Em novembro, mesmo antes de 2024 terminar, as exportações brasileiras de café alcançaram o recorde de 46,399 milhões de sacas, superando o maior volume registrado até então, no ano de 2020. Agora, com os números de dezembro, é possível cravar o feito. Em toneladas, no acumulado dos 12 meses, o país embarcou 2,8 milhões de toneladas do grão, volume 30% maior que em 2023.
As exportações renderam US$ 11,3 bilhões (R$ 69,2 bilhões na cotação atual), um aumento de 55% no período, segundo o Ministério da Agricultura e Abastecimento (Mapa). A União Europeia importou US$ 6,6 bilhões; os Estados Unidos (US$ 1,9 bilhão ou R$ 11,6 bilhões), o Japão (US$ 562 milhões ou R$ 3,4 bilhões), a Turquia (US$ 337,6 milhões ou R$ 2 bilhões) e a Rússia (US$ 266,1 milhões ou R$ 1,6 bilhões), formando o bloco dos principais compradores do café brasileiro.
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Em entrevista à Forbes Agro, Marcos Matos, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), avaliou o cenário da cafeicultura em 2025 e revelou tendências, especialmente na área de sustentabilidade. O Cecafé reúne cooperativas como a Cooxupé (Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé), a maior cooperativa de café do mundo; tradings internacionais, entre elas a Volcafé, Olam International, Louis Dreyfus Company (LDC) e ED&F Man e exportadoras nacionais, incluindo nomes como Cia. Iguaçu, Tristão Companhia de Comércio Exterior e Stockler Comercial e Exportadora. Confira:
Quais são as expectativas para a produção brasileira de café em 2025?
É difícil analisar o cenário do café agora, porque é uma cultura perene, em que o clima influencia a produtividade e a qualidade. No momento, temos um verão que está chuvoso, mas que tivemos regiões produtoras que ficaram muitos dias sem chuva.
Mas, mais complexo que isso, foram as altas temperaturas nas regiões produtoras de café arábica. O cenário é incerto por causa da fenologia do café — as seis fases vegetativas e reprodutivas. Nós acabamos a terceira fase agora, com a florada e a expansão dos frutos, que é de setembro a dezembro.
De janeiro até março, vamos ter a fase de granação dos frutos, em que o café mostra a sua produção e conseguimos fazer projeções de safra. O que o mercado compreendeu até o momento, por conta dessa dinâmica que a gente está vivendo, é que a safra de café arábica, no Brasil, pode ser menor, e a de conilon, que é os canéforas robustas, maior.
Quais serão as tendências com relação à sustentabilidade e inovação tecnológica na cadeia do café em 2025?
O tema dos bioinsumos vem muito forte na questão da sustentabilidade na cadeia do café neste ano. Há uma lei recente aprovada e sancionada em dezembro que incentiva o uso, incentiva a pesquisa, traz segurança jurídica para quem produz esses bioinsumos. Então, é um avanço muito importante para o país nessa agenda ESG. Outro tópico maior é a agricultura regenerativa diante dos desafios das altas temperaturas, e o projeto carbono que vai estar na agenda agora em 2025.
No café, no nosso projeto de carbono, tivemos vários anos fazendo uma verificação in loco, tanto em café arábica e conilon, mostrando que boas práticas transformam o café em balanço de carbono negativo.
Também nesse ano temos que nos preparar para a Lei Antidesmatamento da União Europeia, e isso vai demandar mais esse trabalho de rastreabilidade sócio-ambiental. Em termos de inovação, vamos ter novas formas de bebidas, e as geladas vêm muito forte, e têm um público muito aguerrido, especialmente nos Estados Unidos. A inovação tecnológica permeia toda a cadeia, desde a produção, com agricultura de precisão, irrigação de precisão, com máquinas mais modernas de benefício na indústria e também, obviamente, nas cafeterias, pensando nessas formas novas de preparo mais versáteis e pensando que o mundo está cada vez mais quente.
Quais são as preocupações e os desafios para o café?
Temos duas principais preocupações. A primeira é a questão das anomalias climáticas, que vieram para ficar. Conseguimos aumentar os ganhos de produtividade do café em 400%. Mas na última década, foi um sobe e desce por conta da questão climática, e o café sente isso, principalmente o arábica.
A segunda é a questão logística. Fazemos uma análise de quanto café está parado nos terminais portuários. Nosso último número é de 1,7 milhão de sacas que o Brasil deixou de exportar. O nosso exportador está pagando tarifas, taxas adicionais, custos com procedimentos e operacionais. Isso tira a margem do nosso exportador e o Brasil deixa de aferir um valor muito alto com os embarques.
Então, logística é seríssimo. Nossos portos estão com a capacidade totalmente esgotada. Temos também as tensões geopolíticas, os movimentos protecionistas e as discussões internas do Brasil, que, de certa forma, impactam a credibilidade do país lá fora.
Quais são as expectativas para as exportações de café em 2025?
Desde 2019, a gente exporta muito café. São 41 milhões de sacas em média, sem considerar 2024. Acho que é difícil falar em recordes, mas vamos ter exportações que serão suficientes para atender os nossos clientes, nos mais diversos e exigentes mercados.
Mas todos os blocos econômicos, continentes e países importadores de café brasileiro aumentaram a demanda. O Oriente Médio vem crescendo. Só no ano passado, de janeiro a novembro, cresceu 24%. A União Europeia, com quase 49%, é uma alta muito expressiva. Países Árabes, 36,1% e do Leste Europeu, 71%. Países produtores, como México, Colômbia, Vietnã, Indonésia e Índia, aumentaram em 31% a compra do café do Brasil.
Então, todos esses mercados, seguem aquecidos para 2025 e 2026. Nos chama atenção que a Alemanha está colada nos Estados Unidos, que é o nosso principal comprador. De janeiro a novembro, os Estados Unidos importou 7,4 milhões de sacas, e a Alemanha, 7,23 milhões. Isso porque as empresas, muitas torrefadoras, muitos dealers e traders estão na Alemanha e fazem a exportação, abastece os outros países da Europa.
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