Norte-americanos amam tanto carne que açougues, frigoríficos e fazendas receberam R$ 469,5 milhões em ajuda na pandemia

19 de outubro de 2021
Darrell Craig Harris /Gettyimages

Governo sinaliza, para o futuro, mais dinheiro disponível para a indústria da carne, sem que os estados utilizem seus próprios fundos

A pandemia Covid-19 e os surtos em fábricas de processamento de carne [nos Estados Unidos] desencadearam enormes problemas na cadeia de suprimentos, levando à escassez de carne em supermercados e preços mais altos ao consumidor no ano passado.
Em resposta, os governos estaduais e locais enviaram mais de US$ 84 milhões (R$ 469,5 milhões na cotação de hoje, 19)  em CRF (Coronavirus Relief Funds) para açougueiros, frigoríficos e produtores rurais, entre 1º de abril de 2020 e 30 de junho de 2021. Pouco mais de 40% dessa alocação veio de três estados: Missouri, Montana e Oklahoma.

A análise foi feita para a Forbes usando dados disponíveis do Pandemic Response Accountability Committee.

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As doações foram alocadas a partir de R$ 838,5  bilhões (US$ 150 bilhões), em recurso total do CRF dado aos estados e grandes localidades na primavera de 2020 da Lei Cares [sigla em inglês para lei de Auxílio a Coronavírus, Alívio e Segurança Econômica]. Embora a legislação federal incluísse bilhões em fundos adicionais para o USDA (Departamento de Agricultura dos EUA) apoiar a assistência alimentar, fazendeiros e pecuaristas, grande parte disso foi para ajudar as fazendas a cobrir suas perdas, não para resolver o problema geral.

Os subsídios federais também faltaram a alguns grupos. Em particular, a maioria dos criadores de aves não era elegível para a ajuda do USDA, no ano passado, porque a Lei Cares exigia que o agricultor fosse o dono direto da mercadoria. Mas a maioria dos avicultores trabalha sob contrato para uma grande empresa e não é proprietária das aves. “Esses produtores”, observou o American Farm Bureau, “viram sua renda significativamente reduzida, pois muitas de suas granjas (com financiamentos para a sua construção ainda não quitados) permaneceram vazias devido a interrupções na cadeia de suprimentos no início da pandemia. ”

A ajuda estadual e local distribuída mostra como os governos confiaram em seu financiamento flexível para ajudar a indústria da carne a investir em melhores infraestruturas. Por exemplo, o governador de Wyoming, Mark Gordon, criou o Programa de Subsídio de Expansão para Processamento de Carne, que acabou concedendo R$ 26,8 milhões (US$ 4,8 milhões) a 29 solicitantes ao crédito para reembolsar os custos associados ao processamento de carne e expansão da capacidade.

Frank Schmidt, proprietário de uma fábrica de processamento na cidade de Cody, disse na época que as pessoas viajaram até 160 quilômetros até sua fábrica no ano passado, quando a carne escasseava. “Estávamos a ponto de exaurir nossos recursos quando o subsídio foi disponibilizado”, disse ele, acrescentando, “ele veio na hora certa para garantir o processamento regional e deu aos produtores um impulso muito necessário durante um período de incerteza”.

A demanda por ajuda específica para questões de cadeia de abastecimento e processamento foi destacada em Oklahoma. Ela concedeu US$ 10 milhões em doações para a indústria de carnes no ano passado – mas a demanda foi dez vezes maior. O estado recebeu 195 pedidos de subsídios, totalizando R$ 580,2 milhões (US$ 103,8 milhões) solicitados.

“Reconheço que  US$ 10 milhões (R$ 55,9 milhões) em doações não resolverão todos os nossos desafios no setor de processamento de carne”, disse a secretária de Agricultura, Blayne Arthur, na época. “No entanto, estou confiante de que isso criou uma base sólida para aumentar a capacidade em nosso estado.”

Muitos estados também conseguiram resolver a lacuna dos criadores de aves. Por exemplo, o Missouri concedeu mais de R$ 89,4 milhões (US$ 16 milhões) em doações – o máximo entre todos os estados – destinadas a apoiar as operações de processamento de carnes e aves com menos de 200 funcionários, para fortalecer a cadeia de abastecimento alimentar do estado.

No total, os governos enviaram ajuda para mais de 200 empresas do setor de carnes e o valor médio do prêmio foi de R$ 927,9 mil (US$ 166 mil). No futuro, mais dinheiro estará disponível para a indústria da carne, sem que os estados utilizem seus próprios fundos. O USDA anunciou recentemente sua intenção de investir R$ 2,79 bilhões (US$ 500 milhões) em fundos do American Rescue Plan para expandir a capacidade de processamento de carnes e aves para que os agricultores, pecuaristas e consumidores tenham mais opções no mercado.

O departamento também anunciou mais de R$ 838,5 milhões (US$ 150 milhões) para as médias e pequenas instalações de processamento existentes, para ajudá-los na gestão, competir no mercado e obter o suporte de que precisam para alcançar mais clientes.

* Liz Farmer é jornalista, especialista em política fiscal com foco nos gastos de recursos públicos de governos estaduais e municipais. É bolsista no Rockefeller Institute of Government, onde escreve sobre a interseção do governo e o futuro do trabalho. Além de colaboradora da Forbes, também escreve para o Wall Street Journal, Bloomberg, CityLab entre outras.