A Villa Piva surgiu de uma busca pessoal de Maria por opções saudáveis para a introdução alimentar do primeiro filho, Otávio, hoje com 9 anos (em seguida vieram Miguel e Maria do Rosário). Depois de ser aconselhada pelo pediatra a evitar sucos de caixinha, ela vasculhou mercados e decidiu empreender. “Fiquei com vontade de fazer um suco para meu filho. Para ter a praticidade de no final de semana ou em uma viagem levar algo [pronto], mas sabendo exatamente o que ele está consumindo.”
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O cuidado não se limitou ao conteúdo. Maria fez questão de usar embalagens de vidro em vez de plástico. “Para manter a qualidade do produto e porque é ecologicamente correta. Quando penso nos meus filhos, penso também no futuro que a gente vai deixar para eles.” Recentemente, por dificuldades no fornecimento das garrafas e para impulsionar o consumo em lanches escolares e ambientes como piscina, a marca lançou também latinhas. Em ambos os casos, os rótulos delicados, exibindo aquarelas pintadas por uma artista plástica, são um diferencial que a empresária gosta de destacar. “Fiz faculdade de comunicação e marketing, então entendo de criação de produto e de comunicação.”
A experiência com marketing não vinha só da faculdade. Quando começou a pensar na Villa Piva, Maria já tinha um público e uma voz. Seu blog com a irmã, Lala Rudge, era um dos mais relevantes entre os fashionistas. Na verdade, um dos motivos que a levaram a empreender foi justamente uma inquietação sobre a longevidade desse sucesso. “Eu trabalhava como influenciadora digital e pensava: quanto tempo vai durar?”
O futuro ainda era duvidoso, mas o presente trazia possibilidades. “Eu pegava o dinheiro que ganhava como influenciadora e investia na empresa. O capital foi todo meu, nunca peguei empréstimo em nenhum lugar. Foi um trabalho pagando outro.” O investimento inicial, Maria diz que foi em torno de R$ 2 milhões. O faturamento de 2021 ficou em R$ 25 milhões e o previsto para 2022 está em torno de R$ 40 milhões.
“Muitas portas se abriram por causa do meu Instagram e dos meus seguidores, não só por eles terem virado meus consumidores. Eles me davam dicas e eu ia atrás”, diz Maria. “Hoje em dia a gente está nos principais supermercados de todos os estados do Brasil e exporta para a Europa e Cingapura.” (Estão também em frigobares de hotéis, como o Rosewood, de São Paulo.)
Maria conta que os contatos no exterior também vieram via redes sociais. E frutificaram: a exportação hoje representa 15% do faturamento (e as redes sociais da Villa Piva mostram as garrafinhas em países como Espanha, Itália, Portugal e Alemanha).
Não só seguidores anônimos apoiaram. Desde o início da marca, quando o suco só era encontrado na Casa Santa Luzia, em São Paulo, e em uma lanchonete de aeroporto (porque um primo de Maria era sócio), personalidades postam imagens com o produto. Maria e o perfil da Villa Piva, claro, repostam. Entre os que já apareceram com garrafinhas estão Luma Costa, Lalá Noleto, Isabella Fiorentino, Anna Carolina Bassi, Ticiane Pinheiro, Thássia Naves e Lala Rudge.
Já com três filhos, uma carreira de sucesso nas redes sociais e uma marca recente, mas com boa repercussão, ela resolveu chamar mais gente para a Villa Piva. Em 2018, Otávio assumiu como CEO. “A Villa Piva estava com crescimento alto e a Maria precisava de ajuda para implementar as ideias e estruturar a empresa”, diz Otávio. “Trabalhar com ela é muito bom. Uma mulher visionária, perfeccionista, detalhista, que faz questão de fazer o melhor.”
De uma consultoria contratada para estudar o mercado de alimentos saudáveis veio, em 2019, uma nova sócia, Luciana Ribeiro, que assumiu como executiva na área operacional. Também entrou para a sociedade o pai de Maria, José Castro Araújo Rudge, que, com experiência na área bancária (foi vice-presidente de seguros e previdência do Itaú Unibanco), já a auxiliava informalmente e agora faz parte do conselho da empresa.
Mais do que sucos
Com a empresa estruturada, o portfólio cresceu. Hoje ele inclui sucos como tangerina, maçã e pink lemonade, chás prontos, infusões e chás secos – além, é claro, da água de coco. Em 2021, a empresa usou mais de 1,5 tonelada de frutas processadas para produzir, em fábrica terceirizada, 1,2 milhão de litros de bebidas.
O passo seguinte, que Maria já vinha planejando, é o lançamento de um mel. “A gente era uma empresa de sucos, passou a ser uma empresa de bebidas saudáveis e agora está botando o pezinho na categoria de alimentos.”
Ao mesmo tempo em que a Villa Piva se desenvolve, Luciana continua a atuar no Instagram, com mais de 600 mil seguidores, falando de assuntos variados, inclusive divulgando produtos de outras empresas. Vê essa faceta como complementar à de empresária. “É importante manter, até porque influencia o consumo”, diz. “Eu achava, dez anos atrás, que os influenciadores digitais não fossem durar tanto. Hoje vejo que ficaram cada vez mais fortes. Toda empresa de marcas separa um budget para eles.”
Reportagem originalmente publicada na edição 95 da Forbes Brasil, lançada em março de 2022