O mercado de ações tem subido, com otimismo em relação à reabertura da economia, apesar de uma imensidão de eventos sombrios, incluindo a pandemia global de coronavírus, números recordes de desemprego e agitação violenta com desigualdade racial.
Em meio à escalada de protestos, o S&P 500 subiu quase 1% até agora nesta semana e quase 2,5% desde que as manifestações começaram em 26 de maio.
A reação moderada do mercado aos protestos generalizados sobre a morte de George Floyd é “consistente com a desconexão muito acentuada entre mercados e economia”, disse Mohamed El-Erian, principal consultor econômico da Allianz, ao “Financial Times”.
Um fator crucial para o bom momento das ações em 2020 é a intervenção sem precedentes do Federal Reserve para apoiar a economia: o banco central norte-americano injetou quase US$ 3 trilhões nos mercados financeiros desde o final de fevereiro.
O Fed promulgou uma série de iniciativas de emergência, incluindo cortes de taxas, programas de empréstimos e linhas de crédito que estão dando garantias aos investidores de que o órgão entrará em cena para salvar o sistema financeiro, se necessário.
As ações do Fed “sem dúvida” ajudaram a impulsionar a economia, diz Mark Freeman, diretor de investimentos da empresa Socorro Asset Management. A combinação de política monetária proativa com esforços históricos de estímulo do governo tem sido uma “força excepcionalmente poderosa para impulsionar o mercado”.
Historicamente, o mercado tende a superar a maioria das inquietações civis, com muitos analistas apontando precedentes como o assassinato do presidente John F. Kennedy, em 1963; a marcha dos direitos civis em Selma, em 1965; os protestos da Guerra do Vietnã, em 1967; o assassinato em 1968 de Martin Luther King Jr.; e os distúrbios de 1992, provocados pelo espancamento por policiais de Rodney King.
“Por mais doloroso que isso seja no momento, não chegou ao ponto em que muda as perspectivas de recuperação do mercado, é simples assim”, diz Freeman. Os protestos “não são vistos como significativos do ponto de vista de ganhos, e isso é o que importa para o mercado de ações” repetidamente. A única maneira de justificar os atuais níveis de preços, acrescenta, é que “o mercado não está olhando para 2020, mas para 2021 e além”.
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O mercado também perseverou por grandes turbulências nas últimas décadas, observou Nicholas Colas, cofundador da DataTrek Research, em um relatório. As ações ainda registraram ganhos em 1999, após o pedido de impeachment do presidente Bill Clinton, e, em 2011, durante os protestos do Occupy Wall Street. “O que importa para os mercados agora é como e quando a economia dos EUA recomeça com as paralisações crise de Covid-19”, argumenta Colas. “Se protestos ou repercussão política começarem a prejudicar a confiança do consumidor, isso significaria preços mais baixos para as ações.”
As ações estão subindo, mesmo depois de vários dias de protestos crescentes em todo o país, porque o mercado está cego para a justiça social, disse o âncora da CNBC Jim Cramer ontem (1). “O mercado não tem consciência”, acrescentou. “Os investidores estão simplesmente tentando ganhar dinheiro.” Essa é a natureza do mercado de ações, disse Quincy Krosby, estrategista-chefe de mercado da Prudential Financial, à CNBC. “O mercado sempre parece insensível”, disse ele, acrescentando que “os algoritmos, quase certamente, não têm um pingo de empatia”.