China reduzirá importação de soja dos EUA após atrasos e Brasil ganha espaço

3 de dezembro de 2021
Paulo Whitaker/Reuters

Mesmo depois de safra recorde, exportações de soja dos EUA foram prejudicadas pelo Furacão Ida

As importações de soja pela China de carregamentos dos Estados Unidos em 2021/22 devem cair drasticamente em relação à temporada passada, depois de atrasos no embarque em função do furacão Ida.

Uma safra de soja do Brasil com maiores volumes esperados para o início de 2022 também encurtou a janela de exportação dos EUA para a China, maior compradora mundial de soja.

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As importações totais de soja norte-americana pela China para o ano comercial que começou em 1º de setembro podem cair pelo menos 20%, para menos de 30 milhões de toneladas, de acordo com analistas e importantes importadores.

Os agricultores dos EUA acabam de colher sua segunda maior safra de soja da história e, normalmente, exportam cerca de 45-50% da produção anual.

Mais da metade dessas vendas tende a ir para a China, que por sua vez faz cerca de 70% de seus negócios com soja nos EUA durante a janela pós-colheita de setembro a dezembro.

Mas este ano, as consequências do furacão Ida – que prejudicou o carregamento da safra nos principais portos dos EUA por vários dias em setembro – resultaram em uma queda de 81% nos embarques para a China naquele mês em relação ao ano anterior, segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA.

Além disso, os principais impulsionadores da demanda de soja da China – margens de esmagamento e produção de suínos – atingiram um ponto fraco durante a janela de pico da colheita nos EUA, reduzindo o apetite da China por suprimentos dos EUA.

Os carregamentos dos EUA aumentaram drasticamente em outubro para mais de 10 milhões de toneladas, de acordo com dados da Refinitiv, mas agora enfrentam a perspectiva de um início mais cedo do que o normal para a temporada de exportação de 2022 do Brasil, maior produtor mundial de soja.

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“A safra de exportação dos EUA (soja) teve um início ruim este ano. As margens de esmagamento eram baixas e a demanda não era boa naquela época”, disse Bai Jie, analista da Cofco.

“Em seguida, houve o impacto do furacão Ida. E parte do mercado dos EUA foi espremida pelos grãos brasileiros”, afirmou Bai.

DESVANTAGEM

Os embarques de soja dos EUA para a China em 2020-21 foram os mais fortes desde a temporada 2016-17, graças em parte ao início atrasado da temporada de exportação do Brasil de 2021 que ajudou a ampliar as vendas nos EUA.

“O grão americano não terá essa oportunidade nos próximos meses, já que o plantio do grão brasileiro está rápido este ano, o que significa que haverá um grande embarque de grãos para a China no primeiro trimestre de 2022”, disse Zou Honglin, analista da divisão de agricultura da Mysteel, uma consultoria de commodities com base na China.

A soja dos EUA também enfrentou ventos contrários de preços, com ofertas de exportação sendo negociadas bem próximas das do Brasil, onde os custos de frete para a China são mais baixos.

Além disso, a soja brasileira oferece melhores margens de esmagamento para os processadores de soja chineses, graças aos níveis de proteína mais elevados na soja brasileira, em média.

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As margens para a soja norte-americana enviada do Noroeste Pacífico para entrega em fevereiro estão em cerca de 500 iuanes (US$ 78,49) por tonelada, em comparação com 684 iuanes para o grão brasileiro, de acordo com a Mysteel.

“Os grãos brasileiros estão um pouco mais baratos e o preço reina”, disse um trader asiático com uma importante trading.

“JANELA ESTÁ FECHANDO”

Os importadores de soja chineses quase concluíram as compras de dezembro e agora estão atendendo às necessidades de janeiro e fevereiro, no momento em que a temporada de exportação brasileira aumenta, de acordo com um exportador dos EUA.

Os embarques de soja em janeiro da Costa do Golfo foram oferecidos em torno de US$ 500 por tonelada FOB no final do mês passado, com um adicional de US$ 78 ou US$ 80  por tonelada para frete para a China. A soja brasileira está em torno de US$ 520 por tonelada FOB, com frete em torno de US$ 60 por tonelada, disse ele.

“Tem sido um pouco decepcionante do ponto de vista dos EUA. O Brasil está entrando em nossa janela de exportação um pouco mais a cada ano”, afirmou o exportador. “Nossa janela está fechando.”

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As chegadas de soja na China em novembro-dezembro serão principalmente carregamentos dos EUA, mas os embarques brasileiros devem aumentar drasticamente durante janeiro-março para mais de 6 milhões de toneladas, de acordo com Zou, da Mysteel.

Isso representaria um aumento de mais de quatro vezes em relação aos 1,35 milhão de toneladas durante o primeiro trimestre de 2021.

Com a expectativa de que a China responda por quase 60% de todas as importações de soja nesta temporada, os exportadores dos EUA não conseguirão encontrar um único grande comprador para substituí-la. Europa, México, Argentina, Egito e Tailândia são os próximos cinco maiores importadores, de acordo com o USDA, mas compram juntos apenas um terço do total da China. (Com Reuters)