Os Estados Unidos são o maior consumidor de suco de laranja do mundo. O estado da Flórida, seu maior produtor, domina o mercado local. O Brasil, o maior produtor global, enfrenta altas tarifas para colocar seu produto no mercado norte-americano, sendo este um tema que não sai da pauta entre os dois países. Assim, tudo o que ocorre lá, interessa aos produtores brasileiros. Confira, a seguir, o atual cenário naquele país, por causa do greening, doença causada pelas bactérias que atacam os pés de laranja e que também ocorre no Brasil:
“A colheita de cítricos dos EUA em janeiro está dando outro golpe para os produtores de laranja da Flórida. A temporada 2021/22, que vai do outono ao verão, deve render menos de 45 milhões de caixas de 90 libras no estado. Isso tornaria pela primeira vez a safra da temporada menor do que a da Califórnia, que deve produzir mais de 47 milhões dessas caixas.
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Enquanto os compradores podem estar olhando para o preço do suco de laranja subindo, a ameaça é mais existencial para os citricultores da Flórida e seus afiliados, que estão se voltando para o governo do estado para pedir ajuda no combate à doença bacteriana do greening cítrico, que está por trás da calamidade. Segundo a Newsweek, a colheita da Flórida seria a pior em mais de 75 anos.
Muitos produtores já se qualificam para assistência a desastres por meio do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) para substituir as árvores que a doença matou. Mas, para cultivar pomares mais resilientes no futuro, a Universidade da Flórida está recomendando tratamentos com nutrientes para promover respostas de defesa nas plantas. O cientista do solo e chefe do Instituto de Ciências Agrícolas e Alimentares da UF, J. Scott Angle, disse que visitaria a capital do estado para fazer lobby por diretrizes atualizadas de gerenciamento de nutrientes. Em 2021, a UF/IFAS recebeu mais US$ 2,2 milhões em financiamento federal para combater a crise.
A indústria cítrica dos EUA já enfrentou contratempos antes, principalmente por causa do clima adverso. No entanto, as quedas no tamanho da safra sempre foram temporárias, como no caso do intenso inverno na temporada 1998/99 e do furacão Irma na temporada 2017/18 (afetando apenas a Flórida).
O declínio por causa do greening dos citros, no entanto, tem sido muito mais gradual e preocupante. Nos dados do USDA, a queda das lavouras após a safra 2003/04 – quando o greening cítrico surgiu pela primeira vez no contexto comercial – é bastante visível. Naquela temporada, a Flórida ainda produziu 242 milhões de caixas de 90 libras. A safra desta temporada não constituiria nem 20% disso.
O caminho para derrotar a doença ainda não está claro, apesar das iniciativas de pesquisa e substituição das plantas em andamento. Bactérias cítricas são transmitidas por um inseto chamado psilídeo cítrico asiático, que é nativo da Ásia, mas se espalhou para regiões de cultivo de cítricos na África e nas Américas, causando estragos ao longo do caminho antes de chegar aos Estados Unidos. A praga em questão também foi encontrada na Califórnia, onde existe um extenso programa de erradicação e controle de fronteiras para limitar a propagação da doença.”
* Katharina Buchholz é colaboradora na Forbes EUA, jornalista especializada em leitura de dados estatísticos.