Políticos e mentiras: insights de um especialista - Parte 1

27 de agosto de 2018
Os políticos e as mentiras: insights de um especialista - Parte 1 - iStock

Grande parte dos políticos são bem treinados para não deixar escapar sinais não verbais diante de uma mentira dita.

Na primeira parte da reportagem, Paul Ekman, psicólogo pioneiro da ciência da expressão emocional e da detecção de mentiras, classifica inverdades em diferentes contextos, do aceitável ao inaceitável.

VEJA TAMBÉM:5 razões pelas quais confiamos nas pessoas erradas

É possível ainda identificar sinais não-verbais que informam a “reação instintiva” às mentiras. As reações viscerais são julgamentos primitivos, não analíticos, mas muitas vezes surpreendentemente precisos, baseados em sugestões do ambiente.

Os políticos que buscam confiança e apoio se revelam por meio de sinais comportamentais sutis, e tais pistas são transmitidas pelos veículos de comunicação. “Poucos de nós conhecemos um presidente, então, confiamos no que a mídia nos mostra sobre confiar ou não no Chefe de Estado”, diz Ekman. Comportamentos importantes e declarações feitas pelos líderes são entregues por uma imprensa livre, “que procura expor a desinformação”, desenterrar qualquer verdade que esteja oculta.

A própria natureza da imprensa de veicular o que é de interesse público é também estar em desacordo com as lideranças políticas. Quando os representantes são honestos, recebem menos atenção da imprensa. Quando dizem mentiras, a imprensa vai atrás da história.

“Informações corretas não são histórias”, diz Ekman. “Desinformação: esse é o ponto de partida para a mídia, que age como forma de proteção contra a falta de informação.” Geralmente a imprensa consegue a história quando recebe um político para “responder a uma pergunta que ele não queria ter sido perguntado sobre”, diz Ekman.

E AINDA: Como identificar mentiras no ambiente de trabalho

Um político, voluntariamente ou involuntariamente, é “desvendado” por meio de respostas não ensaiadas às perguntas da mídia. “A maioria dos políticos é bem treinada e preparada, e isso diminui as chances de se conseguir o que chamo de ‘vazamento não-verbal’, incluindo microexpressões”, diz Ekman.

O vazamento involuntário e não-verbal é uma expressão facial que escapa e revela a real emoção sentida no momento. Esta, por sua vez, conflita diretamente com a impressão que se tenta passar.

O vazamento involuntário é universal e acontece com todo e qualquer indivíduo. É resultado de falhas na supressão consciente ou na repressão inconsciente. Quando ocorre como uma microexpressão (expressões faciais fugazes que revelam emoções que tentamos ocultar), leva 1/25 de segundo. As microexpressões vazadas são mais fáceis de isolar e identificar com um pouco de treinamento e ao observar o rosto de alguém em um vídeo em pausa.

Para os olhos destreinados, as microexpressões em tempo real podem passar uma sensação de desconforto e desconfiança no vazamento individual, mesmo que a pessoa não saiba dizer por quê. O vazamento emocional involuntário nem sempre é breve. Às vezes, pode durar por períodos mais longos, nos quais dois grupos de músculos faciais riscam o rosto e produzem uma assimetria perceptível. Um exemplo da assimetria no vazamento emocional é alguém sorrindo com a boca quando seus olhos parecem estar prestes a chorar.

LEIA MAIS: Brasileiro é o que menos mente na hora de preparar o currículo

“Quanto mais preparada a pessoa estiver, menos escape de expressão ocorrerá. Logo, para surpreender, é preciso pegar alguém de surpresa ou fazer uma pergunta para a qual essa pessoa não ensaiou uma resposta”, diz Ekman. “Acredito que o caminho para um líder político construir confiança é ter frequentes coletivas de imprensa nas quais não haja resistência sobre quem é chamado para fazer perguntas, por exemplo.”

Quando a mídia coloca o político na posição de entregar uma resposta não-ensaiada, ele apresenta seu rosto para o exame público e detecção de “insinceridade”.