Apesar de alertas às mudanças climáticas emitidos pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, na sigla em português) desde 1990, as emissões globais continuaram a crescer na última década, chegando ao seu ponto mais alto na história.
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“Deixamos a COP26 em Glasgow com um otimismo ingênuo, baseado em novas promessas e compromissos”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres, na publicação do relatório.
“Mas as atuais promessas climáticas ainda representariam um aumento de 14% nas emissões. E a maioria dos grandes emissores não estão tomando as medidas necessárias para cumprir nem mesmo essas promessas inadequadas.”
Neste momento, apenas cortes drásticos de emissões nesta década em todos os setores, da agricultura e transporte à energia e construção, podem reverter o cenário, diz o relatório. Mesmo assim, os governos também precisariam intensificar os esforços para plantar mais árvores e desenvolver tecnologias que possam remover dióxido de carbono que já está na atmosfera, após mais de um século de atividade industrial.
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Enquanto relatórios anteriores do Painel sobre a mitigação de emissões de carbono tinham a tendência de focar na promessa de alternativas de combustíveis sustentáveis, como energia solar e eólica, o novo relatório destaca apenas a necessidade de cortar a demanda do consumidor.
“Muitas pessoas presumiram que a redução da demanda poderia ser atingida por meio de uma melhor eficiência”, disse o antropologista econômico Jason Hicket, da London School of Economics. “Mas a evidência que temos agora sugere que, em si, isso não será suficiente.”
“Aceitar um estilo de vida de menos consumo é quase a única medida política de ação rápida que sobrou para impedir impactos desastrosos das mudanças climáticas”, disse Daniel Quiggin, um pesquisador ambiental no instituto britânico Chatham House.
Essa “mitigação no lado da demanda”, como descreve o relatório, coloca o ônus nos governos para aprovar políticas que incentivem escolhas sustentáveis. Um exemplo seria investir em ciclofaixas e transporte público, bloqueando carros em centros urbanos para influenciar a escolha do público.
Uma década atrás, a redução da demanda era “politicamente intragável”, disse Quiggin. “Mas agora, com a pandemia e a crise entre Rússia e Ucrânia, estamos vendo… o começo da disposição política. Quando as pessoas realmente compreenderem a escala da crise e os problemas que ela pode causar, elas estarão dispostas a reduzir o consumo”.