“Afrodescendentes têm crédito três vezes mais negado por instituições financeiras”, diz Nina Silva sobre empreendedores negros

17 de julho de 2020
Luciana Prezia

Nina, que estudou na Universidade de Nova York, diz que o racismo nos Estados Unidos e no Brasil acontece de forma diferente

Em live transmitida pelo Instagram e conduzida pelo CEO e publisher da Forbes Antônio Camarotti, Nina Silva falou sobre a participação de pessoas pretas na economia e as questões raciais que acompanham a existência étnica no país. A executiva é CEO do Movimento Black Money, faz parte do time da Mulheres mais Poderosas do Brasil da Forbes e foi eleita pela ONU como uma das pessoas afrodescendentes com menos de 40 anos mais influentes do mundo.

“Afrodescendentes são 56% da população autodeclarada, representam 67% dos desempregados e maioria carcerária. Quando empreendem, no nano e no microempreendimento, nem 29% consegue empregar outra pessoa em seu próprio negócio e tem crédito três vezes mais negado por instituições financeiras”, diz Nina. Ela completa: “Não falta apenas representatividade, falta inclusão e foi nesse contexto que nasceu o Movimento Black Money”. A iniciativa de Nina, um hub de inovação negro, tem como objetivo transformar, educar e fomentar o empreendedorismo preto. Segundo o estudo A Voz e a Vez – Diversidade no Mercado de Consumo e Empreendedorismo, pessoas negras movimentam em média R$ 1,7 trilhão ao ano no Brasil.

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Uma dúvida muito frequente e abordada por Nina durante a transmissão ao vivo é a nomenclatura correta ao referir-se a pessoas afros. Qual a terminologia correta? negro ou preto? A CEO esclarece que, neste contexto é preciso levar em conta não só a maturidade racial da outra parte da conversa, mas também o sentido em que a palavra é dita –se é em tom pejorativo. “Se nós levarmos em conta o estigma da palavra ‘negro’ é complicado. Ela muitas vezes é usada para denominar coisas negativas como mercado negro ou ovelha negra da família. Existe também a questão de que nem toda pessoa do meu tom de pele se sente à vontade quando é uma pessoa branca falando. Isso acontece porque o tempo todo a sociedade diz que quanto mais você se afastar de pessoas que te coloquem enquanto negro, melhor vai ser para você.”

Nina, que estudou na Universidade de Nova York, diz que o racismo nos Estados Unidos e no Brasil acontece de forma diferente. “Nos EUA eu sentia, mas não tinha uma fala explícita de racismo, até porque nas instituições de lá isso é gravíssimo. No Brasil, os ataques que sofremos o tempo todo nas periferias, por exemplo, são raciais. Eu estou exposta a todo momento em qualquer horário, meu corpo está exposto independentemente de eu usar terno ou estar na Forbes. Não é à toa que espaços de poder têm cor e ela é branca, mas as pessoas se incomodam de falar sobre isso e ainda mais de tratar”, pontua. A executiva que, por muitos anos, trabalhou em ambientes corporativos, relembra ganhava menos, em comparação à remuneração de mulheres e homens brancos e que foi demitida por não ter “aspecto corporativo”.

Como forma de diminuir o racismo, Nina sugere que “as pessoas precisam ter intenção, não basta compartilhar uma hashtag ou perfil de pessoas negras, é preciso ação contínua sobre a questão. Por exemplo, dar preferência para pessoas negras em contratações, uma vez que somos a maior parte da força de trabalho sem ocupação. Isso começar a passar uma ideia para quem está na empresa, mas não é tão ligado a esses pontos”. E finaliza: “pessoas diferentes chegam em públicos diferentes, é aumento de lucratividade e performance”.

Levando em consideração o cenário da pandemia de Covid-19, Nina ressalta que a população preta contaminada tem 32% mais risco de morte e que mais de 60% dos atendimentos feitos pelo SUS são a pessoas negras. “Isso é uma questão racial, mas quando abordada é levada para o aspecto de periferia, de sanitarismo na favela. É preciso levar em conta que as pessoas pretas são a linha de frente, estão nos deliveries, no caixa do supermercado, nos balcões de atendimento de hospitais e farmácias, nas portarias, cargos de segurança e serviços gerais.”

Por conta da pandemia causada pelo novo coronavírus, o Movimento Black Money lançou o projeto Impactando Vidas Pretas, a iniciativa emergencial tem por fim prestar assistência a família negras lideradas por mães solteiras e empreendedores afro. “Se a gente diminui o poder de consumo das pessoas, a gente para a economia”, comenta Nina. Durante a segunda fase de captação a campanha levantou R$ 166 mil reais e está nos nos últimos três dias de arrecadação. Clique aqui para apoiar.

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