O Brasil é o maior fornecedor de arábica do mundo, mas sua produção se manteve praticamente estável nos últimos cinco anos. Enquanto isso, a produção de robusta/conilon — mais barato, geralmente cultivado em altitudes mais baixas e visto como inferior em qualidade — aumentou e está atraindo cada vez mais compradores internacionais, de acordo com novos dados.
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Ela também promete alterar gradualmente o sabor do café no mundo nos próximos anos, à medida que uma quantidade maior da variedade robusta, mais forte e carregada de cafeína, amplamente utilizada na produção de café instantâneo, invade os ‘blends’ mais caros, atualmente dominados pelo arábica.
Seja qual for seu gosto, Enrique Alves, pesquisador da Embrapa, afirma que pode ser graças ao robusta que “nunca falte na nossa mesa o café de cada dia”, à medida que o planeta esquenta.
“É consenso que as plantas de café canéfora são muito mais robustas e produtivas do que as de café arábica. Não é exagero dizer que, para níveis equivalentes de tecnologia, os cafés da espécie canéfora produzem praticamente o dobro”, disse ele.
Já o robusta pode ser menos refinado, mas oferece rendimentos muito mais elevados e mais resistência ao aumento das temperaturas. Ele está se tornando uma opção cada vez mais atraente para os agricultores do Brasil, país que produz 40% do café do mundo.
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“No futuro próximo, o mundo usará muito robusta brasileiro, tenho certeza disso”, afirmou Carlos Santana, chefe de trading no Brasil da Eisa Interagricola — unidade da ECOM, uma das maiores tradings de commodities agrícolas do mundo.
UM NOVO DIA, UMA NOVA TORREFADORA
O Brasil aumentou sua produção de robusta em 20% nas últimas três temporadas, para 20,2 milhões de sacas de 60 kg, segundo dados do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, em português). A produção do Vietnã, enquanto isso, recuou em 5%, para 28 milhões de sacas.
A posição do país do Sudeste Asiático como maior exportador global de robusta está garantida por enquanto, já que embarcou 23,6 milhões de sacas na temporada passada, contra 4,9 milhões de sacas do Brasil, segundo maior produtor de robusta do mundo.
Até este ano, muitos grãos brasileiros iam parar em armazéns certificados pela ICE Futures Europe, o último recurso no mercado para excedentes de café sem compradores internacionais.
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Dados do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil) mostram que em 2018, 2019 e 2020 cerca de 20% a 50% das exportações de conilon do Brasil foram para Holanda, Bélgica e Reino Unido, onde estão quase todos os estoques de café robusta da bolsa.
“Todo dia uma nova torrefadora diz que vai optar pelo conilon”, afirmou um operador sênior do mercado de café de uma trading multinacional com sede na Suíça.
CLIMA AFETA O ARÁBICA
O domínio do Vietnã no café robusta tem se baseado em rendimentos médios muito mais altos do que os de rivais, de cerca de 2,5 toneladas por hectare. A Índia, por exemplo, tem uma produtividade média de robusta de cerca de 1,1 tonelada por hectare.
O Brasil possui agora um rendimento médio similar ao do Vietnã, e produtores acreditam que há potencial para mais crescimento.
Luiz Carlos Bastianello, produtor de conilon no Espírito Santo, disse à Reuters que fazendas modernas e mecanizadas no Estado alcançaram rendimentos recordes de até 12 toneladas por hectare.
“Estamos trabalhando na qualidade há 18 anos”, disse Bastianello, que é também presidente de uma das maiores cooperativas do Espírito Santo, a Cooabriel.
Ele acrescentou que há diversas variedades de robusta/conilon no Brasil, todas especialmente criadas para aumentar a resiliência genética e eficiência, sendo particularmente adequadas para resistir ao clima quente e seco.
Alves, da Embrapa, reforça que após o aumento da produtividade o foco está passando para a qualidade.
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“Mas a grande virada se deu para a qualidade, quando o cultivo migrou para clones, a colheita começou a ficar mais cuidadosa, com altos índices de frutos maduros… Como resultado disso, os cafés canéfora, até então, considerados de segunda linha, se tornaram agradáveis e intrigantes.”
Em relação à produção de arábica, os agricultores brasileiros estão cada vez mais limitados por condições climáticas extremas, como as recentes geadas que devastaram cerca de 11% das áreas de cultivo da variedade no país.
DURIAN E MACADÂMIA GANHAM ESPAÇO NO VIETNÃ
A Vicofa, associação de produtores de café e cacau do Vietnã, disse à Reuters que a produção de robusta do país pode seguir diminuindo nas próximas temporadas, à medida que agricultores cada vez mais intercalam as safras com a produção de frutas, nozes e vegetais.
“Não há mais terra disponível, e durian e macadâmia são mais lucrativos”, disse Tran Dinh Trong, presidente da Cong Bang Coffee Cooperative na província vietnamita de Dak Lak.
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A Nestlé, uma das maiores compradoras de café do mundo, está investindo US$ 700 milhões no México, um centro exportador de café instantâneo, para modernizar e expandir suas fábricas de café.
Dados do Cecafé mostram que o México quase quadruplicou suas importações de conilon do Brasil nos últimos três anos. A Nestlé preferiu não comentar sobre se está utilizando a produção brasileira em suas fábricas mexicanas. (Com Reuters)
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