A norte-americana do estado do Arizona chegou no Brasil como uma das primeiras funcionárias da startup de mensageria Okto, até fazer um MBO (management buyout, em que a gestão compra a empresa) e se tornar CEO. Ann vendeu a Okto para a Spring Mobile Solutions em 2009 e, quatro anos depois, tornou-se sócia no fundo Redpoint eventures, um dos primeiros investidores da Creditas, onde conheceu Sergio Furio, fundador da fintech.
Siga todas as novidades do Forbes Tech no Telegram
“Quando entrei na Creditas, foi como se eu estivesse voltando para casa”, conta a executiva, que já conhecia boa parte do board da fintech, que incluía a Quona Capital, outro investidor de longa data na startup, além da Redpoint. Responsável por áreas como vendas e experiência do cliente, além de assuntos relacionados a pessoas, Ann é descrita por players do ecossistema, incluindo Furio, como a antítese do fundador, o que contribui para uma boa parceria entre os líderes.
“Temos habilidades muito complementares e, quando algo precisa ser feito, sabemos quem precisa executar: Sérgio é bem detalhista e analítico, ao passo que eu sou a pessoa que vê a situação de forma mais ampla. Sou muito comunicativa, uma boa ouvinte e gosto de pensar que sou uma líder muito humana. Isso também inclui conseguir ter conversas difíceis de uma forma que ajuda as pessoas a crescerem”, aponta a COO, acrescentando que também existem pontos de convergência entre os executivos.
LEIA TAMBÉM: Creditas anuncia aquisição da Bcredi
LIDERANDO ATRAVÉS DO EXEMPLO
Com gêmeas de 11 anos em casa e fazendo home office durante a pandemia – assim como os mais de 2.000 funcionários da Creditas – a rotina de Ann é intensa. Apesar de trabalhar muito, a executiva diz que trabalha de forma flexível e integrada aos outros afazeres diários. “Eu não sinto que estou batendo ponto – eu frequentemente checo o Slack, respondo o e-mail de alguém, faço anotações sobre coisas que me ocorrem no final de semana ou à noite, mas não sinto que estou trabalhando”, aponta.
“Gosto muito de liderar pessoas, projetos e juntar os pontos no trabalho: esta é a grande função de um CEO ou COO de uma organização de alto crescimento – coordenar, conectar e levar as coisas adiante”, pontua a executiva, que apesar de sua dedicação pessoal ao trabalho, diz estabelecer limites quando o assunto é a expectativa em relação aos colegas.
VEJA MAIS: Em menos de três meses, Creditas capta novo investimento e vira unicórnio
Ciente das pressões que colaboradoras – especialmente mães – podem enfrentar ao conciliar o trabalho e a casa, Ann sabe da importância de seu exemplo. “Tenho muito cuidado em dar até mais informações do que o necessário sobre a razão de não estar disponível. Pessoas podem me perguntar por que estou saindo mais cedo e eu digo que estou indo buscar minhas filhas na escola: sei que estou em uma posição em que posso dizer isso, mas quero que outras pessoas tenham a coragem [de se posicionar] também”, ressalta.
AVANÇANDO EM DIVERSIDADE
Mulheres representam 51% do efetivo da Creditas e, no alto escalão, há seis mulheres em um time de 13 executivos. Segundo Ann, a empresa busca impedir discrepâncias de salário entre gêneros para as mesmas funções e gestores são questionados “mais de uma vez” quando um homem é promovido e uma mulher não é. “Somos muito intencionais em relação à equidade”, ressalta, acrescentando que a alta taxa de retenção na startup é um fator que contribui para o desenvolvimento profissional de mulheres na empresa.
No entanto, Ann admite que a empresa ainda precisa avançar na diversidade racial. “Temos bem menos negros e pardos em cargos sêniores de liderança do que em cargos de entrada”, aponta. Segundo ela, a empresa quer avançar tanto em termos de aquisição de talentos, contratando mais recrutadores negros, quanto na melhora de processos internos. “[Pessoas negras] precisam sentir que estão recebendo os mesmos salários e oportunidades de promoção do que seus pares brancos”.
Como parte das iniciativas para melhorar a representatividade racial na empresa, a Creditas fez seu primeiro censo no ano passado, e definiu uma conjunto de metas, que Ann diz ser “o mais realista possível”, com melhoras progressivas esperadas a cada semestre. “A cada review de performance, queremos que nossos números [em diversidade racial] melhorem – é um processo em andamento”.
Sobre desafios enfrentados por mulheres no ambiente de inovação brasileiro, Ann diz que o atual cenário em termos de diversidade de gênero em startups do país precisa ser endereçado. “[A falta de representatividade feminina entre fundadores] é um grande desperdício para o próprio ecossistema”, ressalta. Falando com a experiência de investidora, ela diz que a falta de mulheres em fundos contribui para piorar o cenário.
LEIA MAIS: Ecossistema de inovação tem apenas 4,7% de startups fundadas por mulheres
“Mas vejo alguma mudança acontecendo, com fundos de venture capital sendo criados por mulheres, e mais mulheres se tornando investidoras anjo”, avalia Ann “Também vejo mulheres em cargos C-level em scale-ups como um importante passo anterior à fundação de uma empresa: uma vez que a startup faz um IPO, e [estas mulheres] têm alguma liquidez e começam a fazer outros planos, estão muito bem posicionadas com a linguagem e experiência para impressionar até mesmo fundos compostos somente por homens.”
Angelica Mari é jornalista especializada em inovação e comentarista com duas décadas de atuação em redações nacionais e internacionais. Colabora para publicações incluindo a FORBES (Estados Unidos e Brasil), BBC e outros. Escreve para a Forbes Tech às quintas-feiras
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.