Perfeccionistas: manter a régua alta nem sempre faz bem à saúde mental

26 de março de 2024
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Há uma linha tênue entre a busca pela excelência e a busca pela perfeição

Eu sou uma pessoa que busca a excelência em tudo o que faço. Busco tanto que minha equipe brinca comigo que as coisas têm de estar no “padrão AG” (AG, das iniciais do meu nome, Arthur Guerra). Padrão AG é, entre outras coisas, não esquecer de colocar um ponto final ao final de um texto. Para mim, isso é importante.

Começo com esta autorreflexão para dizer que há uma linha tênue entre a busca pela excelência e a busca pela perfeição. Em um mundo que privilegia a competência e a competitividade, esses termos passaram a virar sinônimos. Mas não são.

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Ao contrário do que muita gente possa pensar, perfeccionismo não aumenta a chance de sucesso de alguém. Pelo contrário. Ao estabelecer uma régua pessoal que permanentemente está nas alturas, impede o perfeccionista de saborear os seus ganhos quando eles chegam.

É importante lembrar que todo ganho, seja ele profissional ou pessoal, não surge do dia para a noite, mas é resultado de processos graduais. É nesse caminhar que aprendemos, desenvolvemos competências e nos tornamos melhores pessoas e profissionais.

O resultado é que o perfeccionista está fadado à frustração, a pensamentos negativos, à angústia, à ansiedade e à infelicidade, já que a régua que ele se coloca na vida é inalcançável.

Além disso, o perfeccionista costuma medir o seu valor pelo resultado que ele alcança. Como geralmente o saldo do que ele faz sempre “poderia ter sido melhor”, ele se culpa, ou culpa uma outra pessoa (um liderado, por exemplo) por algo ter ficado aquém do que ele imaginava e esperava.

O perfeccionismo, seja para a pessoa com esse traço, seja para quem vive ao redor dela, pode cobrar um preço muito alto. É nesse momento em que podemos falar de um transtorno: quando alguma questão de saúde mental faz uma pessoa ou alguém no entorno dela sofrerem.

Como manejar essa questão? Por mais óbvio que isso pareça, a ideia é começar baixando um pouco a régua pessoal. Parece simples, mas o perfeccionista tem grande dificuldade de fazer isso. A sugestão é, então, pesar prós e contras. Será que o tempo dedicado a finalizar “perfeitamente” uma tarefa de fato mudou todo o cenário na sua organização? E para você? Mudou realmente algo ter investido tanto na busca por essa perfeição?

Converse com um terceiro: um colega de trabalho, um amigo, um parente. Você pode pedir para eles avisarem você caso esteja se excedendo. Troque a perfeição pela excelência, ou seja, tenha como bússola sempre fazer o seu melhor dado o tempo e os recursos que você tem à sua disposição. Sua qualidade de vida e sua saúde mental vão agradecer.

Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.

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