O encontro das duas parece ter saído do roteiro de uma comédia romântica. Elas se conheceram por amigos em comum enquanto moravam na Espanha, país que foi essencial para a ideia embrionária da Holistix. Nicole trabalhava com marketing na área de saúde e alimentação, com passagens por Nestlé e Unilever. Ela já tinha pensado em desacelerar e mudar de área para que pudesse trabalhar de outra forma. Estudou saúde holística em Nova York e fitoterapia em Madri. Empenhada em unir bem-estar e saúde, iniciou um projeto de conteúdo tímido, independente, transmitindo o conhecimento que vinha acumulando. Mas não sabia como dar os próximos passos para monetizá-lo.
“Marcamos um encontro, apresentamos nossos projetos e parecia filme: uma complementava a outra e conhecia todas as referências. Começamos a trabalhar juntas muito rápido porque não teve overlap, uma não tinha feito o que a outra tinha adiantado”, relembra Nathalia. “Somos diferentes, mas temos uma intersecção que todos deveriam ter, do hippie ao workaholic, para levar uma vida mais equilibrada. O desafio era englobar o máximo de pessoas nessa história, em uma sociedade já tão adoecida”, diz Nicole.
Ambas levavam vidas corridas na Espanha, precisando praticar ioga em cinco minutos ou então entoando o lema “um dia de cada vez” para se adaptar a novos hábitos. A inspiração para a Holistix veio de uma tradição espanhola, os herbolarios, farmácias com produtos 100% naturais, muito mais comuns do que as drogarias que conhecemos por aqui. Vivendo nesse universo distante do Brasil, a dupla percebeu que, atualmente, as farmacêuticas lideram as conversas sobre saúde vendendo soluções, mas nem sempre trabalhando na prevenção pela mudança de estilo de vida.
Depois de notarem esse gap e o mercado com valor agregado a ser explorado no Brasil – a indústria mundial do bem-estar é avaliada em mais de US$ 4 trilhões, segundo o Global Wellness Institute –, viram a oportunidade de escalar e crescer forte por aqui. “Somos duas pessoas em jornada de captar dinheiro, precisamos de foco. Não conseguiríamos seguir atuando nos dois países porque são idiomas e particularidades diferentes. Aqui existe um senso de comunidade que faz mais sentido, então apostamos as fichas, largamos tudo que construímos lá e voltamos para o Brasil”, recorda Nathalia, que tinha acabado de comprar um apartamento com financiamento para 30 anos.
Após um início turbulento por causa da imprevisibilidade trazida pela pandemia, as cofundadoras conseguiram seguir o business plan e crescer. O que começou com uma equipe de três pessoas se tornou um time de 30 funcionários. O que era terceirizado se transformou em processo interno, com maior controle de qualidade. Para 2021, o objetivo é multiplicar 10 vezes o faturamento do ano passado, superando a marca de 50 mil clientes conquistada até hoje.
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No mês passado, a Holistix finalizou mais uma rodada de investimentos, a maior realizada pelo Anjos do Brasil, e até agora já levantou R$ 8 milhões de investidores anjo. Entre os investidores estão Lodovico Brioschi (cofundador da Amaro), Carlos de Barros (diretor da Dasa), André Barrence (diretor do Google for Startups) e Ben Bommert (ex-Dafiti).
E engana-se quem pensa que a única dificuldade é vender um produto nichado. Para as cofundadoras da Holistix, é curioso analisar a jornada da captação também sob a lente do gênero. “Nos chamam de meninas, acham que somos amigas que decidiram abrir uma empresa juntas, mas não foi assim. Nosso contato foi profissional desde o primeiro momento, nos tornamos amigas pela convivência. Com homens não existe essa percepção”, ressalta Nicole.
Nathalia também tem história para contar. Quando a dupla decidiu embalar a vida que levava na Espanha e trazer a mudança de volta para o Brasil, seu marido recebeu um e-mail de um sócio de um fundo de investimento que achou que o casal estava de mudança por alguma novidade profissional do marido. “Não queriam acreditar que estávamos apostando em um projeto meu. Já pensou perguntarem ao David Vélez sobre mudança profissional pela esposa dele?”, questiona.
Atualmente, a dupla considera um desafio distribuir conteúdo sobre wellness digitalmente sem incentivar o uso excessivo das telas. “A saúde mental é tão importante quanto a física. No momento em que vivemos, passar tanto tempo conectado não é saudável. Temos uma discussão interna para encontrar a melhor forma de usar a internet e as redes para que os consumidores não fiquem presos no portal, para usarem o conteúdo da melhor forma possível e desconectar”, afirma Nicole.
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