Para o especialista, que trabalha com biotecnologia na preservação de peixes há dez anos, a maior dificuldade ao explicar o projeto é fazer com que as pessoas visualizem a importância dos corais em suas próprias vidas. “Os recifes de corais movimentam algo em torno de US$ 10 trilhões por ano em todo o planeta, segundo o Manual de Monitoramento Reef Check Brasil 2018”, destaca. “Se a partir de números a informação fica mais clara, eu posso dizer que um simples hectare é capaz de gerar até US$ 2 milhões por ano e que cerca de 100 países dependem diretamente dessas áreas marinhas. Estamos falando de 500 milhões de pessoas que precisam desse ambiente para viver.”
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Janaína Bumbeer, bióloga e analista de ciência e conservação da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, também ressalta a importância dos recifes para a infraestrutura das cidades costeiras. “Os corais funcionam como uma barreira de proteção para as cidades. Elas reduzem em 97% a energia das ondas do mar aberto. Imagina deixar toda essa área completamente vulnerável?”
Como se não fosse o bastante, Godoy ainda destaca o potencial biomédico dos corais. “Eles são animais sésseis, ou seja, não se locomovem. Sendo assim, se desenvolvem através da produção de substâncias químicas. Isso é super interessante: a chance de extração de substâncias para a produção de medicamentos e vacinas, por exemplo, é muito maior do que em uma floresta tropical como a Amazônia”, explica. “Proteger a existência desses seres é questão de sobrevivência.”
Um investimento necessário
Com uma equipe de mais de 20 pesquisadores e administradores, Godoy conta que a logística para a realização do estudo é intensa, necessitando fortemente de uma ajuda financeira. “Essa pesquisa só está acontecendo graças ao apoio privado. É o que tem tornado possível o desenvolvimento.” Ele explica que há duas bases importantes para o projeto: uma em Porto Alegre, na faculdade, e outra em Arraial d’ Ajuda, no sul da Bahia, perto dos recifes da região. “Precisamos viajar, mergulhar, coletar as colônias, transportar para a base e esperar para que a desova aconteça durante a noite, o que ocorre apenas em época de lua nova. É uma janela de tempo muito curta para trabalhar.”
Embora seja um tempo de reprodução complexo, o foco nessa espécie de coral – conhecida popularmente como coral cérebro – tem uma explicação muito sensata. “Ela é uma das responsáveis por moldar a estrutura dos recifes da costa brasileira e já está na lista como perigo de extinção. É uma espécie essencial ecologicamente”, diz Janaína. “Além disso, é uma espécie endêmica, que existe apenas em um lugar, no caso, no Brasil. Se elas entrarem em extinção, acabam no mundo inteiro”, completa.
O desaparecimento dos corais
A ação humana no contato direto com a natureza também pode impactar negativamente na saúde dos recifes. “Muitas pessoas não sabem, mas o coral é um animal, ele está vivo”, destaca. “O ecoturismo associado a regiões de recife de coral precisa ser feito com muita cautela, visto que muitas pessoas pisam nos corais achando que é uma pedra. Educação ambiental é algo urgente.”
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O professor ainda ressalta o cuidado no uso do protetor solar. “Praticamente 80% dos protetores solares tem oxibenzona, cientificamente comprovado como um produto que causa branqueamento nos corais.” Sendo assim, o indicado é não utilizar o produto em contato com a água – ou observar a fórmula utilizada. “Estima-se que 16 mil toneladas de protetor solar são deixados no mar pelos banhistas. Infelizmente, observamos, em várias regiões do mundo, um turismo desordenado.”
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