Entretanto, essas dúvidas não deveriam ser um impeditivo para o desejo de ser pai ou mãe, ainda que você tenha um problema de saúde mental. Primeiro, porque preocupar-se é uma coisa boa. Indagar-se se você pode lidar com o que quer que a paternidade ou a maternidade tragam mostra que você é o tipo de pessoa que pode ser um bom pai ou mãe, mas não sabe. Segundo, porque, diferentemente de pais sem questões de saúde mental mais significativas, você certamente estará atento a sinais que se seu filho venha a apresentar e, captando-os, buscar um profissional antes que o quadro se agrave.
Quantas histórias não escutamos de pais que só se deram conta de que seu filho tinha algo mais grave quando ele colapsou? O fato de não ter um transtorno mental não significa que o filho não possa apresentá-lo no futuro. E o contrário também é verdadeiro: ter um problema de saúde mental não é garantia de que o filho desenvolverá a mesma coisa. Transtornos mentais têm, sim, um componente genético. Mas isso não é suficiente para alguém apresentá-lo. Há muitos outros fatores em jogo.
Pais com transtornos mentais, para exercerem bem a função paterna ou materna, têm de – eles mesmos – cuidar de seus problemas. Ao fazê-lo, eles dariam um exemplo fabuloso a seus filhos.
Além disso, o apoio que esses pais dariam a esse filho que talvez exiba uma questão mental, o olhar atento deles, o encaminhamento precoce para um médico, possivelmente farão com que essa criança tenha uma vida muito melhor e mais plena do que a deles.
O fato de que esses pais estão alertas e dispostos a reconhecer algum problema em seus filhos e enfrentá-lo é o primeiro passo para que essas crianças tenham a chance de ser acompanhadas, tratadas e possam desfrutar da vida.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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