João Vitor Menin, CEO do Inter, fala sobre estratégia, aquisições e expansão global

21 de janeiro de 2021
Divulgação

O CEO da empresa: internacionalização a baixo custo

Com resultados animadores e capitalizado, o Inter acelera planos para 2021 com foco em internacionalização, abertura de serviços digitais para não-correntistas do banco, aquisições e planos de chegar aos 15 milhões de correntistas.

Anteriormente chamada Banco Inter, a empresa mineira levantou um aporte em oferta de ações que captou R$ 1,2 bilhão em setembro para impulsionar os planos de crescimento. Em dezembro, anunciou a compra da adquirente Granito e da plataforma de cobrança com inteligência artificial Meu Acerto – e agora, se prepara para fechar mais aquisições.

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Em entrevista à Forbes, o CEO do Inter, João Vitor Menin, adiantou que deve absorver duas empresas no primeiro trimestre deste ano. Uma é do setor de investimentos, que será a maior compra, e outra atua no desenvolvimento de software para restaurantes. Sem abrir os nomes das empresas, o executivo diz que as aquisições fazem parte da visão de ecossistema da empresa.

“Nunca fazemos M&A para ganhar escala – porque isso nós já temos – e sim para comprar conhecimento e eficiência, e construir um ecossistema completo ao invés de ser um produto de nicho”, aponta, prevendo um movimento em que startups focadas em segmentos específicos terão que se aglutinar sob guarda-chuvas de serviços financeiros e não-financeiros “mais parrudos”.

“Vemos empresas que têm funcionalidades de produto muito legais, como robo advisors [serviços de investimento automatizado], mas que não têm o pagamento, ou o crédito embarcado, e isoladamente não conseguem escalar. Quando estas empresas entram numa plataforma que tem milhões de clientes, isso gera muito valor para todo mundo”, detalha.

LEIA MAIS: Banco Inter termina 4º tri com 8,5 milhões de clientes

Segundo Menin, esta lógica não se limita às pequenas empresas. Usando a Creditas – unicórnio brasileiro de crédito consignado e também investida pelo Softbank como exemplo, o CEO nota que há escopo para alianças: “[A Creditas] tem um modelo muito bacana de tecnologia e de fazer os financiamentos, só que não tem depósitos, e precisa sempre vender aquela carteira [de crédito] para se oxigenar”, explica.

“Se você diz: Creditas, você tem um software muito bom e eu te dou funding muito barato, gera-se muito valor”, sugere o CEO, dizendo que o mercado atualmente demanda que empresas busquem modelos de parceria para maximizar resultados rapidamente. “Hoje em dia, um mais um não pode dar três, e sim onze.”

Ao mesmo tempo em que admite que empresas como a Creditas, que hoje vale mais de US$ 1,7 bilhão, poderiam ser aquisições interessantes, Menin diz que o Inter é um tanto “caxias” quando se trata de compras, que por ora devem focar em tickets mais baixos.

“Temos que ser muito responsáveis no emprego do nosso capital. Podemos até comprar um negócio maior, desde que gere valor para o nosso acionista”, frisa o executivo, dizendo que acha improvável encontrar um negócio que implique em um movimento do Inter similar à compra da empresa de software Linx por R$ 6,8 bilhões pela Stone.

INTERNACIONALIZAÇÃO ACELERADA

A abertura de serviços para não-correntistas é um projeto importante para o Inter em 2021 e tem o objetivo de atrair consumidores com múltiplas ofertas reunidas sob uma só plataforma. Outra prioridade é o processo de internacionalização, sob uma iniciativa internamente conhecida como Projeto Contraste.

Segundo Menin, a expansão fora do Brasil será feita em diversos países, de acordo com um roadmap que está sendo definido em parceria com consultorias. No entanto, o CEO diz que mercados interessantes para o Inter incluem economias ocidentais como Estados Unidos, Espanha, Portugal, Reino Unido e Argentina.

A estratégia para outros países é focar em serviços não-regulados e não-bancários, como seguros, câmbio, gift cards e marketplace, diz Menin, que não se intimida com o argumento de que certos mercados, como o norte-americano, estão aparentemente saturados.

“No futebol, a estatística mostra que quando você joga no campo do adversário, você sempre tem mais dificuldade, por diversas razões. Mas com ousadia e foco, você consegue”, diz, acrescentando que uma das vantagens é a sofisticação da indústria brasileira de serviços financeiros em relação à norte-americana.

