O futuro dos esportes: modelos híbridos para esportistas, atletas e times

13 de agosto de 2020
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Mirror: a startup de exercício em casa foi vendida por US$ 500 milhões em junho

Em meados de março, a Gympass, plataforma de benefícios corporativos de esportes e bem estar, viu-se numa situação sem precedentes: sem produto para entregar aos clientes e com um exército de parceiros impedidos de trabalhar. “Tivemos que nos reinventar”, diz Priscila Siqueira, CEO da companhia brasileira.

Duas semanas após o fechamento das academias, um novo modelo de negócios entrou em operação. Uma solução foi contratada e colocada à disposição dos profissionais e academias para que as aulas – das mais variadas modalidades e com grade extensa de horários – pudessem ser ministradas de maneira online e sob demanda. Até agora, mais de 1 milhão de horas já foram contabilizadas.

Outra medida foi a antecipação do projeto da empresa de entrada no segmento de qualidade de vida de uma maneira mais ampla. “Incorporamos à plataforma uma série de aplicativos de apoio nutricional e emocional, como de meditação, thetahealing, guia do sono, mindfulness e outras terapias alternativas, além de consultas online com psicólogos”, diz a executiva. Em seguida, também passaram a ser oferecidas aulas de educação financeira. “Saímos do pilar de atividade física offline para englobar tudo que contribui para o bem estar.”

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A novidade mais recente é a possibilidade de fazer aulas online com personal trainers, não apenas em modalidades como musculação, mas também ioga e meditação, por exemplo. Já são mais de 2.000 profissionais cadastrados e 8 mil sessões concluídas desde que a estreia, em junho.

“Com isso, nossa oferta digital ficou bem ampla com uma mensalidade muito atraente”, diz Priscila, explicando que o momento é de aprendizado e de investimento, tanto para entender o que realmente faz sentido para o usuário quanto para construir um modelo de negócio sustentável para a empresa. “Como temos nove planos, conseguimos acomodar as ofertas aos valores pagos”, revela.

Priscila acha difícil prever o futuro, mas reconhece que a transformação digital sobre a qual falamos há tanto tempo foi colocada em prática agora, às pressas e compulsoriamente. “Transportamos essa educação online que veio com a pandemia para o mundo fitness e foi um aprendizado enorme, porque tivemos que fazer tudo em parceria com os clientes, ouvindo seus feedbacks e ajustando as operações. Eu acredito num modelo híbrido a partir de agora. A Gympass vai manter suas ofertas online e os usuários vão poder escolher.”

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Para a executiva, esse modelo traz vantagens para todos os envolvidos: os usuários finais têm maior flexibilidade e capacidade de personalização para incluir as atividades em suas rotinas; os profissionais da área ganharam mais oportunidades de trabalho, uma vez que as barreiras geográficas foram eliminadas; as empresas ampliaram seus benefícios aos funcionários; e a Gympass, como negócio, tornou-se muito mais versátil, passando a ser uma alternativa para viabilizar os programas de saúde das companhias.

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Priscila Siqueira, CEO da Gympass: modelo híbrido

A ASCENSÃO DO ESPORTE EM CASA

Essa digitalização de atividades físicas acelerada pela pandemia está trazendo grandes oportunidades para players do setor, que apostam na inteligência artificial para viabilizar desde treinamento personalizado até avaliações individuais.

Há um ecossistema em efervescência de empresas que oferecem serviços de personal training e coaching baseado em IA, segundo David Rose, futurista da consultoria de inovação EPAM Continuum. Empresas de vestuário e equipamento também estão entrando no jogo, segundo o especialista, que cita o exemplo da compra da startup de exercício em casa Mirror pela marca de moda fitness Lululemon por US$ 500 milhões em junho.

“Existem milhões de vídeos [de práticas esportivas] no YouTube, mas nenhum deles fornece feedback ao usuário. Vemos uma grande oportunidade inexplorada para que empresas usem IA para ajudar as pessoas a treinarem em casa com feedback motivacional”, aponta Rose.

