“Sonho com o dia em que minha filha será CEO e isso não será notícia”, afirma head da L’Oréal Luxo Brasil

1 de junho de 2021
Nelson Saldanha

Sabrina Zanker assumiu como diretora geral da divisão de luxo da L’Oréal Brasil no início de 2021

Pouco antes do mundo parar por conta da pandemia, Sabrina Zanker aceitou o convite para retornar para a L’Oréal, empresa onde começou a carreira como estagiária, aos 18 anos. À frente da estrutura de Marketing 3.0 da divisão de luxo da companhia, ela assumiu as gerências de marketing, digital, comunicação e eventos em um ano que desafiou o segmento a se reinventar devido às viagens internacionais interrompidas, lojas fechadas e forte migração para o ambiente virtual. No início de 2021, Sabrina assumiu como diretora geral da L’Oréal Luxo, tornando-se a profissional mais jovem no comitê executivo da empresa no Brasil

Nos primeiros seis meses de retorno ao grupo, Sabrina se dedicou à estruturação da equipe, que conta com cerca de 250 funcionários, e novos protocolos. “É um desafio fazer integração com um time a distância. Conectar-me com a equipe, reconhecer-me como líder… Minha experiência trazia tranquilidade para colocar as campanhas no ar e vender os produtos, mas eu tive que trabalhar a empatia e a conexão com as pessoas para trazer estabilidade”, conta.

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A executiva focou em projetos que compreendessem essa modificação na jornada do consumidor e sua migração para o online durante a crise sanitária. Mais de 25% dos consumidores de luxo do Brasil realizam compras online e, por isso, há um enorme potencial nas plataformas digitais. Sob a gestão de Sabrina, Ralph Lauren, Cacharel e Urban Decay, parte do grupo L’Oréal, tornaram-se as primeiras marcas do mercado seletivo de luxo a terem lojas próprias em marketplaces, enquanto Lancôme investiu no live shopping. Dobrando o investimento em e-commerce, o canal online do grupo cresceu 1,3 vez mais do que a média do mercado, ganhando market share em todas as marcas prioritárias.

O tripé de atuação da executiva é focado em inovação, digitalização e diversidade. Sabrina aposta alto no crescimento digital para manter o pioneirismo conquistado em 2020, acreditando que a transformação acelerada pela pandemia veio para ficar. “Queremos ser beauty tech. Chega a ser um propósito para a L’Oréal, é a transformação mais importante: é nossa ambição e visão como companhia ser uma beauty tech”, revela.

Na primeira passagem pela L’Oréal, Sabrina afirma que trabalhou em uma empresa muito diferente do que é hoje. A executiva iniciou a carreira como estagiária no reposicionamento da Colorama, marca local de esmaltes, com um perfil totalmente diferente dos nomes do mercado seletivo, que contam com diretrizes globais e de comunicação únicas para o mundo. “A empresa era muito diferente. Havia menos diversidade, menos brasileiros nos altos cargos. Hoje existe uma estruturação maior. Há 18 anos, o marketing cuidava de tudo, o que foi muito bom para o início da minha carreira e foi um super aprendizado”, relembra.

Em sua trajetória, Sabrina reúne passagens por empresas de bens de consumo duráveis e de alimentos e bebidas, desempenhando funções de trade marketing, comercial e consultoria, global e local. Atuou em cargos de liderança em empresas como Unilever, Pernod Ricard, Accenture e Whirlpool. “Tive uma carreira generalista. Busquei isso de forma proposital porque queria ser general manager, me identificava com esse perfil. Aceitei o convite para retornar à L’Oréal porque gosto muito do metiê da beleza e vejo como uma forma de mudar o mundo”, explica.

Mais jovem integrante do comitê executivo do grupo no Brasil, Sabrina afirma que vê as empresas se abrindo mais para a equidade de gênero, dispostas a ter conversas sobre o assunto e reconhecendo o viés inconsciente que impacta as contratações, mas admite que uma líder com pouca idade é muito mais questionada do que um líder na mesma faixa etária. “O homem é visto como um prodígio. Qualquer mulher na alta liderança terá histórias para contar de momentos em que se sentiu desconfortável, principalmente as mais novas”, lamenta.

Aos 36 anos, Sabrina quer ser a primeira de muitas executivas a ocupar a liderança ainda jovem e espera abrir portas para que mais mulheres, com potencial, cheguem aos altos cargos cada vez mais cedo. “Espero que sirva de exemplo para quebrar estigmas e tabus. Tenho ambições de crescer muito além de onde estou hoje. Quero ocupar cargos e funções que mulheres ainda não ocupam. Precisamos nos fazer presentes e naturalizar a nossa presença. Hoje celebramos porque ainda é raro, mas sonho com o dia em que minha filha será CEO e isso não será notícia”, confessa.

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Para transformar esse sonho em realidade, Sabrina atua como mentora de oito mulheres, entre funcionárias da L’Oréal, ex-funcionárias de outras empresas e conhecidas de sua rede de contatos. “Eu tento influenciar outras mulheres porque acredito na transformação por exemplo, de semente em semente. É uma forma de pessoas de destaque mudarem o ambiente. Incentivo outras mulheres a fazerem o mesmo”, conta. Nos encontros virtuais, Sabrina recebe questões sobre a vida profissional e pessoal das mentorandas e as ajuda a tomar decisões e encontrar equilíbrio a partir de suas próprias experiências e de como agiria naquelas situações, fortalecendo a autoestima e a autoconfiança dessas mulheres.

Além da formação em comunicação e finanças, a diretora geral também se especializou em psicanálise e comportamento humano, o que forneceu a ela ferramentas de autoconhecimento e escuta ativa, características importantes em cargos de liderança. “Existe uma Sabrina antes e depois da psicanálise. Sou uma mãe, esposa e profissional melhor hoje porque sou mais empática, mais próxima e tenho uma conexão diferente com as pessoas. Acredito no poder da pluralidade para continuar criando a beleza que moverá o mundo”, afirma.

Fora do trabalho, Sabrina se define como introspectiva, fã de rock, livros e cinema clássico. Mãe de Sofia, 6 anos, e Theo, 3, ela divide todas as demandas, da escola ao pediatra, com o marido. Trabalha a questão da parentalidade para evitar a sobrecarga comum a tantas mães. Para desafogar da rotina puxada, mantém um combinado com o parceiro: a cada 15 dias, fica completamente sozinha. “O silêncio é um ótimo exercício para voltar para o meu centro, para me reconectar comigo mesma, o que no dia a dia pode ser interrompido facilmente por um call, por um dos meus filhos, pelas distrações do mundo.”

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