Ellen Bennett: a chef que morou no México, escalou o Monte Fuji e correu a maratona de NY antes de criar sua própria empresa

27 de julho de 2021
Reprodução/Forbes

Ellen é proprietária de uma das marcas mais badaladas de uniformes para restaurantes dos EUA

Em 2006, Ellen Bennett, de 18 anos, estava sozinha na Cidade do México. Lá, ela mergulhou na cultura e na culinária do país antes de criar o seu próprio negócio, a Hedley & Bennett. Hoje, sua empresa cria uniformes para mais de 4.000 restaurantes e cafeterias nos Estados Unidos e se destaca como uma das marcas mais badaladas do setor.

Esta semana, a Forbes conversou com Ellen sobre o seu novo livro – “Dream First, Details Later” (sem tradução para o português) – e entender como as viagens transformaram a sua vida e a colocaram no caminho do empreendedorismo.

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Forbes: Seu livro fala sobre como dar o primeiro passo em busca de um sonho, mesmo com medo. Você pode nos explicar como era sua vida antes de dar esse passo? O que a levou até essa mudança?

Ellen Bennett: Antes de abrir a minha própria empresa, eu era cozinheira e chef pessoal, sem emprego fixo. Estava trabalhando em milhões de projetos e vivendo a vida, tentando obter o máximo de experiência humanamente possível. Eu sinto que isso criou uma vontade gigante de simplesmente aparecer e fazer coisas diferentes.

Mudei-me para a Cidade do México quando tinha 18 anos, sem nenhum familiar por perto. Ninguém que eu conhecia estava lá e isso fez com que eu me tornasse responsável pela minha própria vida. De repente, eu estava vivendo e aprendendo algo novo a cada dia. Eu não tinha uma rede de segurança na Cidade do México, então precisava continuar quando as coisas davam errado. Não havia espaço para sentar e refletir sobre as falhas.

Quando você está totalmente imerso em outro país – por quase quatro anos, no meu caso -, seu jeito de funcionar muda. Você sabe que, se consegue sobreviver a isso, é capaz de qualquer coisa.

Quando finalmente voltei para casa, já tinha uma perspectiva diferente. Estar em outra cultura me ensinou novas maneiras de ser, novos alimentos e novas formas de lidar com as pessoas.

F: Como uma chef movida por viajar o mundo, o quanto personalidades como Anthony Bourdain tiveram impacto sobre você?

EB: Acho que Anthony fez um ótimo trabalho mostrando às pessoas a verdade sobre o que acontece em uma cozinha, viajando pelo mundo e revelando a realidade. Mas pessoas como Rick Bayless me inspiraram ainda mais.

Eu realmente amo a maneira como ele mergulhou na cultura mexicana e latina. Ele era 1.000% estrangeiro em todos os aspectos e, ainda assim, chegou com imenso entusiasmo e realmente abraçou esse mundo. Às vezes, parecia que Rick estava comemorando mais do que as pessoas que estavam lá.

Isso deu uma nova vida e acho que ele teve um grande impacto na culinária mexicana em geral. Bayless foi realmente importante para mim.

F: Como a percepção da comida mexicana mudou na última década?

EB: Tem sido radical. Quando eu morava na Cidade do México, lembro claramente de pessoas me dizendo que eu era louca. Perguntavam por que eu iria morar naquele local sozinha aos 18 anos, diziam que eu acabaria levando um tiro. Junto a isso, veio a percepção incorreta de que a comida mexicana era toda formada por burritos e enchiladas – pratos com alface romana e muito queijo por cima, como o Taco Bell.

Hoje, parece que as pessoas estão vendo que o México é realmente um lugar com toneladas de museus e arte vibrante. Mais e mais pessoas estão entusiasmadas com isso. Agora, o país está na capa da “Condé Nast Traveller” e até os chefs mudaram a forma de cozinhar.

Antigamente, até mesmo os chefs locais celebravam a culinária europeia e a norte-americana. A última coisa com que realmente se preocupavam era com seus próprios sabores – que possuem muita riqueza e camadas. Agora, os restaurantes sofisticados com estrelas Michelin estão defendendo seus próprios sabores, e isso fez com que sair e abraçar coisas como o melhor milho tradicional da região ou tortilhas artesanais feitas do zero seja muito legal.

Na Europa, você vê cada vez mais a culinária mexicana. René Redzepi, em Copenhagen, na Dinamarca, fez um pop-up – uma espécie de restaurante temporário, sem local fixo –  inspirado em Tulum. Ele se apaixonou pelos sabores quando Rosio Sánchez, uma de suas cozinheiras, lhe apresentou alguns pratos. Com esse aumento da popularização, estamos começando a ver uma migração de verdadeiros chefs latinos e mexicanos saindo pelo mundo e levando seus sabores autênticos – em vez de simples inspirações – para os pratos. Precisávamos disso.

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F: A maneira como você fala sobre viagens soa mais como uma mochileira do que como uma CEO que pode pagar por resorts com tudo incluído. Você acha que é importante viajar assim?

EB: Uma das coisas que falo no meu livro é sobre nosso cinto de confiança. Cada vez que você faz algo diferente ou único, algo que não fez antes, você adiciona um novo encaixe a esse cinto. Isso aumenta a sua confiança ao longo do tempo. É como uma conta poupança. Cada vez que você experimenta algo novo, você está investindo em si mesmo.

Quando viajo, quero estar em posições desconfortáveis ​​que pressionem meus músculos mentais. Eu escalei o Monte Fuji sozinha e participei da Maratona de Nova York, por exemplo. Agora que tenho mais recursos, meu marido e eu ainda tentamos viajar assim. Recentemente, visitamos seis cidades em nove dias, da Tailândia à Índia, de Kyoto a Tóquio, tentando imergir totalmente na cultura, indo a mercados e feiras de flores e andando em scooters em vez de carros particulares.

F: Houve um momento no Monte Fuji em que as coisas ficaram difíceis e você precisou de força para seguir em frente?

EB: Sim, 100%. Uma parte dessa jornada selvagem aconteceu quando começou a chover extraordinariamente forte. Havia apenas um outro alpinista na trilha. Eu não o conhecia, mas nós basicamente tivemos que correr juntos para o sopé da montanha e dormir no chão de um banheiro porque era o único abrigo ao redor.

Quando a tempestade passou, no dia seguinte, levantamos com as roupas encharcadas, metade dos nossos suprimentos perdidos e tentamos novamente.

Subir o Monte Fuji é como andar em uma praia que também é uma montanha. Quando finalmente desci, naquele mesmo dia, minhas unhas saltaram porque estavam encharcadas e cobertas de areia.

F: Voltando ao seu livro, esse foi um dos momentos que inspirou a escolha do título?

EB: Eu não sabia tudo o que iria acontecer no México, no Monte Fuji ou até mesmo na maratona, mas todos esses momentos me preparam para novas etapas da minha vida. Se você sonhar muito, os detalhes virão depois. Mas, primeiro, você tem que dar partida no maldito carro e seguir em frente. Essa é a inspiração por trás disso. As pessoas me perguntam: ‘Como você faz isso?’. E eu digo: ‘Eu apenas começo’.

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