Além disso, o Inter deve aproveitar sua base de parceiros globais, como a Liberty Seguros, Mastercard e Salesforce, para acelerar e simplificar o processo de expansão, segundo Menin: “Alguns serviços têm um ou outro detalhe [a mudar, para serem oferecidos em outros países], mas no geral é uma questão de pegar o que já temos e fazer um plug and play em outras geografias”, aponta o executivo. “É uma [decisão] relativamente barata, que demanda pouco emprego de capital.”

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Outro movimento importante para o Inter, que começou 2020 com 1.400 funcionários e hoje já emprega mais de 2.100 pessoas, é a reorganização societária da empresa, que formalmente ainda é o Banco Inter. O banco deve se tornar uma das empresas sob uma holding operacional e o processo pode ser concluído ainda este ano.

RESULTADO POSITIVO

O resultado do Inter referente a 2020, que deve ser divulgado no início de fevereiro, é o melhor desde a gênese da organização digital em 2014, em todas as frentes. A base atual é de 8,5 milhões de correntistas, dos quais 4,5 milhões são novos clientes, um crescimento de 108% em relação a 2019.

A originação de crédito cresceu mais de 160%, chegando a R$ 3,6 bilhões no quarto trimestre. O marketplace Inter Shop cresceu 220% no 4T comparado ao início do ano, e a adesão a seguros cresceu 471% em relação ao ano anterior.

Segundo Menin, o resultado do último trimestre coroou um processo de consolidação, que tem agradado o mercado: “Estamos colhendo os frutos de tudo o que temos plantado desde que começamos este projeto, inicialmente como banco, e posteriormente com outras avenidas”, aponta.

Serviços não-financeiros, como os oferecidos no Inter Shop, tiveram um papel importante no processo recente de amadurecimento da empresa, segundo o executivo. A plataforma, que reúne nomes como Magalu, Samsung, Nespresso e diversos restaurantes, teve um crescimento de 220% no quarto trimestre em relação ao início do ano.

Para o observador incauto, o número de clientes do Inter pode parecer pequena quando comparada a outros grandes players do setor, como o Nubank, cuja base já tem mais de 30 milhões. Neste ponto em particular, Menin oferece uma perspectiva diferente.

“Temos 8,5 milhões de correntistas, e não clientes”, diz o executivo, acrescentando que o cadastro feito pelo Inter é mais complexo e que seus clientes têm maior valor agregado. Segundo Menin, isso se deve a fatores como o alto volume de depósitos – o cliente Inter tende a deixar menos recursos em incumbentes e começa a escolher o banco digital como seu relacionamento financeiro primário – além do alto consumo de diversos serviços dentro do super app da empresa, como investimentos e compras no marketplace.

“Ao invés de um crescimento super acelerado com um produto nichado, optamos por construir esse ecossistema mais completo e crescemos muito rápido, considerando esta visão”, comenta Menin sobre as diferenças em relação ao Nubank. Ao mesmo tempo, o executivo diz torcer pelo sucesso do banco de David Vélez.

“Acho que nós e eles somos, incontestavelmente, os líderes deste movimento de digital banking. Daqui a pouco, ao invés de ter Itaú e Bradesco na liderança, você terá Inter e Nubank: olha só, que coisa espetacular. A gente não vai fazer isso sozinho.”

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O QUE MAIS ME CHAMOU A ATENÇÃO NESTA SEMANA:

O PILOTO SUMIU

O aplicativo do Ministério da Saúde TrateCov, que recomendava remédios sem eficácia comprovada contra a Covid-19, saiu do ar nesta quinta (21). Lançado no último dia 11 de janeiro, o app se propunha a “auxiliar os profissionais de saúde” e sugerir “opções terapêuticas disponíveis na literatura científica atualizada” e “prescrição de medicamentos”, segundo descrição da Casa Civil, que disse ter lançado o aplicativo em Manaus por conta do cenário epidemiológico atual.

O aplicativo, que apesar de ter sido lançado para profissionais da saúde, podia ser acessado por qualquer usuário, teve seu código-fonte investigado por programadores, jornalistas e outros especialistas, de áreas como proteção de dados, gerando uma avalanche de críticas. Medicamentos como cloroquina e ivermectina sempre eram recomendados pelo app, independente do perfil e sintomas informados pelo usuário, como por exemplo, recém-nascidos com diarreia. O Ministério da Saúde informou, em nota, que o projeto do app é um piloto não-oficial.

