
“A primeira vez que provei o Big Salt foi em uma degustação para nossos restaurantes. E foi um daqueles momentos de quando está conversando com alguém, mas então a pessoa diz algo que prende sua atenção e você pensa: ‘Espera, espera, o que você acabou de dizer?’ Foi assim”, conta Vonda Freeman, diretora de programas de bebidas do The Indigo Road Hospitality Group, sediado em Charleston, Carolina do Sul, nos Estados Unidos.
Ela acrescenta: “Eu senti o aroma, achei bonito, experimentei e então parei. Disse: ‘Espera, faz isso de novo. Deixa eu voltar e viver esse momento outra vez.’ Porque era tão bonito logo de início e tão expressivo”.
O misto de sensações foi provocado pelo Big Salt, vinho lançado em 2016 por John House e sua esposa, Ksenija Kostic House, como uma extensão da Ovum, vinícola que desde 2011 se dedica a mostrar o terroir e a diversidade do Oregon fora do Vale do Willamette, amplamente reconhecido como o coração da produção de Pinot Noir nos EUA. Mas, quando House soube das cofermentações que estavam ocorrendo na Espanha, sua mente ficou inquieta.
A cofermentação é um processo em que duas ou mais variedades de uvas são fermentadas ao mesmo tempo, no mesmo tanque, em vez de serem fermentadas separadamente e depois misturadas em um blend. “Na época, todos os meus vinhos preferidos e os que eu bebia na Espanha eram de cofermentações, mas de vinhedos plantados no início dos anos 1900”, conta ele. “Pensei que adoraria fazer isso na Ovum, mas eu não tenho vinhedos de 115, 120 anos”.
Esse não foi um completo banho de água fria, porque outra ideia semelhante surgiu durante uma conversa com Raul Perez, renomado enólogo espanhol que visitava os vinhedos dos House. “Estávamos conversando e foi algo do tipo: ‘Talvez pudéssemos fermentar juntos alguns vinhedos diferentes.’ Isso ficou rondando minha cabeça, e acabou me levando adiante”, diz ele.

John House e sua esposa, Ksenija Kostic House são fundadores da Ovum, vinícola do Oregon, nos EUA
Sócios em um bar mais alternativo na época, House queria ter um vinho para servir aos clientes, mas não estava satisfeito com as opções disponíveis. Então, aproveitou para começar a experimentar cofermentações, até perceber que talvez estivesse diante de algo maior do que ele mesmo imaginava.
“Ksenija provou e notou que era incrivelmente aromático, muito mais complexo do que se tivéssemos feito um blend convencional; ou seja, sentimos que a cofermentação realmente desbloqueou um outro nível de aroma”, diz House. Para ele, esse vinho é como gravar uma música ao vivo no estúdio, em vez de misturar cada parte depois — o Big Salt é o mixtape perfeito, por assim dizer.
“O vinho é o que é. É de alta qualidade porque vem de vinhedos premium, cultivados com cuidado, mas é um vinho branco cofermentado de Oregon que custa US$ 20 (R$ 114 na cotação atual)”, afirma.
Desde então, a marca se expandiu, lançando o PNK Salt, que já pode ser encontrado em algumas unidades do Whole Foods, e o Big Salt Orange Rosé. Mas, mesmo com a crescente popularidade, ainda é um vinho que costuma arrancar sorrisos discretos de quem é do meio quando mencionado.
“Vi uma frase no site deles, algo como: quando você bebe um dos vinhos da Ovum, eles querem que seja como ouvir rádio AM em estéreo. É um retorno às raízes, mas que chama sua atenção. Isso é exatamente quem eles são”, diz Freeman.
* Emily Cappiello é colaboradora da Forbes EUA, onde escreve sobre comida, vinhos, drinks e cervejas.