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O jogador brasileiro Vinícius Júnior, do Real Madrid, foi vítima diversas vezes de racismo em jogos da La Liga
Marketing e ESG estão diretamente relacionados e as marcas têm cada vez mais responsabilidade sobre os eventos, torneios e times que patrocinam. A constatação é de um levantamento da plataforma de mídia Teads que também mapeou, a partir da percepção dos consumidores, a ausência de diversidade na publicidade como um obstáculo do processo de combate ao racismo. O levantamento ocorre em meio à repercussão dos frequentes casos de racismo sofridos por Vinícius Júnior, jogador brasileiro que atua pelo Real Madrid.
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Segundo Cau Stéfani, líder de Insights da Teads no Brasil, a falta de diversidade em campanhas impactará cada vez mais o consumo da população. “São pautas importantíssimas na sociedade e que ainda não encontram a representatividade esperada nas ações do setor publicitário e nos posicionamentos das marcas. Especialmente entre as gerações mais novas, o tema se mostra como um fator decisivo no momento da compra e que, muito em breve, começará a impactar a receita das companhias que não acompanharem esse amadurecimento do mercado”, complementa.
A pesquisa também revela que o grupo que mais observa esse tipo de assunto é o da Gen Z, percepção acentuada devido ao fato desta geração se importar mais com temas ligados a inclusão e diversidade – 70,1% deles afirmaram que já deixaram ou deixariam de comprar um produto de uma marca se considerarem que a campanha publicitária foi ofensiva ou racista.
Assim que o novo caso aconteceu no último domingo (21), no jogo entre Valencia e Real Madrid pelo Campeonato Espanhol – também chamado de La Liga –, e após os protestos não só do Vinícius Jr., mas de centenas de pessoas nas redes sociais, entidades e até mesmo do governo brasileiro, as marcas patrocinadoras do campeonato também foram questionadas – dentre as globais, estão Santander e Puma.
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Em nota, ambas se posicionaram em apoio ao jogador. O Santander destacou que “repudia veementemente qualquer manifestação preconceituosa ou racista” e a Puma reforçou que “não toleramos o racismo, condenamos a discriminação de qualquer forma e nos solidarizamos com Vinicius Junior e toda a comunidade do futebol”. No caso do banco espanhol, a renovação do contrato com o torneio para a próxima temporada não será efetivada.
“Nos últimos anos, vivemos debates importantes sobre avanços urgentes que precisamos fazer enquanto indivíduos e sociedade e como o consumo estará sempre no centro dessas discussões. As marcas, durante dezenas ou até mesmo centenas de anos, corroboraram para a institucionalização do machismo e do racismo. Não adianta fazer pronunciamento, post nas redes sociais e movimentar #hashtag contra a La Liga, sem ter projetos e metas claras e concretas”, alerta Kika Brandão, head da Estúdio Eixo, consultoria de estratégia da holding de comunicação B&Partners.
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Deh Bastos, diretora de criação da Publicis Brasil: “A esperança de um mundo mais inclusivo e justo também passa por marcas que consumimos se posicionando contra coisas que não admitimos”
“Em uma sociedade capitalista o dinheiro é o poder, logo o uso que se faz dele precisa ser coerente com o que a gente acredita para o mundo e esse é o maior investimento que uma marca pode fazer na construção de relação com consumidor. Quando ela não se posiciona, ela é posicionada. Patrocínio é uma ferramenta de investimento, de conexão, de propósito em comum. O patrocínio ao esporte já fez toda a diferença para alavancar pautas como futebol feminino, por exemplo. A esperança de um mundo mais inclusivo e justo também passa por marcas que consumimos se posicionando contra coisas que não admitimos”, pontua Deh Bastos, diretora de criação da Publicis Brasil.
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Christianne Rego, CMO da GM América do Sul: “Quando uma marca decide patrocinar um evento artístico ou esportivo, seu objetivo é ter visibilidade em um conteúdo que traga memórias positivas”
“Os casos de racismo e xenofobia não são exclusivos da Europa, vemos muitos no Brasil também. Mas me parece muito mais evidente a omissão, especialmente dos organizadores do Campeonato Espanhol, quando falamos sobre medidas efetivas e punições para coibir esse tipo de atitude. Os patrocinadores também se mostram omissos, quando muito vemos notas de repúdio, o que também é um problema. Faltam ação e punição por parte de dirigentes, anunciantes e autoridades. O ESG fica só no papel e olhe lá”, diz o jornalista Amon Borges.
ESG e marketing indissociáveis
“Em tempos do imperativo ESG, isso significa – entre outras coisas – o enfrentamento ao racismo em nossa sociedade. Essa questão não é opcional e, de fato, é uma condicionante da sua licença para operar no século 21. Agora, para além das exaustivas pesquisas que trazem essa discussão à tona junto às marcas, uma coisa posso dizer por mais de 30 anos de janela no ecossistema global de marketing: há ainda uma longa estrada para as marcas e empresas operacionalizarem de fato a responsabilidade social e ambiental em seu core business. Para além da direção (que está posta) o “o que” e o “como” não estão nada claros e representam riscos desconhecidos aos seus tomadores de decisão. As marcas precisam saber lidar com essas tensões internas e externas para conseguir fluir nesse contexto, ajudando a reinventar a sociedade e o consumo, enquanto elas mesma se reinventam. No entanto, é importante saber que já estamos no ponto em que em cima do muro é um não lugar. Um aviso aos tomadores de decisão: se não for por consciência, então ao menos tenham isso em mente para não errar feio no timing”, alerta Erlana Castro, professora convidada da Fundação Dom Cabral.