Além disso, a pasta informou que seu sistema foi invadido, provocando a indisponibilidade momentânea da ferramenta. Não foram informados detalhes sobre as providências em relação à proteção dos dados dos usuários que utilizaram a plataforma.

Para além da recomendação de medicamentos sem eficácia comprovada, não é a primeira vez que o Ministério da Saúde se envolve em incidentes relacionados ao tratamento dos dados de cidadãos. Em dezembro, o banco de dados do e-SUS Notifica, que registra casos suspeitos e confirmados de Covid-19, expôs dados de 243 milhões de brasileiros vivos e falecidos, como CPF, endereços e números de telefone.

ATRASO

O Brasil não vai poder fazer a adoção massiva de inteligência artificial, e isso vai impactar no desenvolvimento econômico do país. A frase é de Tania Cosentino, presidente da Microsoft, que participou do AAA Summit ontem (20).

Em conversa com o economista Ricardo Amorim no evento, a executiva refletiu sobre as lacunas de capacitação do Brasil, que tem um déficit de profissionais de tecnologia ao menos 24 mil profissionais por ano.

Tania também comentou sobre sua formação em tecnologia há duas décadas, em que salas de cursos de processamento de dados tinham pelo menos 50% de mulheres e, hoje, a adesão não chega a 20%. “Vemos mulheres cada vez menos atraídas por áreas de exatas, em especial de TI”, frisou.

OCUPANDO ESPAÇOS

A empreendedora Sauanne Bispo apresentou no programa “Shark Tank”, da Sony, a Identity Travel, sua agência de intercâmbio e experiências focada no continente africano e sua diáspora. Com a pandemia, a empresa evoluiu seu modelo de negócio, e fornece experiências imersivas através de vivências culturais, acadêmicas e corporativas presenciais e com realidade virtual (RV). A empreendedora foi ao programa buscando R$ 200mil por 5% da empresa, bem como acesso à redes de contatos para desenvolver sua startup.

A ID dobrou o faturamento em 2020, chegando a R$ 580mil com a implementação da operação B2B, e tem duas grandes empresas negociando a imersão de 70 lideranças. Sauanne hipnotizou sharks como João Carlos Semenzato (que exaltou a ideia e a empreendedora durante o programa, mas admitiu não conseguir agregar o valor que ela buscava) e concluiu a apresentação com uma proposta de Caito Maia, da Chilli Beans, para o fornecimento de serviços para sua empresa e a criação de uma coleção de óculos com a marca da ID. Mas foi a shark Carol Paiffer quem topou o investimento, por 35% do negócio.

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TRADIÇÃO REINVENTADA

Roku lança streaming do Petra Belas Artes

Um dos cinemas mais tradicionais de São Paulo, o Petra Belas Artes, terá sua programação oferecida através do streaming da plataforma Roku. Os usuários que possuem os dispositivos da empresa, que começou operações no Brasil no ano passado, já têm acesso a todo o acervo de cinema cult disponível na plataforma, que tem mais de 300 títulos.

Claro, não é a mesma experiência de ir até o charmoso cinema da Consolação com a Paulista, mas é uma opção inovadora de entretenimento, que ajuda a apoiar um cinema que tem lutado para sobreviver, antes e durante a pandemia.

NOVA FASE

Arthur Rufino evolui JR Diesel com startup

De olho no futuro do seu setor, Arthur Rufino acaba de criar sua startup. O CEO da empresa de desmontagem de veículos JR Diesel fundou a Octa, plataforma digital de serviços para o mercado automotivo. O projeto da JR – fundada em 1985 por Geraldo Rufino, pai de Arthur – foi lançado em parceria com a Fisher Venture Builder.

Entre as ofertas da nova empresa baseada em Barueri (SP) estão soluções de monetização de veículos em final de vida, assim como distribuição de peças de reuso e organização da logística reversa de subprodutos recicláveis dos veículos.

VEJA TAMBÉM: 5 dicas do empreendedor que faliu seis vezes e hoje fatura R$ 50 milhões por ano

Angelica Mari é jornalista especializada em inovação e comentarista com duas décadas de atuação em redações nacionais e internacionais. Colabora para publicações incluindo a FORBES (Estados Unidos e Brasil), BBC e outros. Escreve para a Forbes Tech às quintas-feiras

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