Blumhouse Productions. Há também um grande interesse na Imagine Entertainment, de Ron Howard e Brian Grazer.

Em aposta está o lucrativo jogo de poder entre distribuidores e criadores que a revolução do streaming desordenou. Hitmakers, acostumados a décadas de acordos de participação nos lucros sem risco, andam desanimados desde que a Netflix – seguida por concorrentes de streaming, incluindo Disney+ e Amazon – invadiu a indústria com um novo tipo de negócio: aquisições lump sum (modelo de contrato onde o preço global cobrado pelo produto ou serviço é determinado antes da realização do projeto) que limitam o potencial de talento enquanto adicionam valor às suas plataformas.

Reese, que apostou em si mesma ao criar a Hello Sunshine, conseguiu alavancar os direitos que detinha sobre histórias com foco feminino, incluindo os filmes “Garota Exemplar” e “Livre” e séries que ela vendeu para Hulu, Apple e HBO. O preço da empresa de cinco anos – que supostamente obteve uma recompensa mais de sete vezes maior que a receita projetada – sugere um mercado crescente para produtores com um histórico bem-sucedido, uma vez que qualquer fluxo de caixa que a Hello Sunshine vê é muito menor do que os números da bilheteria principal que são registrados.

Esses valores são reduzidos pelo custo de reembolsar os investidores que financiaram a produção, as pesadas despesas de marketing e publicidade, as significativas ações ​​reivindicadas por cinemas e redes de TV, bem como o pagamento de acordos de participação nos lucros com os diretores, estrelas e produtores que fazem tudo acontecer.

“Talento tem um enorme valor para as empresas construídas a partir de seus esforços e eles não estão vendo um retorno equivalente ao patrimônio líquido”, diz Kevin Mayer, que fez uma parceria com o ex-diretor de operações da Walt Disney, Tom Staggs, e a Blackstone no investimento pela Hello Sunshine. “Agora eles estão vendo maneiras de obter vantagens do tipo capital, criando suas próprias empresas e também fazendo parte de novas companhias independentes.”

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Isso deixa um ponto de interrogação pendente sobre todas as companhias, desde a Westbrook Entertainment, de Will Smith, até a potência do grande Steven Spielberg, a Amblin Entertainment. Também poderia atribuir um valor superior a uma marca como a Perry’s, que faz seu próprio financiamento e, portanto, é a dona da produção e tem apenas uma pessoa principal a pagar – Perry, que escreve, produz, dirige e, muitas vezes, estrela em seus próprios programas. O produtor bilionário não é vendedor, diz Cary, mas pode ser comprador.

Uma pista sobre o que os outros membros da indústria estejam pensando pode estar em Jason Blum, o criador por trás da Blumhouse: “Ele não tem uma placa de publicidade consigo mesmo”, de acordo com uma fonte, antes de acrescentar que ele também não descarta nada.

A Forbes, então, fez uma tentativa de determinar quais valores estão sendo sugeridos para alguns dos principais alvos de Hollywood. Veja na galeria de fotos a seguir:

