Fabricante italiana de máscaras e filtros auxilia na luta contra coronavírus e planeja IPO

18 de março de 2020
GettyImages/ Sean Gallup / Equipe

A fabricante italiana GVS busca suprir a alta demanda mundial por máscaras e filtros, itens essenciais no combate ao coronavírus

O bloqueio nacional sem precedentes da Itália entra em sua segunda semana, e as infecções da nova pandemia de coronavírus seguem crescendo aos milhares todos os dias. Hospitais no norte do país sofrem com a pressão, com pouca oferta de máscaras e ventiladores pulmonares necessários. O índice de referência de ações da Itália, o FTSE MIB, caiu 17% na última quinta-feira (12), a pior queda de um dia em sua história. Parte dela foi amenizada com uma recuperação de 7% na sexta-feira (13). Em meio ao caos e à perturbação, uma empresa familiar aproveita o momento para abastecer médicos e enfermeiros nas linhas de frente, e quando a tempestade finalmente passar, entrar na bolsa de valores de Milão.

A GVS Group, fabricante de filtros médicos e máscaras de risco biológico, é talvez uma das poucas empresas italianas que aumentaram a atividade em meio à quase total paralisação do país. Fundada em 1979 por Grazia Valentini Scagliarini (o nome da empresa vem de suas iniciais), a GVS começou a fazer filtros para dispositivos médicos, posteriormente ramificando-se em máscaras e filtros mais especializados para a indústria automobilística. A GVS planeja um IPO desde setembro de 2019, ano que fechou com US$ 257 milhões em receita (230,6 milhões de euros), um aumento de 9% em relação a 2018. O lucro líquido também aumentou 43%, para US$ 36,9 milhões (33,1 milhões de euros). Mais de 90% da receita vem de fora da Itália, com mais de 2.700 funcionários em 11 países.

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Agora liderada por um dos filhos de Scagliarini, o CEO Massimo Scagliarini, a GVS está se posicionando para atender às necessidades da crescente crise e emergir mais forte do que era antes. Para atender à crescente demanda de hospitais, a GVS está contratando 120 novos trabalhadores e abrindo quatro novas linhas de produção para suas máscaras na Itália, incluindo uma para máscaras especiais de risco biológico, testada com vírus vivo.

A demanda por seus filtros para ventiladores pulmonares aumentou 50% em relação ao mesmo período do ano passado, com os dispositivos que salvam vidas em um número cada vez menor. “Nosso gerente de fábrica na China está me pedindo para dobrar as linhas de produção porque não consegue acompanhar a demanda”, disse Scagliarini à Forbes em uma entrevista por telefone na última sexta-feira (13). “Falei com uma empresa vizinha que produz ventiladores pulmonares e estamos tentando ver como trabalhar com eles porque eles estão fornecendo à agência de proteção civil italiana. Eles estavam entregando ventiladores para hospitais sem filtro porque haviam acabado.”

A GVS nasceu em 1979 na pequena cidade de Zola Predosa, nos arredores industriais de Bolonha, a partir de uma ideia transmitida pelo pai de Grazia, ele era engenheiro da fabricante de autopeças Magneti Marelli. Convencido de que havia um mercado inexplorado de filtros industriais, ele incentivou cada uma de suas três filhas a abrir uma empresa que fabrica filtros para diferentes indústrias. Em uma área densa com empresas de assistência médica, Grazia se concentrou no mercado de filtros sanguíneos médicos e criou a GVS.

Nas décadas de 1980 e 1990, a GVS expandiu construindo duas novas fábricas na Itália e subsidiárias na Sérvia, na Argentina e no Brasil. A empresa recebeu seu primeiro financiamento externo em 2001, quando vendeu uma participação de 20% para o B Group, uma empresa italiana de private equity. “Como todas as empresas familiares da Itália, tomamos decisões em torno da mesa da cozinha”, disse Scagliarini. “Queríamos crescer e nos tornar mais profissionais”.

A fundadora Grazia Valentini passou o controle diário da empresa para seus filhos, Massimo e Marco, em 2002. A GVS se expandiu para mais seis países, incluindo Japão, China e EUA, culminando na venda de 2011 de uma participação de 18% para o fundo de private equity Mandarin Capital Partners, com sede no Luxemburgo, por US$ 30,2 milhões, segundo o Pitchbook. “Éramos lucrativos e queríamos encontrar um parceiro que pudesse nos ensinar as habilidades e os segredos de fusões e aquisições”, disse Scagliarini.

A estratégia valeu a pena, e a GVS concluiu uma série de aquisições de fabricantes menores de filtros e equipamentos de risco biológico em seis países, incluindo três nos Estados Unidos. A família Scagliarini recuperou a propriedade total quando comprou a participação da Mandarin Capital (por um valor não divulgado) em 2015.

Agora, mais da metade da receita da empresa vem de sua divisão de saúde, que inclui filtros para ventiladores pulmonares, mas Scagliarini também está procurando expandir a divisão de saúde e segurança da empresa para capitalizar a demanda por máscaras de risco biológico.

A GVS está envolvida na luta contra a Covid-19 desde o começo, antes de iniciar sua marcha pela Europa e pelo resto do mundo. Nos primeiros dias da pandemia, quando o coronavírus ainda era limitado à China, a GVS doou filtros e suprimentos de sua fábrica na cidade de Suzhou, no leste da China, para atender à demanda em Wuhan, o epicentro do surto. A fábrica reabriu em 11 de fevereiro com apenas um quarto de sua força de trabalho, levando gradualmente os funcionários de volta ao trabalho para atender a requisitos rigorosos de saúde e agora está produzindo filtros para exportação para a Itália. Na quarta-feira passada, a GVS converteu duas linhas de produção nos Estados Unidos para produzir mais máscaras, esperando um aumento na demanda à medida que o vírus continua se espalhando.

“Nós aprendemos muito com a China. Felizmente, nossa estratégia de contenção funcionou e não tivemos nenhum caso [entre nossos funcionários]”, disse Scagliarini. “A partir do mês passado, aplicamos os mesmos procedimentos de segurança na Itália. Por incrível que pareça, encerramos fevereiro com praticamente as mesmas receitas que em 2019.”

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Com clientes que vão da Coca-Cola ao Aeroporto de Heathrow (a GVS fabrica os filtros que verificam a qualidade da água nas garrafas de Coca-Cola, bem como os filtros de ar nos portões do movimentado centro de Londres), Scagliarini está confiante de que a empresa continuará a crescer depois que o vírus for derrotado. Novos centros de distribuição estão planejados no sudeste da Ásia e na América do Sul, visando a entrada nos mercados da África. A empresa também está apostando nos dois lados no debate sobre hidrogênio x carro elétrico, produzindo filtros de membrana que são usados ​​tanto em células de combustível de hidrogênio quanto em baterias de íon de lítio.

O IPO ainda está planejado para a primavera, embora a volatilidade do mercado signifique que seja muito cedo para definir uma data. “Há uma tempestade acontecendo, mas a situação é fluida”, disse Scagliarini. “Temos algo que ninguém mais pode oferecer. Mesmo em tempos de crise, somos estáveis.”

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