Entrar em uma loja para dar a famosa “olhadinha” se tornou uma atitude distante após o início da pandemia de coronavírus. Com todas as medidas de segurança para conter a disseminação da doença, o ato de sair de casa para fazer compras foi em grande parte substituído pelo e-commerce, uma modalidade de vendas prática e completamente distante de qualquer contato humano. Mas, imagine poder andar pelos corredores, escolher produtos das prateleiras e pedir informações direto da sua sala de estar, apenas com um dispositivo móvel em mãos.
Pode parecer algo fictício –quem sabe até futurista– mas é exatamente o que algumas empresas estão adotando com o nome de “loja ao vivo”. Na prática, via live streaming, é possível interagir com funcionários e ver os produtos em uma compra online diferenciada. O cliente entra na transmissão ao vivo e pode falar com o vendedor, colocar uma compra de seu interesse no carrinho digital ou simplesmente ler informações e valores enquanto observa os corredores do estabelecimento. Uma experiência de aproximação com o mundo real a partir do virtual.
Faz um tempo que essa tendência cresce ao redor do mundo. Foi a Kaan’s Kaashandel, marca de queijos holandeses, que chamou a atenção do CEO da Dengo Chocolates, Estevan Sartoreli, para implementar a iniciativa em suas mídias digitais no Brasil. Segundo Bárbara Romeiro, analista de comunicação da empresa, a ideia vem sendo organizada há um ano, tendo sido colocada em prática coincidentemente no início da pandemia, em abril. As câmeras e os tripés estão dispostos no estabelecimento da Faria Lima e o sistema online funciona até o horário de fechamento da loja, 20h. “No começo foi até difícil explicar para o time como esse serviço funcionaria”, conta Bárbara.
Mas, em parceria com a companhia de conteúdo digital Rebobine, a plataforma foi ganhando personalidade. “A produtora também nunca tinha feito um projeto como esses. Ter essa funcionalidade de durante a live poder clicar nos produtos e conseguir colocar na sua bag do e-commerce foi um case super bacana para eles”. Como consequência, diversas empresas entraram em contato para entender mais do projeto. “Natura, Ambev, Hering, todas vieram nos procurar para saber como funciona.”
Esse interesse por novas tecnologias de compras digitais não é recente. Diversas marcas já inovaram no setor, criando serviços com realidade aumentada e inteligência artificial, por exemplo. Esse é o caso da Maybelline que, em 2013, criou um sistema em que era possível testar as cores da então nova coleção de esmaltes a partir de fotos no smartphone. Ou então a RayBan que, em 2011, oferecia uma ferramenta parecida ao da marca de maquiagens, propiciando a seus clientes a possibilidade de ver como os óculos ficariam em seus rostos.
Porém, embora as empresas estejam há alguns anos fazendo testes tecnológicos na área de vendas –como a loja de roupas Farm, que já colocou a própria plataforma ao vivo em prática por um tempo– essa tecnologia é uma das mais novas tendências do mercado digital, atiçando a curiosidade de clientes e lojistas.
Para Agustin Blanco, CEO da importadora Grand Cru, que também aderiu às lojas ao vivo durante a pandemia, parte desse interesse está ligado à importância da comunicação, que muitas vezes se perde na compra online, principalmente quando se trata de vinhos, ricos em informação. “Sabemos que muitas vezes o contato ao vivo com os vendedores faz a diferença. E, juntando isso com a segurança e o novo momento das pessoas de comprar mais em casa, é que decidimos nos adaptar novamente para atender melhor os clientes.”
Alexandre Bratt, diretor comercial da Grand Cru, ressalta que é uma experiência quase física. “Como em uma loja física da marca, os nossos consultores estão preparados e disponíveis para explicar sobre os vinhos, tirar suas dúvidas, sugerir rótulos e auxiliar nas compras –que podem ser realizadas no ato, online. É uma forma revolucionária de levarmos a experiência de uma loja para a comodidade da casa de nossos clientes”, opina. A loja ao vivo da Grand Cru foi aberta na última semana e funciona, por enquanto, de segunda a sexta, das 12h às 18h.
A Dengo possui uma opinião parecida. “Nosso objetivo não é converter em vendas. É muito mais uma plataforma para informar e aproximar nossos clientes, que formam filas digitais para conversar por chat ou áudio com nossos atendentes”, afirma Bárbara. “Às vezes, a pessoa entra, é atendida, tira suas dúvidas, e compra no e-commerce convencional. Por isso, não fazemos muito esse mapeamento de conversão”. Segundo ela, o sinal de que o projeto é um sucesso vai muito além de uma simples notação financeira. É o feedback positivo de consumidores e empresas de outros setores que mais importa.
“A gente entende que nosso público é curioso. Ele gosta de indicação e de uma confiabilidade que não tem em uma compra fria do e-commerce. Na loja ao vivo tem uma pessoa, então, você acaba humanizando esse processo”, diz Bárbara, ressaltando que a tendência digital foi capaz de reascender pequenas fagulhas de uma característica puramente brasileira que precisou entrar em pausa por conta da pandemia: “Calor humano é muito Brasil.”
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