Tenho um transtorno de saúde mental. Devo ter medo de ter um filho?

13 de abril de 2023
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Crianças manuseando um tablet na escola

Começo dizendo o seguinte. É saudável ter medo de ter um filho. Aquele ser que chega revoluciona as nossas vidas em muitos sentidos, ao ponto de vez ou outra nos questionarmos se somos capazes de dar conta dele.

Entretanto, essas dúvidas não deveriam ser um impeditivo para o desejo de ser pai ou mãe, ainda que você tenha um problema de saúde mental. Primeiro, porque preocupar-se é uma coisa boa. Indagar-se se você pode lidar com o que quer que a paternidade ou a maternidade tragam mostra que você é o tipo de pessoa que pode ser um bom pai ou mãe, mas não sabe. Segundo, porque, diferentemente de pais sem questões de saúde mental mais significativas, você certamente estará atento a sinais que se seu filho venha a apresentar e, captando-os, buscar um profissional antes que o quadro se agrave.

Quantas histórias não escutamos de pais que só se deram conta de que seu filho tinha algo mais grave quando ele colapsou? O fato de não ter um transtorno mental não significa que o filho não possa apresentá-lo no futuro. E o contrário também é verdadeiro: ter um problema de saúde mental não é garantia de que o filho desenvolverá a mesma coisa. Transtornos mentais têm, sim, um componente genético. Mas isso não é suficiente para alguém apresentá-lo. Há muitos outros fatores em jogo.

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Pais com transtornos mentais, para exercerem bem a função paterna ou materna, têm de – eles mesmos – cuidar de seus problemas. Ao fazê-lo, eles dariam um exemplo fabuloso a seus filhos.

Além disso, o apoio que esses pais dariam a esse filho que talvez exiba uma questão mental, o olhar atento deles, o encaminhamento precoce para um médico, possivelmente farão com que essa criança tenha uma vida muito melhor e mais plena do que a deles.

O fato de que esses pais estão alertas e dispostos a reconhecer algum problema em seus filhos e enfrentá-lo é o primeiro passo para que essas crianças tenham a chance de ser acompanhadas, tratadas e possam desfrutar da vida.

Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.

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