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Erlana Castro, professora convidada da Fundação Dom Cabral: “Há uma longa estrada para as marcas e empresas operacionalizarem de fato a responsabilidade social e ambiental em seu core business”
“Gerenciar marcas hoje em dia é ser capaz de cuidar conjuntamente dessa comunidade, dessa plataforma que une pessoas e instituições ao redor de algo. Se uma parte tem comportamentos reprováveis, cabe a comunidade entender se é necessário coibir a prática, ou aceitar o comportamento que membros da comunidade estão tendo. É um processo de curadoria, de estimular certos comportamentos e desestimular outros”, diz Marcos Bedendo, sócio-consultor da Brandwagon Consultoria de Branding e Pesquisa de Mercado.
Do lado das agências de publicidade, alguns esforços vêm sendo feitos para lidar com o tema, como explica Edu Lorenzi, CEO da Publicis Brasil. “Temos o Plano UNA, que promove a equidade racial em todas as nossas empresas e trabalha para que o ambiente de trabalho seja um reflexo da sociedade brasileira. Uma atitude concreta é trabalhar fortemente a inclusão. Hoje, 34% dos colaboradores da Publicis são pessoas que se identificam como pretas ou pardas; e a meta é chegar em 50% até 2027.”
Leonardo Araujo, diretor de comunicação corporativa da Publicis Brasil, complementa reforçando que “internamente, a comunicação e o RH precisam letrar seus colaboradores para que entendam o contexto em que vivem. Muitos profissionais de agência ainda pecam porque não possuem letramento sobre a realidade brasileira. Isso deveria ser aprendido antes? Sim, mas como não aconteceu, a agência precisa se certificar de que seus colaboradores entendam o contexto nacional e como o racismo impacta as diferentes relações de negócio.”
Ambiente saudável no esporte
No Brasil, já tivemos diversos clubes com ações contra o racismo e discriminação, mas ainda há muito por fazer. O caso mais notório aconteceu nos EUA, quando a NFL, a liga de futebol americano do país, há dois anos assumiu culpa por não ter apoiado a causa do então jogador Colin Kaepernick. Como resultado, passou a apoiar projetos educacionais para entender o que é ser preconceituoso e ensinar todo os envolvidos com a liga a serem antirracistas. A Nike, que vinha com alguns desafios na relação com Vinícius Jr, também se manifestou em apoio ao jogador.
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“Ao se associar a um produto de audiência global com a La Liga, as marcas buscam não somente projeção e visibilidade de seu logotipo, mas também criar relação com um produto esportivo bem-organizado, de alta qualidade, respeitoso com seus membros e que possa atribuir aspectos positivos a sua percepção. A medida que a La Liga começa a ser interpretada como conivente ou omissa nos repugnantes casos de racismo que temos assistido com pesar, sem dúvida tal valor decai e cria-se nos patrocinadores uma urgência de se posicionar de maneira exemplar e correta perante o mundo, deixando nítido que não concordam com tal ato, tampouco com a falta de instrumentos corretivos”, explica Ivan Martinho, professor de marketing esportivo na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).
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Kika Brandão, head da Estúdio Eixo: “Nos últimos anos, vivemos debates importantes sobre avanços urgentes que precisamos fazer enquanto indivíduos e sociedade e como o consumo estará sempre no centro dessas discussões”
Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports e especialista em marketing esportivo, afirma que o patrocínio é fonte muito importante de receita ao esporte. “Desta forma, os patrocinadores devem exercer papel importante no desenvolvimento e profissionalização das modalidades em geral. As empresas buscam se associar com os atributos inerentes ao esporte como a paixão, a emoção, a competição, o trabalho em equipe. Na minha opinião, a imagem da La Liga está perdendo valor perante o mercado, uma vez que não está sabendo combater, de forma eficaz, os inúmeros atos racistas presentes no Campeonato Espanhol, a grande maioria contra o Vini Jr. Hoje, a CBF junto aos clubes de futebol vem liderando movimentos nesse sentido no Brasil.”
“Um passo importante neste sentido foi dado pela Confederação Brasileira de Futebol no início deste ano, quando a entidade instituiu em seu Regulamento Geral de Competições punições para este tipo de caso, que vão desde multas financeiras até a perda de pontos por parte das entidades esportivas. Outra iniciativa que vale a pena acompanhar no país é a do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, um projeto que monitora e dá luz aos casos que acontecem, e que também propõe discussões importantes e educativas sobre o tema de forma contínua e didática”, lembra Renê Salviano, CEO da Heatmap e especialista em marketing esportivo.
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Leonardo Araujo, diretor de comunicação corporativa da Publicis Brasil: “Internamente, a comunicação e o RH precisam letrar seus colaboradores para que entendam o contexto em que vivem”
“Estou acompanhando de perto a cobertura dos desdobramentos da agressão contra Vini Jr, especialmente porque há uma dimensão que atinge os profissionais de marketing diretamente. A reflexão passa pela questão da intenção de um patrocínio. Quando uma marca decide patrocinar um evento artístico ou esportivo, seu objetivo é ter visibilidade em um conteúdo que traga memórias positivas. Mas quando acontecem coisas odiosas como o que aconteceu com o Vini Jr, os patrocinadores acabam aparecendo em cenas lamentáveis e devem se posicionar”, escreveu em seu Linkedin Christianne Rego, CMO da General Motors e eleita entre as Top 10 CMOs do Brasil pela Forbes.
Confira o que os consumidores dizem sobre o posicionamento das marcas ante ao racismo:
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Fonte: Teads
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Fonte: Teads
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Fonte: Teads
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