As consultas de voos fretados particulares estão performando muito bem e as vendas de jet cards, essencialmente cartões de débito de horas de fretamento, estão vendendo como nunca antes. A Giddy, de peças de vestuário para funcionários de voos fretados de aeronaves particulares, relata bons números, com mais de 50% das vendas direcionadas a usuários novos.
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De repente, o voo privado parece ser uma mercadoria quente, e seria apropriado aumentar o ritmo da produção de aviões novos. Em vez disso, e de maneira contra-intuitiva, os fabricantes de jatos executivos demitiram trabalhadores. Não apenas alguns aqui e ali, mas aos milhares.
A unidade Cessna da Textron Aviation cortou recentemente 1.950 funcionários, ou 6% de toda a sua força de trabalho. A Bombardier cortou 2.500, e a divisão Gulfstream da General Dynamics fez 1.145 postos desaparecerem desde outubro. Neste mês, a brasileira Embraer anunciou que reduziria 20% ou cerca de 4.000 funcionários, embora em parte devido à exposição à produção de aviões e ao fim abrupto da lua de mel com a Boeing. Outras empresas também fizeram cortes, mas de uma maneira mais discreta. Há indícios de que poderia haver mais.
Para ajudar a explicar essa série de demissões, apesar da atividade, é importante entender primeiro que o salto em 2019 nas novas entregas de jatos foi algo enganoso. Os fabricantes geralmente constroem e armazenam novos modelos antes mesmo de serem certificados pelas autoridades, resultando em uma grande quantidade de modelos disponíveis a pronta entrega para os primeiros clientes. O ano de 2019 viu um pico na aprovação de vários novos modelos, algo que abriu as comportas de receita. Outro fator foi o de que 2019 foi um ano abundante em entregas de jatos monomotores menores, o que distorceu ainda mais a saúde real do mercado tradicional.
A oferta de jatos fretados ou planos de voo não deixará de existir no curto prazo para garantir a expansão da frota. Esses ativos são subutilizados há anos e qualquer demanda de curto prazo será facilmente absorvida pela frota existente, sem a necessidade de fazer pedidos de novos jatos.
Muitas das empresas que fornecem fretamentos de aeronaves nem possuem as próprias aeronaves. Em vez disso, elas emprestam a aeronave dos proprietários reais que desejam disponibilizar seu jato para outras pessoas quando não o estão usando para obter renda extra. Portanto, mesmo um aumento permanente no uso de fretamentos não resultaria em pedidos de aeronaves de fornecedores de fretamentos.
Há também o lado do custo da equação. As linhas de produção foram interrompidas ou fechadas por até três meses, tirando dos construtores de jatos o dinheiro normal recebido ao entregar aviões acabados aos clientes finais. Potenciais novos compradores continuam cautelosos nesse ambiente, resultando em fabricantes de equipamentos originais nem sequer tendo um comprador para toda a produção planejada de jatos para 2020, o que pode resultar em empresas ficando presas a veículos não vendidos e com alto custo de manutenção no final do ano. A remuneração dos executivos com base no preço das ações dificulta ainda mais a motivação de retenção de funcionários.
Os únicos beneficiários de curto prazo serão serviços de fretamento, e isso pode durar pouco –quando a existência de uma vacina der um sinal claro de retorno às viagens comerciais. Esse aumento da atividade não será necessariamente uma bonança financeira, pois o setor de fretamento está saindo de alguns meses de uma parada quase completa como as companhias aéreas e ainda precisa de tempo para se recuperar fiscalmente. Com muita concorrência no setor de fretamentos, historicamente houve uma falta de disciplina de preços, o que poderia prejudicar ainda mais as margens, mesmo em um clima propício.
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