O The New England Journal of Medicine, um dos periódicos mais relevantes na área da Medicina, publicou neste mês um artigo com dados de um estudo que muda a prática clínica para o tratamento do câncer de colo de útero, doença que afeta mais de 17 mil brasileiras anualmente.
Como coautor deste artigo, tenho a satisfação de compartilhar os resultados desta pesquisa que avaliou uma nova medicação para este tumor, um anticorpo conjugado à droga chamado tisotumab vedotin.
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O estudo envolveu 502 mulheres que já haviam passado por tratamentos anteriores. As pacientes foram divididas em dois grupos: o primeiro usou este novo medicamento e o segundo utilizou quimioterapia. Como resultado, a sobrevida global foi significativamente maior no primeiro grupo, com um risco 30% menor de morte.
Ou seja, em pacientes com câncer do colo do útero recorrente, o tratamento de segunda ou terceira linha com tisotumab vedotin resultou numa eficácia significativamente maior do que a quimioterapia.
Antes do tratamento, a prevenção e o diagnóstico precoce
Como já destacamos algumas vezes neste espaço, a principal causa do câncer de colo do útero é a infecção persistente por certos tipos de HPV. E, neste contexto, a vacinação contra este vírus é a principal medida de prevenção.
Desde abril de 2024, meninos e meninas de 9 a 14 anos de idade e adolescentes até 19 anos não vacinados devem receber uma dose da vacina contra o HPV disponível no SUS gratuitamente. As recomendações para os demais grupos (imunossuprimidos e vítimas de violência sexual), seguem com o esquema anterior, de até três doses.
A vacinação é a principal forma de evitar não só o câncer de colo de útero, mas outros tipos de tumores, como de pênis, vagina, vulva, orofaringe e canal anal.
Para detecção de alterações, lesões pré-cancerosas e infecções pelo HPV ligadas à doença, o Papanicolau é o exame mais utilizado, com indicação anual após o início da vida sexual. Pode ser acompanhado por outros exames ginecológicos, que auxiliam a avaliação clínica.
A descoberta precoce garante um tratamento mais eficaz do câncer de colo de útero. Por isso, devemos incentivar e informar sobre a prevenção e o rastreamento desta doença, para reverter os índices ainda altos de incidência e mortalidade em algumas regiões do país.
Fernando Maluf é cofundador do Instituto Vencer o Câncer e professor livre-docente da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo.
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