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A Impossible Foods, principal rival da Beyond, fundada em 2011, também teve um maio glorioso. Recebeu uma rodada de investimentos de US$ 300 milhões que teve a participação do bolso de gente como Bill Gates, Serena Williams e Jay-Z. Mesmo antes de abrir capital – o que, segundo seu CEO, David Lee, não é prioridade –, a empresa atingiu valuation de US$ 2 bilhões. Outro grande empurrão para a Impossible foi sua parceria com a rede de restaurantes Burger King, que já tem em algumas de suas unidades dos EUA o seu carro-chefe, o lanche Whopper, feito com hambúrguer totalmente vegetal.
“Cerca de 60% das pessoas no mundo já estão diminuindo a quantidade que consomem de carne animal. No Brasil são 30%. E o flexitarianismo [dieta vegetariana flexível, onde ainda se consome carne mas com frequência bem menor] não para de crescer”, afirma o consultor André Rodrigues, da Loudtt, consultoria especializada no mercado de food & beverage. O processo de fabricação da carne plant based é menos demorado e gasta menos recursos (inclusive naturais). Com o crescimento da escala de consumo e produção, ela tende a ser mais barata que a carne bovina em pouco tempo.
Em solo brasileiro, já são quatro players produzindo hambúrgueres feitos totalmente de plantas – e que levam muita tecnologia em sua receita. A primeira a ganhar os holofotes foi a Fazenda Futuro, fundada por Marcos Leta, também conhecido como criador da marca de sucos Do Bem. “Em 2017, investimos na Good Catch [fabricantes de atum vegetal] para entender mais do processo e da tecnologia. No fim de 2018, chegamos à primeira versão do Hambúrguer do Futuro. Estamos desenvolvendo mais produtos. Cada projeto começa com o estudo da formação dos alimentos – como no caso do hambúrguer: a parte proteica, lipídica e de aminoácidos”, conta Leta.
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A Fazenda Futuro também posicionou seu produto no varejo, em supermercados como Pão de Açúcar e St Marche – onde a carne vegetal fica ao lado da carne bovina. “É fácil notar que as pessoas que compram o produto são carnívoras. Criamos a marca para concorrer com os frigoríficos”, afirma Marcos Leta. “As pessoas querem ter alternativas. Existe a questão de ser mais saudável e também a do sacrifício do animal. Hoje todas as opções são colocadas em uma balança.” A Futuro está trabalhando na versão “2.0” de seu hambúrguer vegetal. Além disso, já no segundo semestre deste ano todas as lojas da rede Spoleto terão essa opção no seu maior sucesso de vendas, o macarrão à bolonhesa, e também nas almôndegas (desenvolvidas a quatro mãos).
SANGUE SINTÉTICO
“Nossa carne é feita com um blend de dois tipos de batatas, jaca, goma xantana e proteína isolada de soja. A parte líquida, que imita o sangue, leva extratos naturais de beterraba e urucum”, explica Mendes. Em breve, um diferencial será acrescentado ao produto: a leghemoglobina, idêntica à molécula de hemoglobina, mas produzida em laboratório pela junção dos DNAs de uma bactéria e de uma planta leguminosa. Esse “sangue sintético” vai aproximar ainda mais o cheiro, o aspecto e o sabor da carne vegana ao da carne animal.
A Superbom, que há 94 anos trabalha na criação de comida vegetariana e saudável, também correu para se atualizar e não ficar fora do promissor mercado de carne vegetal. “Começamos nosso projeto há três anos, e passamos a desenvolver produtos plant based à base de proteína de ervilha”, diz Cristina Ferreira, diretora de P&D da empresa. O resultado da engenharia de alimentos da Superbom foi um hambúrguer “com 15 gramas de proteína, uma cadeia de aminoácidos muito boa e praticamente metade de gordura”, segundo Cristina. “Adicionamos algumas vitaminas, como a B12, na composição.” A linha à base de plantas já representa 35% do faturamento da empresa.
A poderosa Seara também parece estar mudando seu posicionamento de “maior processadora de carnes do mundo” para “maior processadora de proteínas do mundo”. O primeiro passo: o lançamento do Incrível Burger, feito de soja, beterraba, trigo, alho e cebola. No Brasil, o produto chegou ao consumidor final no fim de maio. Em junho, foi a vez da Nestlé de anunciar seu hambúrguer feito de plantas, comercializado inicialmente em 1.500 unidades do McDonald’s na Alemanha.
“O futuro dos alimentos será construído no reino vegetal, por força do aumento da população, da maior consciência das pessoas e dos problemas ambientais gerados pela produção de proteína animal”, conclui o consultor André Rodrigues. A carne vegetal está deixando de ser nicho para ser protagonista.
COMIDA FEITA DE ALGORITMOS
“Há uma desconexão imensa entre o que achamos que estamos comendo e o que de fato estamos”, avalia Matias Muchnick, CEO e fundador da foodtech NotCo (The Not Company). Sua startup, fundada em 2015 no Chile, junto dos sócios Pablo Zamora e Karim Pichara, está basicamente hackeando os alimentos para criar alternativas vegetais. O processo é feito com o uso de um algoritmo próprio, dotado de inteligência artificial e batizado de Giuseppe, que combina diversos produtos a partir de plantas com o objetivo de reproduzir perfeitamente o sabor, a textura e a consistência dos produtos de origem animal.
A última rodada de investimentos da NotCo levantou US$ 3 milhões, vindos de fundos como The Craftory, Kaszek Ventures (fundada pelos antigos proprietários do Mercado Livre) e Maya Capital (que tem entre as sócias Lara Lemann, filha de Jorge). A Indiebio, aceleradora de biotecnologia do Vale do Silício, já havia investido também.
Os próximos lançamentos serão sorvete, leite e – para não perder o bonde – hambúrguer. “A carne feita de plantas tem que ser perfeita”, diz Muchnick. “Só assim as pessoas mudarão seus hábitos de consumo”, completa.
Reportagem publicada na edição 69, lançada em julho de 2019
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