Caminhos do Cacau: conheça as iniciativas que estão fazendo seu chocolate mais gostoso

29 de março de 2022
Pollyana Ventura_Gettyimages

Programas de apoio ao produtor de cacau torna a cadeia do chocolate mais sustentável

Há no país 93 mil produtores de cacau, de acordo com o Censo Agropecuário de 2017, o mais recente levantamento da cadeia do chocolate que começa nas lavouras. A maior parte está na Bahia: são 69 mil (74% do total), mais 18 mil no Pará (19%), o que representa 93% de todas as propriedades que cultivam cacau.

Hoje, a agricultura familiar é a base econômica de 90% dos municípios brasileiros com até 20 mil habitantes, e é aí que entram os agricultores do cacau: 84% das propriedades com lavouras da fruta são áreas inferiores a 50 hectares. Mas tamanho não significa baixa produtividade. Há inúmeros pequenos produtores com alta produtividade em suas áreas, embora ainda haja muitas desigualdades nesse sentido.

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As iniciativas que visam melhorar a sustentabilidade da cadeia do cacau ajudam a diminuir esse gap. Em 2021, o VBP (Valor Bruto do Cacau) foi de R$ 4,2 bilhões. O VBP mede o valor movimentado pelas propriedades rurais, que poderia ser ainda maior. No caso do cacau, o VBP está longe de cadeias como o arroz (R$ 20,2 bilhões), o trigo (R$ 12,5 bilhões) e a anos luz da soja, que movimentou R$ 366 bilhões no ano passado.

O potencial de aumento não é pequeno porque o brasileiro ainda consome pouco chocolate, embora aprecie o doce. É essa demanda reprimida que conta. No ano passado, a moagem de cacau no país foi de 224,2 mil toneladas, 4,4% acima de 2020, de acordo com a AIPC (Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau), com base em informações de empresas associadas, entre elas as multinacionais Cargill, Barry Callebaut e Olam. O trio responde por 97% da compra e da moagem do cacau no país. Desse total, 197,6 mil toneladas de amêndoas foram colhidas em lavouras locais, 13,4% a mais do que no ano anterior. O restante veio de países como Costa do Marfim e Gana, os dois maiores produtores mundiais, mais Madagascar, Indonésia, Nigéria, Peru, entre outros.

A AIPC estima que o setor do chocolate representa R$ 23 bilhões anuais de valor gerado ao Brasil. Como parte do Especial Caminhos do Cacau, a ForbesAgro mostra a seguir algumas iniciativas coletivas que estão fazendo a diferença na cadeia produtiva do cacau e que podem elevar ainda mais esses dados. São elas:

1 – Indicação Geográfica Cacau Sul da Bahia

O cacau cultivado no sul do estado da Bahia recebeu a certificação de Indicação Geográfica (IG) em 2018. Estão integrados ao projeto cerca de 3.500 produtores em sete territórios de identidade. São 15 cooperativas, seis associações de produtores e duas instituições setoriais que formam uma federação, a Associação Cacau Sul Bahia-IG Cacau.

Para fazer parte desse movimento, os produtores cumprem várias exigências. Entre elas, os frutos precisam vir de áreas de Cacau Cabruca ou Sistemas Agroflorestais tradicionais. Também não podem apresentar teor de umidade superior a 8%, o aroma das amêndoas devem ser livre de odores e matérias estranhas, além de uma fermentação de no mínimo 65%, o que significa amêndoas totalmente marrons. O cacau é rastreado em todas as suas etapas de produção. A partir da IG há vários projetos em andamento para valorizar e monetizar a cadeia produtiva.

2 – Instituto Arapyaú – Desenvolvimento Territorial do Sul da Bahia

A iniciativa nasceu para promover uma marca coletiva de produtores do sul da Bahia. Atualmente, estão no projeto 178 cacauicultores que detêm o selo IG (Indicação Geográfica).

À frente está o Instituto Arapyaú, que nasceu em 2008 para promover a região chamada Costa do Cacau, onde estão localizados 10 municípios que reúnem uma população de cerca de 500 mil habitantes. Os trabalhos do instituto se concentram em Itacaré, Uruçuca, Ilhéus, Itabuna, Una e Canavieiras.

Arapyaú_Divulgação

Sistema cabruca com cacau cultivado em área de Mata Atlântica

A meta do instituto é promover o sistema cabruca, que é o cacau cultivado na floresta, em um modelo de mais de 200 anos no qual os cacaueiros estão à sombra das árvores da Mata Atlântica. Quem compra os chocolates da marca coletiva pode conhecer a história desse movimento por meio de um QR Code impresso nas embalagens.

