Conheça o bilionário que está apostando milhões em uma ideia louca para salvar o jornalismo

10 de março de 2020
gettyimages-BenGabbe

O bilionário de 54 anos é responsável por seis negócios, incluindo a empresa de meios de pagamentos Square, avaliada em US$ 33 bilhões

Jim McKelvey é um dos empreendedores mais bem-sucedidos da América. Não que seja possível notar isso imediatamente ao conversar com ele. “Sempre me sinto desqualificado”, insiste o bilionário de 54 anos, responsável por seis negócios, incluindo a empresa de meios de pagamentos Square, avaliada em US$ 33 bilhões, que ele cofundou com o CEO do Twitter, Jack Dorsey. Sentado no Le Pain Quotidien do lotado centro de Manhattan, o bilionário, cujo patrimônio é de US$ 1,4 bilhão segundo o ranking em tempo real da FORBES, explica como a falta de experiência ou conhecimento se tornou a razão de seu sucesso. “Muitas vezes, quando faço algo que nunca foi feito antes, sinto que não sou capaz”, diz McKelvey, vestindo casualmente uma jaqueta de couro e jeans.

Mas, às vezes, pessoas não qualificadas como ele são as melhores para encontrar soluções para novos problemas. Foi assim que McKelvey teve a ideia da Square, a principal fonte da sua fortuna. Soprador de vidro há mais de 30 anos, ele ainda vende suas obras na oficina de 743 metros quadrados criada com um amigo em St. Louis, em 2002, em uma concessionária de carros dos anos 1930 totalmente repaginada. Alguns anos depois da empreitada, estava frustrado por perder algumas vendas porque não aceitava os cartões American Express, cujas taxas eram altas demais. McKelvey então ligou para outro amigo – Jack Dorsey, cofundador do Twitter, que conhecia desde a adolescência. Em 2009, a dupla criou a Square, que permite a qualquer pessoa aceitar pagamentos com cartão usando apenas um smartphone ou tablet. Atualmente, o serviço processa pagamentos para 2 milhões de empresas. McKelvey deixou as operações diárias um ano depois, quando seu filho nasceu, mas ainda está no conselho da empresa.

Atualmente, o bilionário está aplicando sua “inexperiência criativa” e liberando “sua falta de conhecimento” para a indústria editorial. Cansado de notícias falsas, caça cliques e sobrecarga de anúncios online, McKelvey conta que começou a pensar em maneiras de ajudar os leitores a retomar o controle de suas identidades online. Ele iniciou o projeto “Invisibly”, que fornece micropagamentos para conteúdo online, em 2016. Até agora, investiu US$ 11 milhões em dinheiro e levantou outros US$ 20 milhões de investidores como Peter Thiel e o Founders Fund. As ferramentas da startup são projetadas para dar aos consumidores, não anunciantes ou editores, o poder de decidir quais anúncios querem ver, que notícias querem ler e que dados querem compartilhar. “Vamos dizer como seus olhos estão sendo comprados e vendidos, quais informações o mundo tem sobre você e como isso está sendo monetizado”, explica McKelvey.

Nos dias de hoje, a maioria dos sites ganha dinheiro de duas maneiras: assinatura (como no caso do “The New York Times” e do “Washington Post”) ou anúncios (como a FORBES). McKelvey quer dar aos leitores carteiras digitais gratuitas, para serem financiadas toda vez que assistirem a um anúncio do Invisibly. Eles poderiam então gastar esse “dinheiro” para acessar o conteúdo. Hipoteticamente, cada artigo custaria uma certa quantia – definida por um algoritmo que considera a qualidade e a demanda. À medida que os leitores compartilham mais dados pessoais que, por sua vez, permitem que os anunciantes adaptem o que eles vão receber, os custos diminuem.

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No momento, essa ideia ainda faz parte do sonho de um bilionário excêntrico. “Não sei se vai dar certo”, admite ele, alegremente, enquanto divide um croissant no meio. “Temos alguns investidores privados que são altamente tolerantes ao risco e sabem que tudo isso pode resultar em lucro zero. Já gastamos US$ 20 milhões e nem sequer temos um produto. Eu só quero viver em um mundo onde a qualidade ganha mais dinheiro.”

Um teste beta foi lançado no site da Invisibly em fevereiro. A expectativa é que ele permita que os usuários vejam o preço pago caso eles se envolvam com os anúncios. Quanto mais ganham, mais conteúdo podem ler nos sites participantes. (Teoricamente, um usuário também pode adicionar créditos em dinheiro à sua carteira para evitar publicidades). A startup diz que já assinou com mais de 30% dos editores nos Estados Unidos, incluindo “Associated Press”, o instituto de pesquisa Scripps e a editora “McClatchy” para o teste.

Como ainda está envolvido no negócio como fundador, McKelvey contratou seu amigo de longa data, Matthew Porter, ex-CEO da plataforma CMS e do provedor de suporte para TI Contegix, para dirigir a iniciativa. Segundo Porter, McKelvey apareceu em sua casa em St. Louis, durante uma noite no verão, e se recusou a ir embora até que ele concordasse em se juntar a Invisibly. Agora, ele é CEO da empresa, que possui escritórios em St. Louis, Nova York e Palo Alto.

“Jim é muito esperto. Quando está apaixonado por algo, sua intensidade é fora do normal. Ele tem uma visão astronômica”, diz o amigo.

Isso tem sido verdade ao longo da carreira de McKelvey como empreendedor em série. Ao longo dos anos, ele começou um punhado de negócios, além da Square, em áreas como software, impressão de livros e telhados. Uma de suas primeiras empresas foi, segundo ele próprio, criada para ajudar a solucionar a escassez nacional de programadores.

Todos esses empreendimentos díspares estavam ligados por uma mesma coisa: a tentativa de resolver um problema. Na maioria dos casos, isso significou entrar em novos setores sobre os quais ele pouco sabia. Essa percepção é parte do que o levou a escrever seu novo livro, “The Innovation Stack: Building an Unbeatable Business One Crazy Idea at a Time” (algo como “A Pilha da Inovação: Construindo um Negócio Imbatível, uma Ideia Louca de Cada Vez”).

“Talvez meus calos sejam um pouco mais grossos. Eu ainda me sinto confuso e assustado. Ainda sinto que não sei o que estou fazendo. A mesma sensação de quando comecei a Square”, diz. “O fato de eu escrever o livro nos últimos três anos me ajudou a entender que, neste momento, eu deveria me sentir desconfortável… Mas eu tenho um entendimento um pouco melhor agora e isso já é um pequeno avanço.”

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