Previsões: Como serão as viagens aéreas após a pandemia

15 de maio de 2020
Reprodução/Forbes

Uma pessoa atravessa um aeroporto John F. Kennedy quase vazio

Quando os aeroportos e fronteiras se abrirem e as pessoas conseguirem voar novamente –um processo já em andamento ao passo que instalações de todos os tamanhos ao redor do mundo preparam estratégias para garantir uma viagem aérea saudável– você estará pronto para mudar seus hábitos de voo até que ponto?

O mesmo que foi necessário após o 11 de setembro? Menos? Mais?

Ao considerar algumas das mudanças que já têm ocorrido e as mais recomendadas antes que os aeroportos possam reabrir com segurança às rotas comerciais, os especialistas se referem à pandemia do coronavírus como “o novo terrorismo” que desencadeou a maior crise que o setor de aviação já enfrentou.

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Vamos começar com todo o processo de check-in de voos, que alguns calculam que pode levar até quatro horas e envolvem distanciamento social, higienização de passageiros e bagagem, espaços mais amplos para várias linhas e espera a fim de embarcar.

Nove em cada dez especialistas esperam que os intervalos entre os voos sejam mais lentos devido à necessidade de uma limpeza completa das cabines e de medidas sanitárias nos aeroportos.

No curto prazo, espera-se que o número reduzido de passageiros e as companhias aéreas que fazem viagens para uma quantidade menor de destinos possam reduzir atrasos.

O que se pode esperar

Entre as etapas consideradas: bagagem de mão, lounges e upgrades automáticos não serão mais permitidos, haverá auto-check-in e auto-atendimento para despacho de bagagens, e será necessário o uso de máscaras e luvas cirúrgicas, bem como a apresentação de passaportes de imunidade (certificado de que não apresenta risco), realização de exames de sangue no local e passar por túneis de higienização e desinfecção.

As tecnologias digitais e a automação desempenharão um papel crítico no futuro das viagens aéreas. A necessidade de reduzir os “pontos de contato” nos aeroportos implica o uso obrigatório de embarque biométrico que permite aos passageiros embarcar em aviões apenas com o rosto como passaporte.

Várias companhias aéreas, incluindo British Airways, Qantas e EasyJet, já estão usando o meio tecnológico.

De acordo com o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC, na sigla em inglês), “o ‘novo normal’ nos principais aeroportos, como Heathrow, John F. Kennedy e Singapura Changi, incluirá o uso quase exclusivo de check-ins online e pagamentos sem contato”.

Depois, as instalações terão de fazer mudanças radicais, começando provavelmente com a proibição de entrada de indivíduos que não irão viajar, exceto para menores desacompanhados ou outros que precisam de assistência.

Serão necessários sistemas de check-in biométricos mais extensos e auto-atendimento eficiente para deixar a bagagem; ‘bolhas de viagem’ (corredor de tráfego entre nações que não apresentem riscos e abram fronteiras entre si) ou túneis para desinfecção. Após o check-in, as malas também podem ser colocadas em um local específico a fim de serem higienizadas. Os aeroportos devem ainda implementar demarcação dos espaços para distanciamento social em corredores e saguões, áreas maiores de filas e espera, barreiras de acrílico ou outros equipamentos de proteção nos balcões de atendimento ao cliente, estações de higienização para as mãos e escaneamento térmico a fim de verificar as multidões quanto à temperatura corporal de febre, que já estão em uso em algumas grandes instalações aéreas.

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“Somente os ‘aptos para voar’ terão permissão para entrar”, prevê a empresa de estratégia aérea SimpliFlying, em um relatório recente, onde identifica mais de 70 aspectos diferentes durante a viagem de passageiros que “devem mudar ou serem introduzidos, incluindo ter as malas ‘higienizadas’ depois de passar por nebulização, desinfecção eletrostática ou com radiação ultravioleta para restaurar a confiança em voar após a Covid-19”.

O “The Telegraph” explica que “pode ​​parecer futurista, mas é provável que a higienização com raios UV se torne comum nos aeroportos do mundo. O London Heathrow diz que deve começar a testar o processo nas bandejas de segurança”.

Processo de embarque

Espera-se que o processo de embarque também se torne “sem contato”, com opções como reconhecimento facial, já usadas em alguns aeroportos dos Estados Unidos para voos internacionais. Nos aviões, haverá assentos bloqueados para favorecer o isolamento, pulverização eletrostática, equipamentos de proteção individual e, é claro, máscaras. As principais transportadoras europeias, como Air France e KLM, já tornaram essas medidas obrigatórias e se espera que todas as outras companhias aéreas façam o mesmo.

Quanto à comida, a tendência é parar de serví-la definitivamente em voos de curta distância e oferecer “lanches leves” em voos de longo curso. A Hong Kong Airlines, por exemplo, decidiu parar de fornecer qualquer alimento.