Legendary Entertainment Maiores sucessos: “Godzilla vs Kong”, “Pokémon: Detetive Pikachu”, “Mamma Mia: Lá Vamos Nós de Novo!” e “Jurassic World: Reino Ameaçado”. Valor: US$ 4 bilhões A produtora de filmes e empresa de cofinanciamento, que estabeleceu um recorde de bilheteria global pandêmica com “Godzilla vs Kong”, está explorando silenciosamente suas opções. O Dalian Wanda Group assumiu o controle da Legendary em 2016 em uma transação de US$ 3,5 bilhões que, na época, representava o maior negócio entre a China e Hollywood (embora esse preço tenha sido considerado inflado por muitos). Mais recentemente, Wang Jianlin, o bilionário chinês que controla a Wanda, vem se desfazendo de seus ativos internacionais, entre eles uma participação no projeto do hotel de luxo One Nine Elms e a maior parte de seu interesse nos cinemas AMC Theatres. Acredita-se que a Legendary também esteja procurando um novo pretendente. O estúdio é lucrativo e tem produzido uma série de sucessos recentes, então pode valer cerca de US$ 4 bilhões. more
A24 Maiores sucessos: “Minari: Em Busca da Felicidade”, “Moonlight: Sob a Luz do Luar”, “Joias Brutas” e “Oitava Série”. Valor: US$ 3 bilhões O estúdio de cinema independente que produziu ou distribuiu uma série de filmes aclamados também está procurando um pretendente, flutuando por um preço inicial de até US$ 3 bilhões, de acordo com a “Variety”. Esse número parece alto, especialmente devido ao modesto desempenho de bilheteria de seus filmes, o que sugere um preço mais realista de cerca de US$ 591 milhões - embora um suposto comprador, a Apple, pudesse muito bem pagar a mais pelo prestígio da companhia. O estúdio, lançado com capital inicial da Guggenheim Partners, já produz filmes para Apple TV+, e negociadores de Hollywood dizem que o aclamado indie se encaixa no posicionamento que os chefes da Apple TV, Jamie Erlicht e Zack Van Amburg, querem dar ao seu serviço de streaming: um lar para conteúdo de prestígio. more
Blumhouse Productions Maiores sucessos: “O Homem Invisível”, “Atividade Paranormal”, “Corra!”, “Infiltrado na Klan”, “Halloween” e “Uma Noite de Crime”. Valor: US$ 2 bilhões (possivelmente mais) A empresa de Jason Blum, o maestro do filme de terror moderno, seria um alvo atraente para vários compradores. Seus filmes e programas são produzidos com custos baixos, mas explodem com o público, gerando uma receita de bilheteria de quase US$ 4 bilhões nos últimos 15 anos. O tempo está se esgotando em um acordo inicial com a Universal Pictures que termina em 2024, embora o estúdio também esteja prestes a fechar um acordo de US$ 400 milhões para Blum criar três novos longas da franquia “O Exorcista”. “Não consigo nem imaginar quanto valeria a Blumhouse”, comentou um agente. more
Imagine Entertainment Maiores sucessos: “Uma Mente Brilhante”, “Apollo 13 - Do Desastre ao Triunfo”, “O Código Da Vinci”, “8 Mile - Rua das ilusões”, “24 Horas”, “Arrested Development”. Valor: US$ 800 milhões A companhia de sucesso em contação de histórias ligada ao diretor Ron Howard e ao produtor Brian Grazer atraiu propostas de compradores em potencial ao longo do ano passado, de acordo com uma fonte bem informada, enquanto um investimento de US$ 100 milhões do banco comercial focado na mídia, o Raine Group, em 2016, ajudou a financiar aquisições próprias, incluindo a Jax Media (de séries como “Emily em Paris”, “Boneca Russa” e “Broad City”) e uma participação majoritária na produtora de documentários Jigsaw Productions (“A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício” e “Freakonomics”). O preço relatado de US$ 800 milhões pela Imagine parece subestimado, dado o dinheiro que seu catálogo de filmes e programas de TV provavelmente gera. more
SpringHill Maiores sucessos: “The Shop” e “A Vida e a História de Madam C.J. Walker”. Valor: entre US$ 600 e US$ 750 milhões Fundada por um dos atletas mais famosos do mundo, o jogador de basquete LeBron James, a companhia está explorando opções de investimento ou venda, com a Nike supostamente entre as partes interessadas. A empresa que ele fundou com seu parceiro de negócios, Maverick Carter, foca em conteúdo específico de atletas - de filmes e programas de TV a podcasts, conteúdo patrocinado e vestuário. No ano passado, levantou US$ 100 milhões de investidores (incluindo Guggenheim Investments e UC Investments, da Universidade da Califórnia) e juntou-se à Warner Bros. para uma nova versão de “Space Jam”, enquanto também produz filmes e séries originais para uma variedade de plataformas de streaming. “Quem comprar a SpringHill está pagando para fazer negócios com LeBron”, disse uma fonte do setor. more
Endeavor Content Maiores sucessos: “La La Land”, “Luta por Justiça”, “Hamilton” e “See”. Valor: US$ 500 milhões A Endeavor Content também está começando a cortejar investidores com um preço flutuante de US$ 500 milhões. Este setor da companhia foi criado para capitalizar a revolução do streaming, financiando e produzindo filmes e séries de televisão que pudessem ser vendidos a compradores famintos por conteúdo original. Desde a sua fundação em 2017, já financiou ou vendeu mais de 200 projetos. Mas a empresa, com sua grande agência de talentos, concordou em vender 80% de sua participação na Endeavor Content como condição para seu acordo com a Associação de Escritores da América, que viu um potencial conflito de interesses. more
Millennium Media Maiores sucessos: “Invasão à Casa Branca”, “Dupla Explosiva” e “Assassino a Preço Fixo 2 - A Ressurreição”. Valor: US$ 250 milhões O estúdio de cinema independente foi fundado por Avi Lerner, ex-barman e carpinteiro que começou sua carreira como gerente dos primeiros cinemas drive-in de Israel. Ele começou produzindo o que uma publicação de negócios apelidou de "merdas de baixo orçamento", como “Tubarões” e “Crocodilo”, através do estúdio de cinema Nu Image. Sua Millennium Films, fundada em 1996, tornou-se um veículo para longas mais sofisticados, notavelmente filmes de ação como a franquia “Os Mercenários”. Duas fontes dizem que Lerner está à procura de, pelo menos, US$ 250 milhões pelo ativo. more

Metodologia para a avaliação das empresas

As produtoras são vendidas por um múltiplo do fluxo de caixa, o que é difícil de calcular sem acesso aos termos de negociação das séries ou o dinheiro gerado pelo acervo de filmes e TV. Para chegar aos preços de venda potenciais dos estúdios, a Forbes usou dados de bilheteria da Comscore e BoxOfficeMojo para estimar a receita anual usando a média de vendas de ingressos de cinemas ao longo de cinco anos. Um múltiplo de 7,2 foi aplicado, com base no que a Blackstone supostamente pagou pela Hello Sunshine. As estimativas também refletem o feedback de 19 executivos, agentes, investidores e banqueiros. Apenas as empresas que estão sendo ativamente discutidas pelos negociadores de Hollywood estão incluídas na seleção.

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