Como as grandes estrelas da música, a aurora boreal costuma deixar seus fãs esperando por horas antes de iniciar um show. Ela também tem suas exigências: o céu precisa estar limpo, sem nuvens. Fugir para um lugar ermo, longe da interferência das luzes da cidade, também é essencial para vê-la em sua melhor forma. Naquela noite, a diva deu o ar da graça trajando verde, púrpura e amarelo e dançou no firmamento por uma hora. Do alto da montanha, Mattos tinha a sensação de poder tocá-la. “A aurora se mexia rapidamente e eu me sentia no topo do mundo”, relembra emocionado. O espetáculo – de grau 10 na escala da Nasa, ou seja, o nível máximo – aconteceu em janeiro de 2013 e foi um dos fenômenos mais impressionantes presenciados por Mattos, caçador de aurora boreal desde 2011.
O gaúcho de Passo Fundo percorreu o mundo – morou no Alasca, na Austrália e na Tailândia – antes de se estabelecer na ilha de Spitsbergen, pertencente ao arquipélago de Svalbard, região administrada pelo governo da Noruega, atraído por sua exuberante paisagem polar (60% da região é coberta por geleiras). Estava a caminho do supermercado quando trombou com uma aurora boreal pela primeira vez. “Eu não costumava olhar muito para o céu, mas de repente vi aquela luz verde e fiquei hipnotizado”, afirma. Viciou. Agora, de novembro a fevereiro, meses de escuridão total no arquipélago, o fotógrafo dedica-se à caça de aurora boreal. No período de sol ininterrupto, ou seja, de abril à metade de setembro, ele ajusta o foco em direção à vida selvagem ártica. Nessa época do ano, ursos e morsas são os protagonistas de suas lentes.
“O melhor período para ver aurora boreal é de setembro a março”, afirma o advogado Daniel Japor, outro brasileiro capturado pelos feitiços dessa dama temperamental. Viu sua primeira aurora há nove anos na cidade de Tromso, Noruega. Apaixonado, decidiu voltar para visitá-la nos anos seguintes. Em 2010, abandonou a carreira no direito para inaugurar a agência Geotrip, especializada na caçada de aurora boreal. Atualmente, acompanha cerca de 150 brasileiros por ano, distribuídos em oito viagens, no roteiro formado por Tromso, Longyearbyen e Kilpisjärvi, na Finlândia.
Em outubro de 2014, presenciou um dos mais imponentes espetáculos de sua carreira de caçador. E olha que são mais de 100 auroras no currículo. “Parecia uma trança de cabelo. Mechas nas cores púrpura, verde e amarela giravam no horizonte. O espetáculo durou 15 minutos”, relembra.
Japor escolheu Tromso como destino principal de seu roteiro turístico devido às suas temperaturas amenas quando a comparamos com outras regiões localizadas no cinturão de aurora boreal. A cidade litorânea de 70 mil habitantes recebe a corrente marítima do Golfo e dificilmente vai abaixo dos 10 graus negativos. Muito frio? Fairbanks, no Alasca, outro famoso point de caçadores de aurora, chega facilmente aos 30 graus negativos. Islândia; Murmansk, na Rússia; Kiruna, na Suécia; e partes do Canadá são outros lugares de onde é possível avistar a aurora boreal.