Chardonnay, a uva mais adaptável

15 de abril de 2020
Getty Images

Considerada a “rainha” das uvas brancas, variedade conquistou o paladar da grande maioria

Quem se adapta reina. Ainda mais no nosso momento atual.

Chardonnay é considerada a “rainha” das uvas brancas por ter essa flexibilidade e, com isso, te conquistado o paladar da grande maioria. O “C” chama tanta atenção no rótulo que, durante muitos anos, foi mais importante o nome da uva do que a região produtora ou, até mesmo, o produtor. Diz-se que ela é uma uva sem personalidade, vazia, sem grandes aromas que, se não fosse pela mão do produtor, não seria nada. Mas ela é tudo: é versátil, é a rainha, e uma rainha faz o possível para agradar o maior número possível de seguidores.

De origem francesa, da região da Borgonha, a chardonnay só existia na Borgonha e em Champagne por volta dos anos 1970, com exceção de uma microprodução na Califórnia. Hoje em dia, é a uva branca mais plantada no mundo! Seus aromas básicos são de maçã amarela, carambola, abacaxi, baunilha e manteiga, e eles variam muito quando passam por barrica ou não. Uma interessante brincadeira é comprar um vinho que passou por barrica e um que não e, compará-los. Se der, da mesma região!

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A temperatura para servir é entre 7°C e 12°C e, atualmente, muitas importadoras fornecem informações mais profundas sobre cada vinho, como harmonização, vinificação, percentual das uvas e também a história do produtor. É interessante, pois, quando se tem a oportunidade de saber a origem do que se bebe, a conexão muda.

Com seu charme exuberante, amantes do vinho se deliciam com a facilidade com que esta uva se adapta aos momentos da vida, Champanhe, Chablis, Borgonha, Califórnia, Austrália, Chile, África do Sul, Argentina e Nova Zelândia estão entre as mais famosas regiões produtoras, proporcionando uma infinita variedade. Infinita, pois, depois que alguém conseguir provar todos os chardonnays de todas essas e de outras regiões, eles já terão evoluído em estilo e já terão surgido novas regiões produtoras. O mundo do vinho é interessantíssimo pela sua mutabilidade.

Os produtores também se beneficiam da alta produtividade rentável desta uva e os enólogos (os que fazem o vinho) se divertem com as inúmeras possibilidades de vinificação.

Ter um amigo sommelier, ou amiga sommelière, é um privilégio. Eu que tenho alguns, e tenho gratidão, pedi dicas dos chardonnays disponíveis no mercado que se encaixam ao momento de ponderação, que vivemos por causa da pandemia.

Andrea Santos, da Importadora De la Croix, indica o Frisson (que significa emoção em francês), por R$ 118, que não passa por barrica e, por causa do solo, é mais mineral; e o Haute Côtes de Beaune Blanc (R$ 198), que passa 12 meses em barrica de carvalho velho e é biodinâmico, ambos da Borgonha;

Daniella Abad indica Origem por R$ 49,90 e o Naturelle por R$ 52, brasileiros da Casa Valduga e Veuve Clicquot (sua “marca registrada”), champanhe que tem no seu blend 1/3 de chardonnay. Valor a consultar pelo e-mail alan@moethennessy.com;

Diego Arrebola indica Salton Paradoxo, brasileiro por R$ 48, da Seleção Adega, e o Domaine du Chardonnay Petit Chablis, da Belle Cave, por R$ 188,10. Petit Chablis é uma apelação, em Chablis, caracterizada por vinhas mais jovens plantadas no topo da colina com um solo diferente da apelação Chablis Grand Cru e Premier Cru. Isso o rende um vinho mais fresco, leve, menos complexo para uma ocasião despretensiosa;

Maria Emilia Atallah indica Capoani, da Vineria 9, por R$ 69,90, e Vinhas do Tempo, de Daniel Lopes, por R$ 120, de vinificação menos interventiva com pouco SO2 (conservante), ambos brasileiros. Indica também o Catrala, do Valle de Casablanca no Chile, da importadora La Charbonnade, por R$ 95;

Na Mistral, o Kumeu River Village, para quem quiser experimentar um chardonnay da Nova Zelândia, por R$ 109;

Anna Rita Zanier indica vinhos da importadora Anima Vinum, todos da Borgonha. Mâcon Villages (sul da Borgonha) Les Mulots de Roger Luquet por R$ 165 e o Vezelay (norte da Borgonha) L’Impatiente da La Croix Montjoie por R$ 198. Se estiver muito impaciente com a quarentena, indico esse. Apesar de não devermos nos guiar pelo nome ou pelo rótulo, eu, pessoalmente, gosto de me deixar seduzir. O máximo que pode acontecer é eu não gostar do vinho, o que não é o caso aqui;

Meu vinho preferido é champanhe e, no Brasil, eu indico o Longitude, do Larmandier-Bernier que visitei em setembro do último ano, da De la Croix. Longitude, pois, ele tem diversos vinhedos na longitude da Côtes des Blancs, em Champagne, complexo e elétrico ao mesmo tempo. Custa R$ 395. Não é barato, mas eu prefiro beber menos com a qualidade que busco. Além disso, para quem pensa que não dá pra guardar a metade da garrafa de champanhe e beber dia seguinte, não é o caso deste produtor, pois seu vinho base é muito bom.

E Chablis, gosto da região de Chablis. O do Gautheron, também De la Croix, é um excelente custo/benefício por R$ 158. Outro é o Chablis Bas de Chapelot, da Eleni e Edouard Vocoret, da Wines4U, que trabalharam com Dauvissat, um produtor que adoro. Eles têm um vinhedo de 3,2 hectares em Chablis, ao lado do Grand Cru Les Clos. Leveduras indígenas e, diferente da grande maioria em Chablis, eles passam nove meses em barrica de carvalho usadas. Humm, deu vontade! Valor R$ 179.

Infelizmente, os preços de vinhos no Brasil não são dos mais acessíveis, mas, apesar da crise econômica que estamos vivendo, estas importadoras conseguiram segurar a alta do dólar. Vendas para pessoa jurídica são quase inexistentes. Assim, vender para pessoa física e manter os preços antigos têm feito toda a diferença. Só resta saber até quando isso vai durar, pois as importações estão paralisadas.

Quem sabe tomando um chardonnay não nos tornamos um pouco mais adaptáveis e, quem sabe, inspirados a encontrar maneiras de superar as adversidades?

Tchin tchin!

Carolina Schoof Centola é fundadora da TriWine Investimentos e sommelière formada pela ABS, especializada na região de Champagne. Em Milão, foi a primeira mulher a participar do primeiro grupo de PRs do Armani Privé.

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