Na chegada

A SimpliFlying prevê que no ponto de chegada os passageiros internacionais precisarão apresentar algum tipo de documento ou passaporte de imunidade, também defendido pela Associação Internacional de Transporte Aéreo (ou IATA, na sigla em inglês) para que seja solicitado pelos agentes de controle de fronteiras. Uma vez encontrada a vacina, isso pode mudar para uma prova de vacinação.

“Os passageiros que chegam também serão submetidos a outra triagem de temperatura em seu destino final e, potencialmente, até a exames de sangue”, prevê a Condé Nast. “Alguns aeroportos em Hong Kong e Viena estão testando passageiros para o coronavírus com esse procedimento médico antes de poderem entrar no país. Esses tipos de testes, no entanto, podem durar pouco”.

O teste térmico também é recomendado pela Iata, “e a Airlines UK, que representa a British Airways, EasyJet e Virgin Atlantic, disse que a ‘pré-triagem’ dos viajantes deve ser introduzida idealmente o mais cedo possível na viagem de passageiros”, relata o “The Telegraph”.

Embora não haja uma decisão padrão sobre a obrigatoriedade de tais testes e triagem, aeroportos e companhias aéreas têm pressionado por regulamentos uniformes. Não está claro quem será responsável por verificar a temperatura dos viajantes e outros sintomas da Covid-19, por exemplo.

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A SimpliFlying prevê que uma nova agência federal de saúde provavelmente será criada para coordenar exames de saúde dentro dos aeroportos.

Como imediatamente após o 11 de setembro, é provável que haja um processo de tentativa e erro no qual muitas instalações e transportadoras seguirão o que alguns “pioneiros” estabelecerem.

“Haverá novos protocolos para check-in envolvendo tecnologia digital; estações com desinfetante para as mãos em diversos pontos, inclusive no local em que a bagagem é armazenada; pagamento sem contato em vez de dinheiro; uso de escadas mais frequente do que o de elevadores –onde a regra dos dois metros pode ser mais difícil de manter–; e distanciamento maior entre os equipamentos de ginástica, além de outros exemplos”, escreveu o WTTC em um relatório recente.

A instituição internacional diz que o setor terá um retorno gradual às viagens nos próximos meses, à medida que surgir um “novo normal” antes que uma vacina se torne disponível em grande escala –o suficiente para aplicar em bilhões de pessoas.

É provável que retornem primeiro os voos domésticos, depois viagens aos países vizinhos antes de expandir para outras regiões e, finalmente, dentro do continente para dar as boas-vindas à volta de jornadas de longo curso a destinos internacionais. O WTTC acredita que passageiros mais jovens na faixa etária de 18 a 35 anos, que parecem ser menos vulneráveis ​​à Covid-19, também possam estar entre os primeiros a viajarem novamente.

Segundo Gloria Guevara, presidente e CEO do WTTC, viajar na era da “nova normalidade” exige ações coordenadas, como novos padrões e protocolos, “por um caminho seguro e responsável que vise a recuperação do setor global de viagens e turismo, à medida que os consumidores começam a planejar seus passeios de novo”.

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As novas regras estão sendo definidas após o feedback de entidades que representam os diferentes setores de viagens, incluindo a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata), o Conselho Internacional de Aeroportos (ACI), a Associação Internacional de Cruzeiros (Clia), a Associação de Viagens dos Estados Unidos (Usta), Associação de Viagens da Ásia-Pacífico (Pata), Organização Internacional de Aviação Civil (Icao), Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Comissão Europeia de Viagens (ETC) e Organização Mundial de Turismo (OMT).

Mas, com protocolos e normas, sistemas biométricos, passaportes de imunidade e as melhores intenções para um caminho seguro rumo à recuperação, o futuro das viagens, como explica Niraj Chokshi, do “The New York Times”, ainda é sombrio: “Com grande parte do mundo fechada para negócios e sem uma vacina amplamente disponível à vista, pode levar meses, se não anos, até que as companhias aéreas operem tantos voos como antes da crise. Mesmo quando as pessoas começarem a voar novamente, a indústria pode ser transformada, como foi depois dos ataques terroristas de 11 de setembro”.

Durante o processo, como já é o caso, algumas transportadoras, especialmente as menores, serão levadas à falência ou se tornarão alvos de aquisição. “O medo do consumidor de pegar o vírus em aviões lotados pode levar a assentos reconfigurados. As companhias podem inicialmente atrair viajantes desconfiados com descontos, mas se não conseguirem preencher voos, poderão recorrer ao aumento dos preços das passagens”.

Para Dave CalhounIn, CEO da Boeing, não apenas as empresas aéreas menores estão em perigo. Ele acha que pelo menos uma grande operadora dos Estados Unidos “provavelmente” encerrará suas atividades devido à pandemia de coronavírus. Em uma entrevista ao programa “TODAY”, da NBC, divulgada na terça-feira (12), ele disse à jornalista Savannah Guthrie: “… algo acontecerá quando setembro chegar. Os níveis de tráfego não voltarão a 100%, nem a 25%. Talvez até o final do ano nos aproximemos de 50%. Portanto, definitivamente haverá ajustes que devem ser feitos por parte das companhias aéreas”.

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