3 – IG Cacau de Tome-Açu

O Cacau de Tomé-Açu, município paraense com a terceira maior colônia de imigrantes japoneses no país, recebeu o selo de IG (Indicação Geográfica) para o cacau em janeiro de 2019. A ACTA (Associação Cultural e Fomento de Tomé Açu), desenvolve e aprimora há algumas décadas um sistema próprio de manejo chamado Safta (Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu), no qual estão culturas agrícolas frutíferas e espécies florestais na mesma área.

É aí que entra o cacau. O sistema começa com a pimenta-do-reino e maracujá, e a partir do segundo ou terceiro ano os produtores iniciam o plantio do cacau e do açaí no meio de árvores de grande porte. Em agosto de 2020, os produtores exportaram o primeiro lote de cacau de origem destinado ao Japão, com 25 toneladas de amêndoas entregues por 37 produtores.

A ACTA reúne nove fazendas que fazem parte da Camta (Cooperativa Agrícola Mista de Tome-Açu), onde estão 172 cooperados e cerca de 1.800 produtores familiares que fornecem matérias primas para serem processadas. A cooperativa, que gera cerca de 10 mil empregos diretos e indiretos, processa e comercializa pimenta-do-reino, amêndoas de cacau, óleos vegetais nobres e 15 sabores de polpas de frutas tropicais, entre eles açaí, cupuaçu, maracujá, caju, murici, entre outros.

4 – Iniciativa CocoaAction Brasil

A iniciativa CocoaAction Brasil é um projeto da WCF (Fundação Mundial do Cacau), em busca de estratégias que conectem a indústria e o setor público. Com foco no produtor de cacau, o projeto começou em 2018 e é único no setor. A meta é promover o intercâmbio de conhecimentos e ligar os trabalhos já existentes no mercado. O objetivo é melhorar a produtividade e a rentabilidade dos produtores rurais.

Em outubro de 2021, por exemplo, em parceria com o Instituto Arapyaú e a WRI Brasil, organismo de pesquisa, a CocoaAction Brasil apresentou o estudo “Viabilidade Econômica de Sistemas Produtivos com Cacau – Cabruca, Pleno Sol e Sistemas Agroflorestais nos Estados da Bahia e do Pará”. São 48 páginas onde estão análises de quatro sistemas produtivos para a região sul da Bahia e três para o estado do Pará. Ele aponta para o processo de renovação das cabrucas, os arranjos a pleno sol e os sistemas agroflorestais. Os indicadores financeiros servem como auxiliar na tomada de decisão sobre investimentos.

5 – ATeG Mais Cacau

O ATeG Mais Cacau (Programa de Assistência Técnica e Gerencial) foi lançado em junho do ano passado pelo Senar (Sistema Nacional de Aprendizagem Rural), em parceria com o Funcacau (Fundo de Desenvolvimento da Cacauicultura do Pará), e governo do estado.

Senar_Divulgação

Qualificação no campo ajuda os produtores a serem mais eficientes na gestão da lavoura

O programa nasceu para atender a 1.450 cultivadores de cacau, por meio de informações técnicas para a condução de suas lavouras e da gestão das propriedades rurais. O conceito de ATeG também é aplicado pelo Senar a outras cadeias produtivas, como a do leite. No caso do cacau, está previsto para este ano o ATeG Mais Cacau no Espírito Santo. O projeto deve começar com 200 propriedades.

6 – Associação Bean to Bar Brasil

A entidade nasceu em 2018 e representa um movimento que agrega os chamados “chocolate makers”, profissionais que fazem chocolates e que estão de olho na origem das amêndoas. Daí a associação ter o caráter de movimento.

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Os chamados chocolate makers estão ajudando a levar mais valor à cadeia do cacau

Para ter amêndoas de origem, na maioria das vezes, os chocolate makers fazem parceria com os produtores de cacau, o que cria um canal de melhorias contínuas na cadeia da fruta. Atualmente, integram a entidade 47 associados nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Mato Grosso, Goiás, Bahia, Pará, Paraná, Santa Catarina, mais o Distrito Federal.

Em 2022, uma das iniciativas da associação visa a internacionalização das marcas bean to bar do país por meio do PEIEX (Programa de Qualificação para Exportação), em parceria com a Apex Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).

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