A complicação vem quando se começa a beber recorrentemente além da conta, ao ponto de ficar alcoolizado. O que era uma postura mais relaxada vira grande euforia. O que era a redução da autocensura vira, muitas vezes, falas inconvenientes e inapropriadas. A fala fica pastosa, os movimentos e reações, mais lentos e por vezes descoordenados, cresce a autoconfiança, porém a atenção fica mais curta.
Esses sinais de embriaguez aparecem quando o álcool entra na corrente sanguínea, afetando as funções do cérebro e do corpo. Você conhece a frase “não existe almoço grátis”? A ressaca do dia seguinte é exatamente isso. A conta que o organismo cobra por ter tido de dar conta daquele excesso de bebida alcoólica.
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É o que se convencionou chamar de tolerância ao álcool. A tolerância funciona mais ou menos como o freio do seu carro. Pise no freio de um carro novo, pise só um pouquinho e ele responde imediatamente. À medida que se usa o freio e as pastilhas ficam mais desgastadas (o álcool que você ingere), vai ficando mais difícil de o carro responder.
Até que um dia, você pisará no freio e simplesmente o seu carro continuará em desabalada carreira. Chegará um dia em que um gole, um gole mesmo (não uma dose) será capaz de deixá-lo completamente bêbado; ou seja, uma quantidade de álcool absurdamente pequena fará um estrondo.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.