Para além de bicicletas e remo em casa, Rose prevê uma explosão em novos tipos de equipamentos e tecnologia centrada em IA para apoiar o treino em casa. “A inteligência artificial consegue contar [as repetições na execução do exercício] e dar feedback, e também identifica a posição, evitando lesões nos joelhos, ombros e costas”, explica.

Segundo o futurista, uma experiência de academia doméstica através do Zoom, embutida em espelhos com câmeras 3D que analisam a forma em que se pratica o exercício já é possível nos Estados Unidos, por cerca de US$ 1 mil a R$ 4 mil pelo equipamento, com assinaturas mensais pelo serviço. A Peloton, empresa norte-americana que está surfando na onda do exercício doméstico com suas bicicletas ergométricas conectadas, é um exemplo de player neste segmento.

O ESPORTE PROFISSIONAL EM EVOLUÇÃO

A adoção de tecnologias que fazem uso intensivo de dados também está avançando no esporte profissional. Neste segmento, tecnologia baseada em vídeo – ferramenta crucial para a análise de performance tanto de atletas individuais como equipes – é incrementada com análise de visão computacional. Este tipo de tecnologia se tornou crucial para aumentar a vantagem competitiva de times, trazendo possibilidades como criação de práticas mais eficazes, monitoramento de adversários e prevenção de lesões.

“[Vídeo] é a única maneira de capturar visualmente a natureza ágil do esporte de elite. Por conta de o esporte ser tão rápido e dinâmico, qualquer coisa que ajude a acelerar a disseminação de dados e insights é significativa”, diz Boden Westover, diretor de marketing da Catapult Sports, empresa de tecnologia focada em análise de performance esportiva.

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A tecnologia vestível da Catapult é usada para quantificar a performance física dos atletas e a empresa trabalha com mais de 3 mil equipes em 139 países, que incluem todos os da África e seus times nacionais de futebol. A empresa, que é um dos parceiros da EPAM Continuum no trabalho com equipes profissionais, também usa ferramentas de análise de vídeo para capturar e compartilhar a estrutura da equipe e o jogo tático, bem como um sistema de gerenciamento de atletas para registrar informações de bem-estar e capturar dados subjetivos.

A visão computacional usada pela empresa rotula jogadores automaticamente e compila vídeos que promovem o diálogo entre treinadores e atletas, à medida que o jogo acontece, o que é útil em processos como o retorno de atletas lesionados e na avaliação da prontidão para competir. Com sua análise de dados preditiva baseada em IA, a Catapult consegue até mesmo detectar em tempo real se um atleta corre o risco de ter uma lesão: “Isso vai transformar o treinamento e a gestão de performance”, diz Westover.

EXPERIÊNCIA TRANSFORMADA

A experiência do esporte, tanto da perspectiva de atletas quanto de quem assiste, está passando por mudanças radicais e esse processo vai acelerar significativamente nos próximos anos, segundo Rose, da EPAM Continuum.

Para ele, o trabalho de treinadores, que costumam ficar à margem do campo enquanto os atletas estão em ação, será cada vez mais incorporado a capacetes, óculos inteligentes e fones de ouvido para oferecer conselhos a atletas em tempo real durante o jogo.

“[Treinadores] serão melhores em seu trabalho porque verão através dos olhos do atleta, ou de uma perspectiva em 3D flutuando a 3 metros acima das cabeças dos jogadores”, explica o consultor.

Neste cenário não tão distante, Rose prevê que a biometria dos atletas será compartilhada com o público, o que deve proporcionar outra camada de espetáculo e análise: narradores poderão detalhar, por exemplo, como o atacante que acabou de marcar o gol fez tal façanha com uma freqüência cardíaca de menos de 90 batidas por minuto.

Segundo o futurista, uso de realidade aumentada para avaliar a forma do jogador, ou seletivamente desacelerar a ação em momentos como quando a bola de futebol viaja através do campo em direção ao gol, também estará entre as inovações que veremos em breve.

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