ESPECIAL INOVADORES NEGROS: 5 fundadoras negras que você precisa conhecer
Angelica Mari
7 de agosto de 2020
Divulgação
Baseada em Salvador, Itala Herta é a fundadora da Diver.SSA, edtech com foco nas regiões Norte e Nordeste
Como parte do especialInovadores Negros que esta coluna deu início no mês passado, buscamos nesta semana trazer um olhar para a falta de representatividade de mulheres negras à frente de negócios de base tecnológica. Dados que registrem a presença destas empreendedoras são inexistentes, mas a pesquisa disponível mostra que o ecossistema nacional de startups está longe de ser diverso.
Em um estudo de 2019, a Associação Brasileira de Startups (ABStartups) mapeou mais de 12 mil novos negócios e verificou que 84,3% dos fundadores de startups são homens, contra 15,7% de mulheres que lideram estas novas empresas. Outro estudo, o 100 Super Founders, da Distrito, contém uma centena de líderes de empresas inovadoras em sua última edição, lista duas mulheres – Cristina Junqueira, do Nubank e Karin Thies, da Geru, ambas brancas.
A forte sub-representação de negras em cursos superiores que invariavelmente levam à criação de startups de sucesso, como engenharia e outras carreiras de exatas, é um dos fatores que explicam a escassez destas mulheres na liderança de startups de tecnologia, mas existem outros elementos a considerar, segundo Silvana Bahia, diretora de projetos da organização social Olabi e coordenadora do PretaLab, primeira iniciativa no Brasil com foco na inclusão de mulheres negras e indígenas no ecossistema de tecnologia e inovação.
“Para além da questão da educação, há uma falta de acesso a espaços de experimentação, de pensar que isso é uma possibilidade, além da falta de investimentos em negócios de mulheres negras na área de tecnologia”, diz Silvana, acrescentando que mulheres negras que já estão empreendendo também sofrem com a falta de apoio: “Além de o estímulo para que outros negócios nasçam não existir, os negócios que existem acabam morrendo por falta de investimento, pois não são vistos como algo promissor.”
Os desafios em relação à falta de investimento apontados por Silvana são relatados pelas empreendedoras reunidas nesta lista, e reiterados em estudos recentes sobre o tema: dados do relatório “wX Insights 2020 – The Rise of Women STEMpreneurs”, do Banco Inter-Americano de Desenvolvimento e do Santander X mostram que 78% das fundadoras de startups brasileiras recorrem a contatos próximos, como amigos, como fonte principal de capital, por conta da dificuldade de acessar outras fontes.
Segundo Maitê Lourenço, CEO da aceleradora BlackRocks Startups, estas empreendedoras não conseguem acessar capital por conta de um racismo estrutural presente no processo de tomada de decisão de investidores, o que impacta também a capacidade de atrair sócios para estas novas empresas: “As pessoas não nos identificam como as profissionais capazes de desenvolver negócios e muitas vezes [estas startups] acabam tendo este deficit, tanto em investimento quanto em parceiros para agregar, porque essas mulheres não são vistas como ideais para ocupar estes espaços”, ressalta.
A falta de recursos faz com que mulheres não consigam se dedicar inteiramente aos seus projetos, diz Maitê: “Isso gera um atraso muito grande no desenvolvimento do negócio e na prototipagem do produto. [Startups] que acompanho há anos não saem do lugar porque essas mulheres precisam trabalhar em outras coisas para poder fazer com que seus negócios existam, pois não é a startup em si que gera monetização para elas”, aponta.
Segundo Ana Fontes, presidente do Instituto Rede Mulher Empreendedora, o desemprego resultante da pandemia levará a um aumento no empreendedorismo, tanto em áreas mais convencionais quanto negócios na Internet – mesmo que a digitalização seja etérea para muitas empreendedoras e que existam limitações como o acesso à Internet entre a população negra. Segundo a pesquisa TIC Domicílios 2019, lançada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), 58% dos brasileiros, em sua maioria pobres e negros, acessam a rede exclusivamente por meio de seus telefones celulares, o que dificulta a geração de renda online.
Ana também ressalta a necessidade de criar mais oportunidades de crédito e investimento para estas mulheres, bem como garantir a capacitação, além de dar visibilidade a quem já empreende: “Dar espaço para que mulheres negras apresentem seus projetos é vital, pois outras que acham que não é possível veem pessoas que são exatamente como elas e enfrentam os mesmos desafios conseguiram criar negócios de base tecnológica”, aponta.
Silvana Bahia, da Olabi, ressalta a importância da representatividade, por mais que o empreendedorismo não seja possível para todas: “A camada de representatividade é só um primeiro passo para que possamos trabalhar a inclusão e equidade: há uma tendência de esvaziar este conceito, mas ele é necessário, pois sem ele você nem sonha. É fundamental se inspirar”, aponta.
É no ponto da representatividade que trazemos a nossa contribuição, com uma lista de mulheres negras de diversas partes do Brasil que contrariam as estatísticas e estão à frente de negócios de base tecnológica. Esta lista não é exaustiva, e continuaremos em busca de histórias de inovadores negros para contar. Conhece inovadores negros? Entre em contato: insider@forbes.com.br